8 de abr. de 2010

Ciência Hoje

A antimatéria e o universo (17/03/2010)
Cerca de oito décadas depois da detecção da primeira antipartícula, os físicos ainda se perguntam: por que o universo observado atualmente tem somente matéria? Por que a antimatéria desapareceu? Este artigo da CH 268 procura responder a essa pergunta.
Por: Ignacio Bediaga


Representação artística de um foguete fictício com sistema de propulsão por antimatéria (arte: Nasa).


Uma diminuta quantidade de antimatéria é roubada do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN). Objetivo: usá-la para destruir o Vaticano. Esse é o mote de Anjos e demônios, do escritor norte-americano Dan Brown, também autor do sucesso Código da Vinci. O livro – transformado recentemente em filme – é apenas uma das repercussões artísticas de uma grande descoberta da física: a existência da antimatéria, tema ainda hoje intensamente debatido na comunidade científica.
No inicio do universo, matéria e antimatéria foram criadas na mesma proporção. Basicamente, para cada partícula havia sua antipartícula correspondente, ou seja, para cada elétron foi criado um pósitron; para cada quark, um antiquark e assim por diante. Esse cenário dominou o universo logo depois da ‘explosão’ primordial, comumente denominada Big Bang.
Quando uma partícula encontra sua antipartícula correspondente (um elétron interage com um pósitron, por exemplo), as duas se aniquilam, transformando-se em energia. Esta, por sua vez, se transforma, de novo, em um par de matéria e antimatéria. Essa ideia, baseada nas atuais teorias das partículas elementares (reunidas no chamado modelo padrão), nos permite criar uma imagem dinâmica daquele cenário inicial: um imenso movimento frenético de criação e aniquilação, envolvendo bilhões de bilhões de pares de partícula e antipartícula. Tudo isso a temperaturas altíssimas, expressa por números com cerca de 30 zeros.
Depois de passar por um período de expansão muito rápida, o universo esfriou com mais intensidade, e o processo de criação de matéria e antimatéria ficou dificultado. A aniquilação passa a dominar completamente o cenário: a energia (luz) criada nesse momento paira até hoje no universo. Denominada radiação cósmica de fundo, ela pode ser entendida como um ‘eco’ daquele cenário inicial.
Décimos de milésimos de segundo depois do Big Bang, parte das partículas, os quarks, passa a se combinar, formando os bárions (compostos por três quarks, como os prótons e os nêutrons) e os mésons (um par quark-antiquark). Formaram-se também os antibárions, como antiprótons e antinêutrons. Léptons e antiléptons (elétron, múon, tau, neutrino e suas respectivas antipartículas) ainda seguem se movimentando livremente.
Nós, humanos, temos nossa origem naquela mínima fração de matéria que sobreviveu no início do universo
Matéria e antimatéria continuam se aniquilando furiosamente. Átomos – e antiátomos – têm ainda dificuldade em se formar, em função do alto estado de agitação de seus componentes básicos (elétrons e quarks; pósitrons e antiquarks).
E aqui nossa história começa a ficar mais interessante. Uma pequena parte da matéria sobrevive a esse processo de aniquilação. É essa porção ínfima que hoje forma todo o universo conhecido, com bilhões de galáxias, cada uma com bilhões de estrelas, com planetas e todo o resto. Portanto, nós, humanos, temos nossa origem naquela mínima fração de matéria que sobreviveu no início do universo.
Após este preâmbulo, surgem duas perguntas:
i) O que é a antimatéria?
ii) O que aconteceu com a antimatéria do universo?
Sabemos a resposta para a primeira. Mas ainda não temos como responder à segunda, embora experimentos que começam agora prometam resultados que talvez nos ajudem a entender essa questão.
Ignacio Bediaga
Coordenação de Física experimental de Altas Energias (Lafex)
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (RJ)



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Revista Pesquisa Fapesp

A transformação dos óvnis

Os Arquivos Nacionais da Grã-Bretanha liberaram para análise de especialistas e do público leigo um novo lote de 6 mil páginas de documentos que incluem relatos de supostas aparições de objetos voadores não identificados entre 1994 e 2000. Segundo a agência BBC, pesquisadores que avaliaram o material dizem que o alegado formato dos óvnis mudou em relação ao declarado em décadas anteriores e a explicação pode estar nas representações da cultura popular para tais objetos. Vários relatos no último lote de documentos – o quinto de um projeto de três anos para a liberação de arquivos – descrevem as supostas naves como grandes, negras, triangulares e com luzes nas pontas. Nas décadas de 1940 e 1950, o formato predominante era de disco. “No período coberto pelos mais recentes documentos liberados, bombardeiros americanos de formato triangular e aviões espiões Aurora apareciam muito na TV, assim como em programas como Arquivo X. As referências de aparições de óvnis são semelhantes”, diz David Clarke, professor da Universidade Hallam Sheffield.

