13 de dez. de 2012

Sondas americanas fazem 'raio-X' da Lua




Naves não tripuladas Grail realizaram medições do campo gravitacional do satélite com precisão sem precedentes


Estrutura interna lunar pode guardar segredos sobre a formação dos demais corpos rochosos do Sistema Solar


SALVADOR NOGUEIRACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Pense na praia de areia mais fofa que você já visitou. Então imagine grãos ainda menores que esses. E calcule o efeito de ter uma camada deles sobre o solo com espessura de alguns quilômetros. Bem-vindo ao solo lunar.

Ou, pelo menos, a uma boa aproximação do que ele seria, segundo as últimas revelações feitas por uma dupla de espaçonaves gêmeas não tripuladas americanas.

"Não há um análogo real desse tipo de poeira na Terra porque o registro do processo que o gerou em nosso planeta foi apagado pela erosão e pelo movimento das placas tectônicas", disse à Folha Maria Zuber, pesquisadora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e chefe da missão Grail, da Nasa.

"Mas imagine que você tenha uma superfície rochosa e então a destrua com uma britadeira. Isso provavelmente chega bem perto de como é lá na Lua."

Composto por duas sondas, o projeto Grail está revelando detalhes nunca antes descobertos sobre a companheira da Terra, a um custo de US$ 500 milhões.

O segredo do sucesso está numa técnica nunca antes usada para o estudo do satélite natural terrestre: a medição precisa de sua atração gravitacional.

Para obter as leituras, as duas espaçonaves se colocaram numa órbita polar lunar a cerca de 50 km de altitude, separadas por uma distância de cerca de 200 km entre si.

Então, conforme variações na composição do solo lunar abaixo aumentam ou diminuem suavemente a atração gravitacional, as naves medem com precisão as flutuações em suas órbitas.

Em órbita desde o início de 2012, a dupla de espaçonaves já cumpriu sua missão principal e agora está na fase estendida do projeto. Os primeiros resultados científicos, publicados agora eletronicamente pelo periódico "Science", são fruto das observações iniciais e trazem uma porção de novas informações.

O estudo da superfície da Lua é de suma importância para a compreensão da formação de planetas terrestres. Como a Terra, ela nasceu nos primórdios do Sistema Solar.

Desde então, ela preserva um registro detalhado do que aconteceu na região do Sistema Solar em que se formam os corpos rochosos.

A grossa camada de pó fofo, que é ainda mais expressiva nos planaltos lunares, é fruto de uma série de episódios violentos de colisão com asteroides.

A Terra certamente passou pelo mesmo processo, mas, desde então, a atmosfera e o mar apagaram quaisquer sinais deles.

Além de revelarem a camada superior, os dados da Grail permitiram flagrar a presença de diques de magma solidificado no subsolo lunar que ajudam a mostrar em mais detalhes a intrincada história vulcânica do satélite.

De quebra, de posse das novas informações, foi possível criar um modelo mais concreto de como deve ser a crosta lunar. Os pesquisadores acreditam que ela tenha entre 34 e 43 km de espessura.


PERGUNTAS EM ABERTO

O que ainda não deu para decifrar foi um velho mistério lunar: há nela um núcleo enriquecido em ferro, como no interior da Terra?

Os sismógrafos colocados na Lua durante as missões Apollo nas décadas de 60 e 70 permitem fazer inferências sobre o tamanho máximo do núcleo, mas não são capazes de confirmar sua existência.


A missão Grail deve finalmente matar a charada, mas não agora. "Nossa ideia sempre foi determinar o tamanho e o estado líquido ou sólido do núcleo", diz Zuber. "Mas isso requer correções complicadas nos dados, que ainda estão sendo feitas."

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