28 de nov. de 2011

Folha de S.Paulo
São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Show da física

Ganhador do Nobel faz truques com nitrogênio líquido para explicar pesquisa e popularizar ciência
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
Marisa Cauduro/Folhapress


William Phillips, vencedor do Prêmio Nobel em Física, brinca com nitrogênio líquido durante palestra.

Uma apresentação com muita fumaça, objetos levitando e gritos de espanto da plateia adolescente. A palestra de William Phillips, vencedor do Nobel em Física de 1997, mais parece um show de mágica. Com uma diferença: ele explica exaustivamente cada um de seus truques.

Com o propósito declarado de atrair mais jovens para a área científica, o pesquisador apresentou uma versão "para leigos" do trabalho que lhe rendeu o prêmio máximo da ciência em um auditório lotado, ontem, no Colégio Etapa, em São Paulo.

"Ganhar o Nobel não facilitou a minha vida na hora de publicar um trabalho ou conseguir financiamento. O que aumentou foi a possibilidade de falar para grandes grupos e incentivar o gosto pela ciência", disse à Folha.

Usando uma gravata com uma paisagem do filme "Guerra nas Estrelas", o ex-técnico da seleção olímpica de física dos EUA conquistou a plateia, que reunia tanto interessados em ciência quanto gente que queria ver de perto um cientista famoso.

Entre um truque com nitrogênio líquido e outro, o cientista explicou a complexa tarefa de capturar átomos em uma armadilha que une raios laser e campos magnéticos.

A descoberta -que lhe rendeu o Nobel juntamente com Steven Chu e Claude Cohen-Tannoudji- teve aplicações práticas, como a construção de relógios quânticos de altíssima precisão.

Para entender o tamanho da descoberta, basta fazer uma comparação com um relógio comum, como o que as pessoas usam no pulso.

Um bom relógio de quar-tzo perde cerca de 30 segundos de precisão por ano. Já em um relógio quântico aperfeiçoado após a criação do método, isso cai para um segundo em 1 milhão de anos.

Tamanha precisão, além de ser empregada em experimentos científicos, já está inserida no cotidiano. Sem os relógios quânticos, por exemplo, o sistema de GPS não seria possível.

CIÊNCIA BRASILEIRA

No Brasil pela sexta vez, o pesquisador disse conhecer pouco da ciência nacional, mas elogiou os trabalhos com os quais teve contato.

"Os trabalhos que eu vi em São Carlos [interior de SP] são de ponta, estão entre os melhores do mundo", disse. Ele citou como um dos exemplos de excelência as pesquisas em física quântica da USP.

Para o coordenador da Olimpíada Brasileira de Física, Euclydes Marega, o contato com grandes nomes da ciência se reflete na motivação dos alunos.

"Eles encontram alguém para se espelhar. É como, para um interessado em futebol, encontrar o Ronaldinho. Enquanto o Brasil não tem um vencedor nacional, precisamos aproveitar essas oportunidades de contato com os estrangeiros", disse.

Medalha de Prata na olimpíada nacional de matemática em 2007, Ana Lucia Cox, 17, concorda. Depois de tirar foto e ter a blusa autografada por Phillips, ela comemorou.

"Adoro física, quero seguir na área de ciência ou engenharia. É muito bom receber dicas de alguém tão bem-sucedido nesses assuntos."

Mesmo querendo "cooptar" jovens, Phillips ressaltou que a carreira científica também tem seus problemas.
"Ser cientista não dá dinheiro. Se quiser ficar muito rico, vá trabalhar com negócios ou direito. Por outro lado, dá um prazer imenso para quem é curioso e se interessa por saber como as coisas funcionam."

RAIO X - WILLIAM PHILLIPS

NASCIMENTO
Dia 5 de novembro de 1948, na cidade de Wikes-Barre, na Pensilvânia, EUA

PREMIAÇÃO
Nobel em Física em 1997 por seu trabalho com física atômica com os colegas Steven Chu e Claude Cohen-Tannoudji. Eles desenvolveram técnicas para controlar o movimento de átomos com a luz.

FILIAÇÃO
Nist (Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia), uma espécie de Inmetro dos EUA




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