Ciência Hoje

15/03/2010

Calamidades

Como o pensamento social deve lidar com catástrofes como os terremotos recentes no Haiti e no Chile? Na CH de março, Renato Lessa resgata as lições aprendidas com Voltaire no terremoto de Lisboa no século 18 e reflete sobre essa questão.
Por: Renato Lessa

Edifício destruído pelo terremoto de 27 de fevereiro de 2010 na cidade de Concepción, no Chile (foto: Claudio Núñez).
Em 1942, o sociólogo russo Pitirim Sorokin (1889-1968) publicou um livro premonitório. Men and Society in Calamity pretendeu convencer seus possíveis leitores da necessidade da criação de um novo campo disciplinar – a calamitologia –, ângulo de observação urgente e mais do que adequado aos tempos que corriam.
O terremoto ocorrido no Haiti em janeiro último repõe de modo brutal a advertência de Sorokin. O silêncio dos meios de comunicação, passadas algumas semanas da tragédia, induz a pensar que a vida, ao fim e ao cabo, voltou a seu curso normal. Talvez seja-nos impossível mesmo imaginar que, ao fim e ao cabo, a vida não retorne a seu curso normal.
Calamidades significam suspensão abrupta de sistemas de regras e a precipitação no abismo da indeterminação
Os humanos, a par de sua enorme capacidade de invenção e diversificação cultural, podem ser definidos como animais que criam e seguem regras. A orientação para o ordenamento das coisas sempre esteve associada a um esforço para fazer com que a vida tenha um mínimo de sentido e previsibilidade. Mesmo revolucionários empedernidos e inimigos da tradição cultuam tradições revolucionárias. A própria linguagem, ao fixar uma relação regrada entre nomes e coisas, atesta uma vontade de ordem e de afirmação de sentido. Sempre há, portanto, a expectativa de que temos regras a seguir.
Calamidades significam suspensão abrupta de sistemas de regras e a consequente precipitação no abismo da indeterminação e, no limite, da impossibilidade da própria vida humana. Não surpreende, pois, o fato de que o tema das calamidades tenha tido impacto tão forte na configuração do pensamento moderno. De modo mais direto, algumas das reorientações filosóficas mais significativas, ocorridas no século 18, derivaram precisamente de uma reação intelectual e moral a uma calamidade idêntica à que ocorreu no Haiti.

Terremoto de Lisboa

O terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755, para além de seus efeitos devastadores, provocou forte impacto na agenda filosófica europeia. A cidade foi literalmente varrida por uma tripla catástrofe: um tsunami, um terremoto e um incêndio em toda sua parte baixa. Dois terços da cidade foram arrasados e apenas três mil de suas vinte mil casas originais mantiveram-se de pé.
O abalo no campo do pensamento não foi menor. O primeiro pensador a perceber que uma calamidade de tal monta exigia a revisão de formas vetustas e de pensamento foi o francês Voltaire (1694-1778). Em dois textos memoráveis, Poema sobre o desastre de Lisboa (1756) e Cândido (1759), ele voltou-se contra uma concepção de mundo, fundada nas temáticas da teodiceia e do otimismo, presentes em autores de enorme prestígio tais como o filósofo alemão Gottfried Leibniz (1646-1716) e o poeta britânico Alexander Pope (1688-1744).
Uma calamidade de tal monta exigia a revisão de formas vetustas e de pensamento, percebeu Voltaire
Trata-se de uma visão de mundo sustentada na crença numa harmonia entre todas as coisas, conectando Deus, natureza, razão humana e o problema do mal. O mundo, tal como existe, é o melhor dos mundos possíveis. Deus não o teria feito de outro modo. Não há lacunas na criação e os eventos do mundo estão conectados por uma necessidade férrea. Mesmo a ocorrência eventual do mal se inscreve nesse desenho concebido pela mão generosa de um criador onipotente.
Para Voltaire, essa perspectiva aparece como inaceitável, já que descura do fato do sofrimento humano, para ele uma realidade irredutível a qualquer justificativa. Com efeito, como compatibilizar o conto de fadas cosmológico, presente na teodiceia e no otimismo, com uma tragédia como a de Lisboa? A ‘demonstração’ de que o mal é um componente necessário da afirmação do melhor dos mundos possíveis e da economia geral do cuidado divino com o mundo não abole o fato do sofrimento humano, e é dessa perspectiva – a do sofrimento – que calamidades devem ser entendidas.
Com Voltaire aprendemos que a natureza é indiferente aos interesses humanos. O melhor dos mundos possíveis não está dado, como algo já inscrito para todo e sempre nas relações entre Deus, humanos e natureza, mas dependerá da capacidade humana de transformação, através da ação prática, do trabalho e da imaginação.
A calamidade do Haiti mais do que repor o tema da indiferença básica da natureza, exige que consideremos a seguinte pergunta: diante de destruição de tal escala, temos repostas capazes de indicar o que fazer para recompor a vida de coletividades assoladas pelo pior dos mundos possíveis?

