8 de jan. de 2010

Folha de S.Paulo

08/01/2010

Ruy Martins Altenfelder Silva: Oscar Sala: o físico


No último dia 2 de janeiro morreu um dos mais respeitáveis cientistas brasileiros: o professor Oscar Sala

NO ÚLTIMO dia 2 morreu um dos mais respeitáveis cientistas brasileiros: o professor Oscar Sala, que nasceu em Milão em 26 de março de 1922 e naturalizou-se brasileiro, pois aqui desenvolveu sua brilhante carreira e construiu família.
Autor de inúmeros trabalhos originais publicados em revistas e jornais nacionais e estrangeiros, Oscar Sala exerceu desde 1945 o magistério superior, mantendo constante intercâmbio com centros de pesquisas físicas dentro e fora do Brasil e colaborando em missões científicas internacionais na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa. Algumas dessas missões estiveram ligadas à Agência Internacional de Energia Atômica, de Viena, para a discussão de temas nucleares. Foi professor catedrático de física nuclear da USP.
No início da carreira, Sala realizou pesquisas sobre interações nucleares, inclusive as observadas com raios cósmicos, desenvolvendo circuitos eletrônicos rápidos de coincidência.
Durante estágio na Universidade de Illinois, nos EUA, de 1946 a 1948, criou uma técnica para utilizar osciloscópios eletrônicos em inovações de vidas médias de nuclídeos isômeros. Essa técnica foi a repercussão de modernos instrumentos multicanais e continua em uso pelos pesquisadores daquela instituição.
Sala também participou do projeto e da construção, no Brasil, do acelerador eletrostático Van de Graaf, da USP, com 3,5 milhões de volts, no qual introduziu importantes inovações tecnológicas. O modelo foi adotado no injetor de íons do cosmotron de Bookhaven. O acelerador de São Paulo foi o primeiro a utilizar feixes pulsados para estudos sobre reações nucleares com nêutrons rápidos. No período, desenvolveu estudos correlatos com repercussão internacional.
A partir de 1970, Sala deu notável contribuição ao projeto do acelerador Pelletron, da USP, por cuja montagem e funcionamento foi responsável, introduzindo importantes modificações para torná-lo mais eficaz, preciso e confiável.
Além de participar de trabalhos desenvolvidos na USP, Sala também esteve presente em diversas outras instituições nacionais e internacionais. Participou ainda de grupos científicos sobre física nuclear em Varsóvia, em Tóquio e na Dinamarca.
Sala foi também um líder. Presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (1973-1979) e a Sociedade Brasileira de Física (1968-1971).
Foi membro de importantes instituições nacionais e internacionais e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
No conselho e na presidência da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Oscar Sala mostrou sua capacidade gerencial e desenvolveu relevantes trabalhos. Criou o Projeto Rede ANSP (ou Academia Network in São Paulo), como um projeto especial para atender a solicitação de interconexão das redes das três universidades estaduais paulistas, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas e da própria Fapesp.
De acordo com o saudoso mestre: "Visualizei a importância da comunicação que os cientistas teriam através daquele computador, a evolução que a ciência poderia ter, a rapidez com que as informações de outros países chegariam ao Brasil, e aí eu quis contribuir (...). A Fapesp foi muito importante nesse desenvolvimento.
Ela acertou a ideia de um sistema moderno e avançado, que se comunicava com todos. No início, acharam que era uma bobagem a minha ideia, mas aí eu fui lá e fiz a bobagem". Em 1981, Oscar Sala recebeu o Prêmio Moinho Santista (o Nobel brasileiro) destinado à física pela conquista dos seus trabalhos.
Foi casado com dona Rosa Augusta Pompiglio, com quem teve os filhos Luiz Roberto, Regina Maria e Tereza Cristina.
Oscar Sala deixou trabalhos importantes e é merecedor da homenagem e da saudade de todos os brasileiros.


RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA , 70, advogado, é presidente do Conselho Superior de Estudos Avançados da Fiesp e curador do Prêmio Fundação Bunge (antigo Moinho Santista). Foi secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo (governo Geraldo Alckmin).

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