8 de nov. de 2011

Usinas nucleares do Brasil são projetadas para resistir a terremotos

Geofísica Brasil

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Angra 1 e 2 possuem estações sismográficas para monitoramento 24 horas

Além de 15 mil mortos, o terremoto de magnitude 8,9 ocorrido no dia 11 de março no Japão gerou uma grave crise nuclear naquele país, devido à explosão de um dos reatores da usina nuclear de Fukushima, causando riscos reais de grandes vazamentos de material radioativo. Na época, a ameaça de um acidente nuclear trouxe à tona preocupações em toda comunidade mundial a respeito da segurança das usinas em casos de desastres naturais.

Atualmente, o Brasil possui duas usinas nucleares em funcionamento, Angra 1 e 2, localizadas ao sul do estado do Rio de Janeiro, sendo que uma terceira unidade está em construção no mesmo local, com previsão de ser concluída em maio de 2015. Para saber como é a segurança das usinas nucleares brasileiras com relação à possibilidade de terremotos, o site do Globo Ciência conversou com Lúcio Ferrari e Carlos Prates, da superintendência de Engenharia de Projeto da Eletronuclear.

Como as usinas brasileiras foram projetadas para suportar terremotos?

Carlos Prates: As usinas nucleares de Angra foram construídas seguindo as diretrizes estabelecidas pelas normas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sendo concebidas para resistir a abalos sísmicos. Ou seja, o seu projeto civil incluiu a projeção de lajes e de equipamentos que suportem tremores de terra em conformidade com a máxima atividade sísmica da região. Para isso, foi levada em conta uma análise geológica do local, lembrando que o Rio de Janeiro é, historicamente, uma região de baixa atividade sísmica, sem grandes tremores de terra.

Há algum tipo de sistema que monitore as atividades sísmicas próximas às usinas?

Lúcio Ferrari: As usinas de Angra possuem uma estação sismográfica que monitora permanentemente qualquer movimento do solo, registrando até as oscilações que não são perceptíveis para as pessoas. A estação consegue medir de pequenos sismos de magnitude 2, por exemplo, aos maiores e mais distantes, como o terremoto ocorrido em março no Japão, captado pelos sensores dos nossos equipamentos.

Existem outros sistemas de segurança auxiliares?

Lúcio Ferrari: Além dessas estações, existem sensores que alarmam na sala de controle qualquer abalo igual, ou superior, a 10% do valor de variação do movimento horizontal do solo tolerado pelas usinas, algo similar a 10% da aceleração da gravidade. Nesse caso, os alarmes soam identificando que ocorreu um abalo sísmico na usina. A partir daí, o operador verifica que nível de abalo foi esse.

As usinas foram projetadas para suportar terremotos de quais magnitudes na escala Richter?

Carlos Prates: Antes de tudo, é importante levar em consideração também a distância do epicentro do terremoto até a usina, já que a energia do tremor se dissipa ao longo do caminho. Além disso, o terremoto gera movimentos na vertical e na horizontal, sendo que o maior problema está justamente nas oscilações horizontais. No caso de Angra 1 e 2, elas estão preparadas, por exemplo, para suportar tremores de magnitude 6, a 60 km da usina; ou de magnitude 7, a 90km.

Existe algum plano de emergência para casos de terremoto?

Lúcio Ferrari: As usinas possuem um plano de emergência que trabalha em função da preservação dos seus sistemas de segurança e, para isso, existem alguns níveis de classe de emergência. Se um terremoto está dentro dos níveis tolerados pelo projeto, nenhuma ação é tomada. Por outro lado, se tivermos um abalo sísmico um pouco acima do nível de projeto, a primeira coisa a se fazer é desligar a usina e monitorar todo o sistema de segurança, verificando pressão e temperatura de vários componentes dos sistemas. Se for encontrada alguma provável degradação no nível de segurança, é feita a classificação desse evento de acordo com a classe de emergência.

Corremos os mesmos riscos de acidentes como o de Fukushima?

Carlos Prates: São contextos diferentes. O terremoto do Japão foi de magnitude 8.9, a 110 km da costa, ocorrendo em uma falha tectônica próxima à usina. A placa do Brasil possui falhas tectônicas bem distantes, localizadas no litoral dos Andes e no meio do Atlântico, por exemplo. Além disso, no Japão, os engenheiros tinham conhecimento de que havia essa falha tectônica próxima, sendo que ela poderia gerar um terremoto de grandes proporções. Sendo assim, eles dimensionaram a usina de Fukushima para suportar terremotos de magnitude 8.0, pois na região nunca tinha ocorrido tremores maiores do que esse. Porém, é preciso lembrar que a usina resistiu, e que todos os procedimentos de desligamento automático foram realizados. O problema maior foi o tsunami que se seguiu ao abalo sísmico. Ou seja, a usina resistiu ao terremoto, só que 30 minutos depois chegou o tsunami que inundou a usina e causou a perda de energia externa.

G1 - 05/11/2011

 

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