Renato Lessa
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro,
Universidade Candido Mendes
e Universidade Federal Fluminense
rlessa@iuperj.br

Ciência Hoje

10/03/2010

Stonehenge brasileiro

Astrônomo mapeia sítio arqueológico no interior do Amapá e afirma que pedras monolíticas podem ser um grande calendário solar milenar.
Por: Bruna Ventura


O sítio arqueológico de Calçoene (AP) abriga pedras monolíticas estrategicamente
posicionadas no solo (foto: Marcomede Rangel)."

O sítio arqueológico da cidade de Calçoene, no interior do Amapá, pode ter sido um grande calendário solar construído por civilizações antigas há mais de mil anos. A afirmação é do físico Marcomede Rangel, do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, que vem estudando o local. Descoberto pelo naturalista Emilio Goeldi (1859-1917) no início do século passado, o sítio abriga pedras monolíticas estrategicamente posicionadas no solo.
Com ajuda de estudantes do curso de turismo do Centro de Educação Profissional do Amapá (Cepa), o físico mapeou o local e descobriu uma relação entre o sítio e o fenômeno natural do equinócio. “Uma das pedras é uma chapa de granito de 3 m com uma abertura no centro com cerca de um palmo de diâmetro. Há outra pedra direcionada justamente em relação a essa. Provavelmente, o sítio era usado pelos povos antigos para saber a época de plantio, colheita, chuva e seca”, diz.
O sítio era provavelmente usado pelos povos antigos para saber a época de plantio, colheita, chuva e seca
O equinócio acontece quando o Sol, visto da Terra, se desloca sobre a linha do Equador, nascendo a leste e se pondo a oeste. Essa passagem de um hemisfério a outro determina o início das estações primavera e outono, conforme o hemisfério. Durante o fenômeno, o dia e a noite têm a mesma duração.
Para Marcomede, os monumentos encontrados em Calçoene – comparáveis a Stonehenge, na Inglaterra, o mais conhecido círculo de pedras do mundo –, podem ter sido formas de homenagem aos deuses pagãos ou mesmo observatórios primitivos. “Já conseguimos saber que a luz do Sol é projetada pela abertura de uma das pedras, criando uma bola de luz, que vai bater em outra pedra. A bola de luz se desloca seguindo a linha do Equador”, conta o pesquisador.
O sítio de Calçoene ficou no esquecimento durante muito tempo. Somente em 2005, o ‘Stonehenge brasileiro’ despertou o interesse do governo do Amapá, quando foi catalogado e cercado, sendo estudado por arqueólogos do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa).
Pesquisas apontaram uma relação das construções com o solstício de inverno, momento em que o Sol está mais afastado do Equador, em cima do trópico de Capricórnio. Marcomede espera encontrar novos elos entre o sítio e fenômenos astronômicos: “Com os dados obtidos, confeccionaremos um mapa das constelações para encontrar outras relações com estrelas brilhantes e a Lua”, finaliza o físico.

Revista Pesquisa Fapesp

19/03/2010

De olho no céu
Um balanço positivo

O Brasil superou quase todas as metas no Ano Internacional da Astronomia 2009 e foi responsável por um terço dos eventos gratuitos realizados no mundo.
© Divulgação
Cerca de 2,2 milhões de pessoas participaram de eventos gratuitos do Ano Internacional da Astronomia no Brasil
Cerca de 2,2 milhões de pessoas participaram de
eventos gratuitos do Ano Internacional da
Astronomia no Brasil


Nesta semana, está sendo realizada a conferência mundial para avaliação do Ano Internacional da Astronomia 2009 (IYA2009, na sigla em inglês) na Cidade do Cabo, na África do Sul. Com relatos de 35% dos países contabilizados, o número de participantes, de forma presencial, em eventos gratuitos foi de 71,3 milhões pessoas em 16.600 atividades. Foram investidos 10,5 milhões de euros no IYA2009, do qual participaram 148 nações, oferecendo um leque de eventos e atividades com participação de público nunca vista antes.

No Brasil, todas as nossas metas foram superadas, menos a do "número de pessoas que observaram os astros através do telescópio", que foi prejudicada devido ao clima. O ano passado foi o mais chuvoso desde 1947! Mesmo assim, 295.356 pessoas no Brasil tomaram parte em 2.477 eventos de observação com telescópios, aproximadamente 1/3 do esperado. Aqui o Ano Internacional da Astronomia 2009 deixa como herança a Rede Brasileira de Astronomia (RBA), cujo objetivo é dar continuidade à divulgação dessa ciência de forma integrada.

