NATURE MATERIALS/ VOL 69/ JUL 2010
Os grandes investimentos em pesquisa e educação feitos recentemente deram aos cientistas brasileiros condições de alcançar a excelência científica.
O Brasil é o maior país da América do Sul, com uma área de mais de metade do continente. Ele tem a quinta maior população em todo o mundo, com cerca de 193 milhões de habitantes. É uma terra de recursos naturais e famosa por sua arte, música e excelência desportiva. Um perfil na revista The Economist descreve-o como um país com enorme potencial, que sempre lutou para cumpri-lo¹. Mas agora o tempo para a realização parece ter chegado.
Durante os últimos 15 anos, e conomia brasileira vem crescendo de forma constante - foi pouco afetada pela recessão global – e não há nenhum sinal de que isso vai mudar em breve. Nesta edição, vamos dar uma olhada na forma como o crescimento econômico tem influenciado a ciência no país.
Muitos vão argumentar que o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve a maior parte de seu sucesso político e econômico a seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso. Mas mesmo aqueles que foram mais céticos quando da eleição de Lula têm que reconhecer que seu governo vem fazendo um grande esforço para desenvolver a ciência. A entrevista com o Atual Ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Machado Rezende², e o Comentário por Ado Jorio e colegas da Universidade de Minas Gerais³ fornecem uma visão geral do esforço para atingir a excelência em pesquisa e educação. O financiamento tem aumentado substancialmente, atingindo 1,43% do Produto Interno Bruto em 2008 (ref. 4), que ainda é muito inferior ao dos Estados Unidos ou do Japão (cerca de 3%), mas é comparável ao da China (cerca de 1,5%) e se aproxima da média européia (1,9%). Além disso, novos centros de pesquisa foram criados e os já existentes expandidos, enquanto o número de professores e alunos aumentou substancialmente, em uma tentativa de atingir a massa crítica necessária para a pesauisa no futuro.
Os esforços para aumentar o nível de produtividade científica foram feitos particularmente em áreas de pesquisa, em que o país já tem uma forte tradição. Um exemplo é a criação de um novo instituto de bioetanol, um campo em que o Brasil tem sido um líder por muito tempo, particularmente desde que o uso de carros flex-fuel tornou-se obrigatório após a crise do petróleo de 1973. O uso de biocombustíveis é ainda controverso, como muitos criticam os seus efeitos sobre a biodiversidade e o desmatamento, e as conseqüências indiretas sobre a vida da população local. Mas seria irrealista esperar que o país desistisse deste recurso nesta fase, particularmente à luz das anunciadas intenções de manter um baixo nível de emissões de carbono. Por outro lado, a tentativa de utilizar os meios científicos para estudar maneiras de melhorar e otimizar a produção tem de ser apreciada, sobretudo como o governo também se comprometeu a reduzir drasticamente o desmatamento.
No campo da ciência dos materiais, um esforço notável foi a criação da Divisão de Metrologia de Materiais, no Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia). Segundo o diretor, Carlos Achete, a divisão foi fundada em 2003 para tornar o instituto líder em ciência dos materiais , especializado na síntese e propriedades das nanopartículas. Os investimentos de cerca de US $ 20 milhões foram feitas para melhorar equipamentos, e os incentivos de grande porte como a concessão de salários competitivos foram também para atrair cientistas capazes. Além disso, foi dada forte ênfase na colaboração com cientistas do exterior, numa tentativa de ganhar visibilidade internacional bem como de aproveitar a experiência de cientistas estrangeiros.
O desafio para os próximos anos é dar o salto na direção dos maiores níveis de excelência científica. Embora a produtividade em termos de trabalhos publicados e os números de citações globais tenham aumentado substancialmente nas últimas décadas, o impacto dos resultados é ainda bem inferior ao dos Estados Unidos ou dos países da Europa Ocidental. De acordo com um relatório recente Thomson Reuters, a citação média em todos os campos de pesquisa, entre 1998 e 2008, foi 5,58, enquanto foi superior a 14 nos Estados Unidos, mais de 12 para a Inglaterra, mais de 11 para a Alemanha e mais de 10 para a Itália e France, cada⁵.
É claro que é sobretudo uma questão de tempo. Pesquisa no Brasil, afinal, só é feita há poucas décadas. Não muito tempo atrás, muitos departamentos de universidade não tinham quaisquer recursos para fazer pesquisa, e foi só muito recentemente que a infra-estrutura necessária foi implementada. O que é inegável é a conscientização da necessidade de melhorar, sobretudo em termos de visibilidade dos resultados. Por exemplo, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico introduziu um programa de bolsas de produtividade que afetam ambos os salários e as verbas de pesquisadores6. O aspecto positivo deste projeto é que as bolsas são concedidas não apenas com base no número de publicações e citações, mas também é dada atenção às contribuições específicas que um pesquisador forneceu a um trabalho. Também é colocada ênfase também em aspectos educacionais, tendo em conta, por exemplo, o número de alunos de doutoramento supervisionados.
O governo Lula vai chegar ao fim do seu mandato no final de 2010, e é provavelmente muito cedo para prever o que os novos candidatos à presidência proporão para a ciência. Mas é difícil imaginar que o progressos até agora alcançados serão desfeitos, qualquer que seja o novo líder. Lula até assinou uma série de projetos de lei para salvaguardar o futuro dos investimentos realizados por seu governo7. Os próximos anos prometem trazer desenvolvimentos interessantes, e estamos ansiosos para aprender quais serão.
Referências
2. Nature Mater. 9, 532–533 (2010).
3. Jorio, A., Sá Barreto, F. C., Sampaio, J. F. & Chacham, H.
Nature Mater. 9, 528–531 (2010).
4. http://go.nature.com/oTrB5N
7. Nature 465, 674–675 (2010).
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