Mais um indício forte de que a distinção entre ciência básica e ciência aplicada tem mais a ver com miopia histórica do que com qualquer outra coisa. Comecei a ler o livro Quantum, uma história do desenvolvimento da mecânica quântica escrito por Manjit Kumar, e logo no início o autor trata de contextualizar a origem da hipótese quântica — de que a energia não flui de forma contínua, mas se transmite em “pacotes” discretos, os quanta (plural de quantum).
Provavelmente todo mundo que se interessa, mesmo que de leve, pelo assunto já ouviu falar que o físico alemão Max Planck chegou à ideia do quantum de energia ao tratar do problema da radiação do corpo negro — isto é, de como um objeto que não reflete radiação nenhuma (e, portanto, é perfeitamente negro em baixas temperaturas) passa a emitir luz e calor à medida que é aquecido.
As versões mais resumidas da história simplesmente dizem que um belo dia Planck resolveu quebrar a cabeça com o problema, que incomodava os físicos da época, mas não explicam (a) nem por que ele decidiu se dedicar a isso e nem (b) a razão do incômodo.
Afinal, de todos os problemas do Universo, por que exatamente esse?
A menos que você esteja lendo esta postagem num laptop ao ar livre, a resposta está bem acima da sua cabeça: a indústria alemã da época — fim do século 19 — estava preocupadíssima em criar uma lâmpada elétrica capaz de competir com as importadas inglesas e americanas. Um objeto escuro que passa e emitir luz à medida que é aquecido representa, claro, um filamento de lâmpada incandescente!
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