Veja abaixo os grandes números do Ano Internacional da Astronomia 2009 no Brasil:

Número gerais

- Pessoas que compareceram a eventos gratuitos: 2.200.226 (3% do total mundial).
- Eventos gratuitos: 5.557 (36% do número mundial).
- Pessoas que trabalharam nos Nós Locais: 1.892.
- Nós Locais da rede no Brasil: 229, em todas as unidades da federação.
- Nós Locais que reportaram atividades: 192.
- Visitantes ao site http://www.astronomia2009.org.br/: 593.318.

Programas especiais

- XII Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA): participação de 858.157 estudantes, 74.555 professores, 10.303 escolas.
- Exposição "Paisagens Cósmicas": 250 exemplares da mostra foram levados a 660 locais e tiveram 569.657 visitantes.
- Observações telescópicas: 295.356 pessoas em 2.477 eventos.
- Painel "Universo em Evolução": exposto em 660 locais com 140.000 folhetos explicativos.
- Multievento "Um corpo no Espaço": 100.000 visitantes em 44 dias no Sesc Pompéia, em São Paulo.
- 25.000 kits didáticos (relógio solar, relógio estelar) distribuídos para escolas.
- 35.000 DVDs “De Olho no Céu” distribuídos entre os Nós Locais, escolas e público geral, com milhares de exibições públicas. O filme também pode ser visto no site de Pesquisa FAPESP.
- 3 Encontros Regionais de Ensino de Astronomia (Foz do Iguaçu, Bauru e Sobral).
- Centenas de palestras (40 títulos no balcão de palestras), cursos, apresentações de teatro, dança e música.
- Centenas de sessões gratuitas de planetário, fixos e móveis.
- Programa "Maratona da Via Láctea" visando recuperar a escuridão do céu noturno e racionalizar o uso da energia elétrica (Noites sem luar - julho/outubro de 2009).
- Programa "Noites Galileanas" na semana Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) para o público repetir as observações telescópicas feitas por Galileu há 400 anos.

Destaques

- Evento mundial "100 Horas de Astronomia" (02 a 05 de abril de 2009) - prêmio internacional agraciado ao grupo CEAAL (Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas) por ter realizado o maior número de atividades.
- Evento mundial "Noites Galilelianas" (22 a 24 Outubro 2009).
- Categoria maior número de eventos registrados por um único grupo.
Vencedor: Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas (CEAAL) com 29 eventos. Menção honrosa: Universidade Federal de Alfenas, Campus Poços de Caldas, com 11 eventos.
- Categoria maior número de público em um único evento. Vencedor: "Exposição de Telescópios" pelo Clube de Astronomia de Brasília (CAsB) com mais de 16.500 pessoas. Menção honrosa: "Paisagens Cósmicas" pelo Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas (CEAAL), com 15.000 visitantes.
- Categoria divulgação na comunidade. Vencedor: Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas (CEAAL), que percorreu 5 cidades.

Ações em curso em 2010

- XIII Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).
- Edição de três livros: O Fascínio do Universo (20.000 exemplares), Questões da OBA (10.000 exemplares) e Astronomia na Ciência Hoje (10.000 exemplares).
- Distribuição de 20.000 lunetas galileanas para escolas que participam da OBA.
- Telescópios robotizados com câmaras CCD para 80 IFET (Instituto Federal de Educação Tecnológica).
- Realização de dois EREA (Encontro Regional de Ensino da Astronomia) e um ENEA (Encontro Nacional de Ensino de Astronomia).
- Criação da Rede Brasileira de Astronomia (RBA), herança da rede IYA2009.
Mais detalhes podem ser obtidos nos sites http://www.astronomia2009.org.br/ e http://www.astronomy2009.org/.

Folha de S.Paulo

28/03/2010
+(c)iencia
Ora, direis, ouvir ETs!

Busca por inteligência extraterrestre completa 50 anos sem sucesso, mas sem perder o ânimo, e se volta para a iniciativa privada para sobreviver; radiotelescópios em construção nos EUA são nova arma do programa Seti.

The Allen Telescope Array
Antenas já construídas da Allen Telescope Array, em Hat Creek, Califórnia; Paul Allen, cofundador da Microsoft, deu US$ 25 milhões para o projeto, uma rede de 350 radiotelescópios.

