30 de abr. de 2013

Kepler surpreende de novo!

sex, 19/04/13
por Tadeu Meniconi






Saindo um pouco da pegada do Alma, quero falar dos últimos resultados do telescópio espacial Kepler.

Só para relembrar, esse telescópio, que tem 1,4 metro de diâmetro, está a bordo de um satélite constantemente apontado para mesma região do céu, as constelações de Lira, do Cisne e do Dragão. Sua missão é ficar observando milhares de estrelas durante meses a fio para buscar exoplanetas – como são chamados todos os planetas que ficam fora do nosso Sistema Solar –, mas não qualquer exoplaneta. A missão específica é identificar planetas do tipo rochoso, mais do que isso, planetas do tipo e do tamanho da Terra. Recentemente você acompanhou aqui no blog que o Kepler teve alguns problemas técnicos que foram superados e ele voltou a funcionar normalmente.

Observando a mesma região do céu por tanto tempo, a ideia é detectar a variação de brilho que ocorre quando um planeta passa em fronte a uma estrela. Não se tratam de eclipses, mas sim de trânsitos planetários. Essa é uma das técnicas de detecção de exoplanetas. Só que a variação de brilho observada pode ter outras origens, como manchas estelares, por exemplo. Por isso, essa técnica fornece apenas candidatos a exoplanetas, que devem ser confirmados posteriormente com técnicas mais apuradas, como o de velocidades radiais.

Com isso, o Kepler é o “caçador” de planetas mais bem sucedido da astronomia, com 2.740 candidatos relatados e 122 já confirmados.

Você viu aqui no G1, que na quinta-feira (18) um time de astrônomos usando dados do Kepler anunciou a descoberta de mais alguns exoplanetas, mas mais do que isso, anunciou a descoberta de um sistema planetário inteiro!

No entorno de uma estrela parecida com o nosso Sol, mas um pouco mais fria, chamada de Kepler 62, um sistema de quatro planetas foi descoberto, esses planetas foram batizados de Kepler 62 b, Kepler 62 c, Kepler 62 d e Kepler 62 e. Entretanto, numa segunda olhada nos dados, Eric Agol, da Universidade de Washington, percebeu que poderia haver mais um planeta nesses sistema. Usando uma técnica que ele mesmo havia desenvolvido, o planeta Kepler 62 f foi incluído nessa lista.

Desses planetas listados, b, c e d estão muito próximos da estrela hospedeira, podem até ser rochosos, mas é difícil de acreditar que não sejam mais do que verdadeiros planetas de magma. Mas a surpresa fica por conta dos planetas Kepler 62 d e Kepler 62 f.

Esses dois planetas, tudo indica, são rochosos e têm tamanhos compatíveis com o raio terrestre – na verdade são um pouco maiores. Em comparação com a Terra, os dois planetas recebem menos radiação e, portanto, são mais frios, mas estão na chamada “zona de habitabilidade”, uma região em torno da estrela em que a radiação incidente permite temperaturas para manter a água em estado líquido. A temperatura média calculada para Kepler 62 e é de -8º C e Kepler 62 f seria de -68º C. Esses valores são calculados levando-se em conta apenas a radiação proveniente da estrela, sem considerar que a presença de atmosfera daria uma temperatura maior por causa do efeito estufa. A Terra, por exemplo, não fosse a atmosfera, teria temperaturas médias de -18º C.

Fisicamente, com raios 1,61 e 1,41 vezes maiores que a Terra, Kepler 62 e e 62 f – respectivamente – são os planetas mais parecidos com a Terra já descobertos e por isso mereceram destaque na prestigiada revista “Science”. Mas mais do que isso, o mais legal é imaginar ter dois planetas rochosos muito parecidos, ambos com temperaturas capazes de manter água líquida no mesmo sistema planetário. Com essas condições, imagine a vida desenvolvendo-se simultaneamente e de forma independente logo ali no seu quintal! Mal comparando, seria como encontrar seres vivos em Vênus. Mas não os Incas venusianos, por favor!

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