21 de mar. de 2013

Observatório acha sinal mais antigo de água no Universo

Feito é de megaconjunto de antenas para observação astronômica inaugurado ontem no deserto do Atacama 


Evidência foi achada a 12 bilhões de anos-luz; Cosmos viveu pico de formação estelar antes do que se calculava


Salvador Nogueira 
Enviado especial a San Pedro 



A inauguração do mais poderoso conjunto de radiotelescópios do mundo ontem, no Chile, aconteceu do jeito que os pesquisadores gostam: com resultados científicos espetaculares. Entre eles, a detecção da mais antiga evidência de água no Universo.

O sucesso sem precedentes na observação de 26 galáxias distantes obtido pelo Alma (Conjunto Milimétrico/submilimétrico do Atacama, na sigla em inglês) foi apresentado em um trio de estudos publicados no "Astrophysical Journal" e na "Nature".

O sinal de água foi encontrado em uma galáxia a 12 bilhões de anos-luz daqui.

Como se sabe, quanto mais longe está um objeto, mais antiga é a luz que detectamos dele. Ou seja, ver um objeto a 12 bilhões de anos-luz daqui implica que estamos vendo o que ele era 12 bilhões de anos atrás -quando o Universo tinha "apenas" 1,7 bilhão de anos.

A descoberta confirma a expectativa de que os elementos necessários à vida -dos quais a água seja talvez o mais importante- já estavam disponíveis em quantidade razoável na época em que o Cosmos era apenas um bebê. 


MULTIPLICAÇÃO ESTELAR

As galáxias observadas são de um tipo especial, particularmente prolífico em converter enormes massas de gás em estrelas centenas de vezes mais rápido do que hoje se vê em nossa própria galáxia, a Via Láctea.

Os 26 objetos, originalmente descobertos pelo SPT (Telescópio do Polo Sul), foram observados em detalhe pelo Alma. Como parte do primeiro conjunto de observações, o trabalho usou apenas 16 das 66 antenas que compõem o observatório.

Graças à resolução do radiotelescópio, mesmo nessa configuração mais modesta, os cientistas, liderados por Joaquin Viera, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), conseguiram determinar com mais precisão a idade dessas galáxias.

Assim, constataram que o chamado "baby boom" cósmico -época na qual as estrelas tiveram seu pico de formação- aconteceu 1 bilhão de anos antes do que se imaginava anteriormente.

"Medindo as distâncias dessas galáxias, podemos montar a história de quão vigorosamente o Universo fabricou novas estrelas em diferentes estágios dos 13,7 bilhões de anos de sua história", diz Viera.

Agora, operando com mais de 50 das 66 antenas, o Alma promete sondar ainda mais profundamente o espaço para descobrir os segredos dessas galáxias.


INAUGURAÇÃO

Embora o observatório já estivesse fazendo observações desde outubro do ano passado, a inauguração oficial aconteceu ontem, em cerimônia no centro de controle do observatório, no Atacama, a 2.900 m de altitude. As antenas foram instaladas no platô Chajnantor, a 5.000 m.


O Alma é uma parceria entre EUA, Canadá, Japão, Taiwan e países europeus representados pelo ESO (Observatório Europeu do Sul), ao qual o Brasil quer se associar. Um acordo foi assinado em 2010, mas ainda precisa ser ratificado pelo Congresso.

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