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o astrônomo Frank Drake, 79, fala da Allen Telescope Array -a rede de 350 radiotelescópios em construção no norte da Califórnia por US$ 50 milhões- dá risada ao se lembrar do que estava fazendo há exatos 50 anos. Naquela época ele inaugurou a linha de pesquisa para a qual o projeto foi concebido: a busca de sinais enviados por extraterrestres.
Em 1960, Drake trabalhava no Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA, e em 8 de abril apontou seu equipamento para o céu pela primeira vez na esperança de ouvir uma transmissão de rádio enviada por ETs. Usando um único radiotelescópio de 26 metros, de propriedade do laboratório, ele conta como era seu equipamento auxiliar.
"Usávamos um radiorreceptor amador Hammerland, registrávamos nossos dados com papel e caneta e deixávamos a postos um gravador de fita de rolo Will & Tuck, para que gravássemos os sons dos extraterrestres e suas saudações, caso nos deparássemos com eles", conta. "Tudo isso custou US$ 2.000, o máximo que podíamos gastar sem alguém do Congresso dos EUA reclamar que estávamos desperdiçando dinheiro dos contribuintes."
O relato acima é a versão que Drake, hoje professor emérito da Universidade da Califórnia, apresentou em fevereiro deste ano em San Diego no encontro anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência) sobre a história. A entidade havia preparado um simpósio especial em antecipação às comemorações do cinquentenário do Projeto Ozma, nome do programa inaugural da linha de pesquisa que os astrônomos chamam hoje de Seti (sigla em inglês para busca de inteligência extraterrestre).

Comemoração tímida
Esse aniversário, porém, acabou adquirindo um tom meio melancólico: cinco décadas depois, como sabemos, o Seti ainda não achou nenhum sinal enviado por ETs. E não foi por falta de dedicação. Durante sua história, o projeto contou com centenas de horas de busca nos melhores radiotelescópios. Um deles foi o do Observatório de Arecibo, em Porto Rico, usado também para enviar uma mensagem a possíveis ETs.
O silêncio dos extraterrestres, por fim, acabou por suscitar uma discussão entre os cientistas sobre se o tipo de sinal que os telescópios esperavam achar -similares a uma transmissão de TV- não seriam fracos demais para serem detectados após viajarem uma centena de anos-luz. Há alguns anos, Drake começou a investigar os fortes sinais de radares militares para aprender a achar outros parecidos no cosmo.
"Visitei no ano passado as instalações de um radar militar no Alasca", conta o pesquisador, que diz tê-lo feito sem autorização. "Entrei lá de carro carregando um analisador espectral, tirei-o do porta-malas, montei-o, comecei a trabalhar, e ninguém veio me perguntar o que eu estava fazendo. Eu achava que ia ser preso."
A despeito do espírito aventureiro de Drake, outros pesquisadores acham que não vale mais a pena procurar por esse tipo de sinal nos projetos de Seti. Alguns já estão deixando de lado a busca por mensagens de rádio e esperam encontrar flashes luminosos enviados intencionalmente pelos ETs.
Paul Horowitz, da Universidade Harvard, em Cambridge, Massachusetts, montou um equipamento no observatório da instituição com esse fim específico. Para ele, a falta de resultado das iniciativas de Seti durante cinco décadas não é motivo para pessimismo.
"Para decidir se devemos ser otimistas ou pessimistas, a pergunta que importa é se os tipos de busca que estamos fazendo agora têm a capacidade de ter sucesso", disse o astrônomo à Folha. Segundo ele, o maior ânimo para o projeto agora, na verdade, vem de outro campo de pesquisa da astronomia: a caça de planetas extrassolares.
"A descoberta de centenas de planetas em volta de outras estrelas não era uma proposição óbvia dez anos atrás", diz. "Agora que sabemos que a natureza adora produzir planetas, devemos ficar mais otimistas."

A volta do dinheiro

Horowitz também comemora que as iniciativas de Seti têm conseguido se recuperar do golpe que receberam em 1992, quando a Nasa deixou de patrocinar trabalhos. Agora, os projetos precisam buscar financiamento privado, mas não têm tido problema nisso. A Allen Telescope Array, por exemplo, recebeu esse nome porque metade do seu custo é bancada pela fundação de Paul Allen, cofundador da Microsoft.
Na busca óptica, o barateamento das tecnologias também ajudou. "Aqui em Harvard, não gastamos mais do que US$ 30 mil por ano no Seti", diz Horowitz, que já fora criticado pelo biólogo Ernst Mayr, cético sobre a vida extraterrestre, por gastar dinheiro da universidade. "Hoje, há pessoas que entendem do que se trata nosso trabalho, acreditam na busca e estão dispostas a patrocinar."
Projetos ambiciosos como os defendidos por Drake, porém, dificilmente vão emplacar sem dinheiro da Nasa. Um deles é construir um radiotelescópio na face oculta da Lua, livre de poluição eletromagnética. Pobres ou ricos, porém, cientistas do Seti ainda não sabem responder à pergunta que os patrocinadores mais costumam fazer: quando os ETs serão encontrados?
"Frank dizia que seria no ano 2000. Em 1999, conversei com ele sobre isso, e ele pareceu meio tímido", conta Horowitz. "É impossível dizer quando vai acontecer, mas vai acontecer, e vai ser monumental. O que devemos fazer, por enquanto, é continuar explorando."
Mesmo sem saber sua chance de sucesso, ele diz estar pronto para esse dia. "Alguém já deixou uma garrafa de champanhe aqui no laboratório, mas ela ainda está fechada."

Folha de S.Paulo

07/04/2010

"GPS" russo busca parceria com empresas brasileiras

O Glonass, criado na Guerra Fria, está perto de ser completado, afirma agência Rússia vê chance de criação conjunta para usos como monitoramento de estradas e transporte urbano; sinal promete ser mais "aberto".

25.set.2008/Associated Press
Foguete russo Proton decola evando um dos satélites Glonass

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma alternativa russa ao GPS (Sistema de Posicionamento Global), que ficou abandonada com o fim da Guerra Fria e agora está ressurgindo das cinzas, foi apresentada a empresários brasileiros como uma oportunidade para novos negócios, em reunião organizada ontem pelas agências espaciais do Brasil e da Rússia.
O Glonass, como é conhecido o GPS russo, já tem 21 dos 24 de seus satélites previstos em funcionamento e deve chegar ao final deste ano com capacidade de operação praticamente completa. A delegação da Roscosmos (a agência russa) defendeu durante o encontro em São Paulo que há espaço para a cooperação com empresas brasileiras na criação de aplicações do sistema, como monitoramento de estradas, controle de tráfego urbano e otimização de atendimento de emergência.
"Na Rússia, as colaborações com a indústria são, na melhor das hipóteses, PPPs [parcerias público-privadas]", diz Raimundo Mussi, coordenador técnico-científico da AEB (Agência Espacial Brasileira). "Aqui, a chance deles de trabalhar com a iniciativa privada para valer é muito maior, e as nossas empresas têm capacitação para isso", afirma Mussi.
Embora o GPS seja um sistema estabelecido e usado largamente mundo afora, há argumentos estratégicos para não excluir a utilização de sistemas alternativos, como o Glonass e o europeu Galileo (esse, ainda relativamente incipiente, só deve entrar em operação a partir de 2014). "No caso do GPS, nós não temos a chave", diz Mussi, referindo-se ao fato de que, por ser gerido pelas Forças Armadas dos EUA, o sistema americano pode, em tese, sofrer alterações por causa de necessidades militares.
"Durante a invasão do Iraque, foi possível sentir problemas com o GPS", lembra Cileneu Nunes, representante da empresa de rastreamento Zatix, que compareceu ao encontro e se disse "bem impressionado" com as propostas russas.

"Cru"
"Estive em Moscou há três anos, quando o sistema ainda estava muito cru. Eles avançaram muito", afirma Nunes.
Na tentativa de tornar seu sistema mais sedutor, os russos também planejam oferecer, de graça, a resolução mais apurada de rastreamento, na escala de decímetros (décimos de metro). "Pode não fazer diferença numa estrada, mas faria diferença para você estacionar, por exemplo", diz Mussi. Segundo ele, o GPS não libera essa precisão para uso civil, e os europeus planejam fazê-lo apenas para os usuários que pagarem. Além disso, ter sistemas que "falem" com mais de uma rede de navegação "aumenta a confiabilidade, porque mais satélites "enxergam" você", lembra Fernando Walter, do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).
Gilberto Câmara, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), diz que considera baixa a chance de que surjam restrições ao uso do sinal do GPS para o Brasil. "Também é preciso lembrar que tecnologias como as dos smartphones vêm dos EUA e usam o GPS. Portanto, o desenvolvimento de novos produtos com o Glonass teria de levar isso em conta", afirma Câmara.

Folha de S.Paulo

04/03/2010

Asteroide acusado de extinguir os dinossauros é inocentado

RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O principal suspeito de ter sido o asteroide que levou os dinossauros à extinção acaba de ser inocentado do crime. A defesa foi apresentada por uma dupla de astrônomos do Rio.
O trabalho que eles contestam ganhou projeção em 2007. Na época, um trio internacional propunha um culpado pelo extinção dos dinos, há 65 milhões de anos. Relacionaram o episódio com outro muito anterior, de 160 milhões de anos, quando um asteroide gigante se chocou com outro entre as órbitas de Marte e Júpiter.
A trombada resultou em várias lascas voando para todos os lados -a família Baptistina de asteroides. Uma delas teria vagado por 95 milhões de anos pelo Sistema Solar antes de se chocar com a Terra.

"Sem chance"
Mas o novo estudo mostra que "não tem nenhuma chance de ter sido ele", segundo Jorge Carvano, astrônomo do ON (Observatório Nacional).
Ele observou, com Daniela Lazzaro, também do ON, o 298 Baptistina, que é o "asteroide pai", do qual as lascas foram arrancadas. Medindo quanta luz ele reflete (o albedo), souberam mais sobre as suas características e compararam-nas com as do objeto que atingiu a Terra, levantou uma nuvem de poeira que causou as extinções e deixou como vestígio a cratera de Chicxulub (México).
Os dados não batiam. "Existem materiais que refletem menos luz, como carvão, e menos, como gelo. O albedo não permite que se diga exatamente qual a composição do asteroide, mas dá para afirmar que ela não bate com a do objeto que se chocou com a Terra", afirma Carvano.
O asteroide que caiu no México refletia pouca luz (albedo baixo). O 298 Baptistina, muita (albedo alto). Os resultados serão publicados na revista científica "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society".
"O grupo do estudo de 2007 não faz observação. É um grupo que faz pesquisa teórica [ou seja, modelos matemáticos], eles levantaram hipóteses bastante forçadas", diz Carvano.
Além disso, em uma escala de milhões de anos, o albedo influencia o movimento do objetivo, por causa das forças que são criadas pela interação com a luz do sol. "[O grupo de 2007] não sabia qual era o albedo e assumiu um valor errado." Ou seja, a lasca apontada como culpada deve ter feito um caminho bem diferente do imaginado.
A origem do objeto que acertou a Terra volta, então, a ser uma dúvida. "Pode até ter sido um cometa", diz Carvano.

Começam os preparativos para Semana Nacional de C&T 2010

A Ciência para o Desenvolvimento Sustentável é o tema da 7ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) de 2010. Organizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o evento se realiza de 18 a 24 de outubro, em mais de 500 municípios. Nesta quinta-feira (8), coordenadores das atividades estaduais e do MCT se reuniram pela primeira vez, em Brasília, para discutir os preparativos da SNCT.
Participaram o diretor do departamento de Difusão e Popularização do Ciência (DDPC/MCT), professor Ildeu de Castro Moreira, representantes de universidades e coordenadores do Amazonas, Goiás, Piauí, Espírito Santo, Alagoas, Pernambuco, Maranhão, Pará, Paraná, Acre, Bahia, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Rondônia e São Paulo.
O objetivo da SNCT é mobilizar a população, principalmente crianças e jovens, em torno de temas e atividades de Ciência e Tecnologia. As atividades são gratuitas e promovidas por universidades, instituições de pesquisa, parques ambientais, zoológicos, museus, jardins botânicos e Organizações Não Governamentais (ONGs). Tendas de ciência em praças públicas, palestras, excursões científicas e feiras fazem parte da programação.
Alcançar um número maior de municípios participantes da SNCT é o desafio dos coordenadores. Para a gestora de políticas públicas da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), Vasti Quintana, o tema desta edição favorece as atividades no Acre, uma vez que o estado tem uma forte política de desenvolvimento sustentável. “Pretendemos levar universitários ao máximo de escolas municipais de ensino fundamental para disseminar, de forma lúdica, questões relacionadas ao meio ambiente e a sustentabilidade”, disse ela.
Os coordenadores de Minas Gerais também querem expandir o evento para mais municípios. A coordenadora do Programa de Popularização de C&T, da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Ensino Superior (Sectes), Maria das Graças Rodrigues Brant, espera a participação de metade das 853 cidades mineiras. De acordo com ela, o número de municípios participantes tem aumentado nos últimos eventos. Em 2009, participaram 90 cidades, número três vezes maior que o de 2008, quando participaram apenas 30 municípios.
Os debates da SNCT serão focados na preocupação em associar crescimento econômico à proteção do meio-ambiente, à preservação da vida e à melhoria da qualidade de vida das pessoas. De acordo com o professor Ildeu, as atividades estimularão a discussão de estratégias de se utilizar os recursos naturais e a rica biodiversidade nacional de forma sustentável e conjugada com a melhoria das condições sócio-econômicas da população.

Seminário abre o ano de cooperação entre Brasil e Alemanha

A abertura do Ano Brasil-Alemanha da Ciência, Tecnologia e Inovação será na próxima segunda-feira (12), às 14h30, no Centro de Convenções do Sheraton São Paulo Hotel. Participam do evento o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, a ministra da Educação e Pesquisa da Alemanha, Annette Schavan, e o diretor do Instituto Alemão de Pesquisa para o Desenvolvimento, Dirk Messner.
No mesmo dia se realiza o Seminário Brasil e Alemanha na Era do Conhecimento e Inovação.
O objetivo da iniciativa é intensificar a cooperação científica e tecnológica, com especial ênfase na promoção da inovação e do desenvolvimento sustentável, assim como divulgar o potencial dos dois países como locais propícios para a inovação.

BLOG CIÊNCIA MALUCA

http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/


Estudantes preferem universidades em cidades nubladas

07 Abr 2010 09:13

“Pra onde não tenha Sol... é pra lá que eu vou...”

Um pesquisa feita com 1284 visitantes da Universidade de Pensilvânia revelou que que estudantes que visitam a universidade pela primeira vez em um dia nublado tem 9% mais probabilidade de se inscrever nela do que aqueles que a visitam em um dia de sol.

Segundo o coordenador da pesquisa
, professor Uri Simonsohn, a escolha em dias nublados reflete uma preferência dos estudantes: a de fazer seus deveres de casa em dias mais amenos e sair para se divertir em dias de sol. Essa associação, então, faz com que os alunos relacionem as universidades visitadas em dias nublados com o mundo acadêmico, e não com a diversão, e por isso, acabam o optando por se inscrever.

Será que no Brasil isso ia rolar, hein?

Folha de S.Paulo


04/04/2010
+MARCELO GLEISER

A "máquina do Big Bang"
LHC pode ajudar a separar a ficção dos fatos, o objetivo da ciência

Bem, não é exatamente a máquina do Big Bang, mas chega perto. Semana passada, físicos de dezenas de países trabalhando no Cern (Centro Europeu de Física Nuclear) conseguiram colidir prótons a velocidade próxima à da luz.
O Grande Colisor de Hádrons (LHC), a maior máquina já construída na história da civilização, consiste em um túnel circular de 27 km de circunferência, enterrado 100 metros no subsolo. Feixes de prótons viajam nos sentidos horário e anti-horário, e são forçados a colidir através da ação de magnetos extremamente potentes. As colisões literalmente transformam energia em matéria, de acordo com a famosa equação E=mc2: a energia de movimento dos prótons é transformada em inúmeras partículas, os tijolos fundamentais da matéria. Por isso, os físicos tentam atingir energias cada vez mais altas: quanto maior a energia de movimento, mais pesadas as partículas que podem surgir da colisão.
O LHC acaba de quebrar o recorde de energia, alcançando o incrível valor de 7 trilhões de elétron-volts, equivalente à energia armazenada na massa de 7 trilhões de prótons. Seu concorrente, o Tevatron do laboratório americano Fermilab, atinge "apenas" 1 trilhão de elétron-volts.
As energias atingidas são equivalentes às que existiam a um trilionésimo de segundo após o Big Bang. Daí a qualificação de máquina do "quase" Big Bang. Incontáveis teses de doutorado e carreiras inteiras foram dedicadas à sua construção, que levou 16 anos e custou US$ 10 bilhões. A esperança é que os dados que serão produzidos pelo LHC resolvam alguns dos mistérios mais profundos da física atual. (E gerem muitas aplicações tecnológicas.) A lista de resultados ansiosamente aguardados é extensa, mas eis os mais importantes, em ordem crescente de especulação:
1) Encontrar a partícula de Higgs, que supostamente dá massa a todas as outras partículas que existem, do familiar elétron aos menos familiares quarks. (Claro, ainda não saberemos como o Higgs ganha a sua massa, mas esta é uma outra questão...) Se o Higgs for encontrado, confirmará teorias propostas há mais de 40 anos. Se não for, tornará a existência de massa ainda mais misteriosa, o que é uma possibilidade mais interessante.
2) Encontrar partículas de matéria escura. Matéria escura, como diz o nome, não produz luz. Alguns tipos de matéria ordinária, como planetas e pessoas, também são escuros, isto é, não brilham sozinhos. Mas a quantidade de matéria escura que inferimos existir no cosmo, cerca de 23% do total, é seis vezes maior do que a de matéria ordinária. Sabemos que existe, pois através da sua gravidade ela influencia a matéria que brilha, como galáxias e estrelas. O LHC pode encontrar o candidato mais popular para a matéria escura. Com isso, confirmaria também a existência da hipotética supersimetria, que dobra o número de partículas que existem, proposta 35 anos atrás. Iniciaria uma caça a essas partículas todas.
3) Dimensões extra. Teorias de unificação propõem que as quatro forças que vemos são manifestações de uma só. Em geral, são formuladas em espaços com mais de três dimensões. As supercordas, por exemplo, existem em 9 ou 10 dimensões . O LHC não encontrará essas dimensões, mas pode encontrar traços de sua existência. Dos itens acima, o primeiro provavelmente será resolvido. Os outros dois, ninguém sabe. Uma máquina como o LHC pode ajudar a separar a ficção dos fatos -e esse é o objetivo da ciência. Devemos ter a liberdade de imaginar hipóteses sobre o mundo.
Mas devemos também ter a humildade de aceitar o que a natureza está nos dizendo. Basta ouvi-la.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "Criação Imperfeita"