18 de fev. de 2011

Gelo combustível

Ciência Hoje
JAN/FEV 2011


Hidratos de gás podem ser fonte abundante de energia alternativa. Mas pesquisadores precisam descobrir uma forma de utilizá-los sem causar danos ao meio ambiente.

Por: Luan Galani

Os hidratos de gás são formados por moléculas de gás, principalmente metano, encapsuladas em uma estrutura de água congelada. Por isso são conhecidos como ‘gelo combustível’. (foto: J. Pinkston e L. Stern/U.S. Geological Survey)

 Estudos feitos na margem continental brasileira revelam indícios de que a região acumula importantes depósitos de uma promissora fonte de combustível fóssil: os hidratos de gás. As bacias sedimentares de Pelotas, no sul do país, e da foz do rio Amazonas, ao norte, são as áreas consideradas mais promissoras em depósitos do combustível.
O Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (Cepac) – que nasceu de uma parceria entre a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e a Petrobras – dedica-se à pesquisa dessas reservas.

Com área de 210 mil km2, a bacia de Pelotas compreende o trecho da margem continental sul-brasileira localizada entre a porção conhecida como Alto de Florianópolis (na parte setentrional da bacia) e a fronteira com o Uruguai.

A da foz do Amazonas é a mais extensa das bacias da margem equatorial brasileira. Seus limites coincidem com o platô de Demerara, a noroeste, e com a ilha de Santana (bacia do Pará-Maranhão), a sudeste, totalizando 360 mil km2.

Os pesquisadores do Cepac querem comprovar a presença de depósitos de hidratos de gás no país, estimar o volume total dos acúmulos, compreender os fatores que propiciaram sua formação e avaliar as reais possibilidades de explorá-los.


Bacias sedimentares brasileiras. A de Pelotas e a da foz do Amazonas são as mais promissoras do país em depósitos de hidratos de gás. (fonte: C.F. Lucchesi /Estudos Avançados)

“Estamos diante de um grande desafio científico e tecnológico”, afirma o geólogo João Marcelo Ketzer, coordenador do Cepac. Na sua opinião, “há grandes enigmas a serem decifrados”.

Alternativa a ser explorada

Praticamente desconhecidos da maioria das pessoas, os hidratos de gás são, diante da crescente demanda por carvão, petróleo e gás natural, uma potencial fonte alternativa de energia. Em comparação com esses combustíveis, têm a vantagem de produzir mais energia gerando menos dióxido de carbono (CO2).

Segundo o Instituto Norte-americano de Pesquisa em Geologia (USGS, na sigla em inglês), o volume mundial de hidratos de gás é maior que a soma das reservas dos demais combustíveis fósseis conhecidos, representando metade do carbono orgânico do planeta.

Estudo recente dos cientistas norte-americanos David Archer e Bruce Buffett, das universidades de Chicago e da Califórnia (Berkeley), respectivamente, mostra que o planeta acumula 3 trilhões de toneladas de hidratos de gás, enquanto carvão, petróleo e gás natural somam cerca de 930 bilhões de toneladas. Esses resultados foram publicados em 2007 no relatório Energy Outlook (Panorama energético).

Ainda se sabe muito pouco sobre o composto

Esses compostos são formados por moléculas de gás – principalmente metano – encapsuladas em uma estrutura de água congelada, que pode ser comparada a uma ‘gaiola’. Por isso são conhecidos como ‘gelo combustível’. As reservas, amplamente distribuídas pelo globo, depositam-se sob os oceanos, em profundidades superiores a 500 m, e em solos congelados, principalmente nas regiões polares.

Segundo Ketzer, a formação e estabilidade do composto dependem sobretudo de três variáveis: concentração, temperatura e pressão do gás. Mas ainda se sabe muito pouco sobre ele.

Estudos feitos na margem continental brasileira revelam indícios de que a região acumula importantes depósitos de uma promissora fonte de combustível fóssil: os hidratos de gás. As bacias sedimentares de Pelotas, no sul do país, e da foz do rio Amazonas, ao norte, são as áreas consideradas mais promissoras em depósitos do combustível.

O Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (Cepac) – que nasceu de uma parceria entre a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e a Petrobras – dedica-se à pesquisa dessas reservas.

Com área de 210 mil km2, a bacia de Pelotas compreende o trecho da margem continental sul-brasileira localizada entre a porção conhecida como Alto de Florianópolis (na parte setentrional da bacia) e a fronteira com o Uruguai.

A da foz do Amazonas é a mais extensa das bacias da margem equatorial brasileira. Seus limites coincidem com o platô de Demerara, a noroeste, e com a ilha de Santana (bacia do Pará-Maranhão), a sudeste, totalizando 360 mil km2.

Os pesquisadores do Cepac querem comprovar a presença de depósitos de hidratos de gás no país, estimar o volume total dos acúmulos, compreender os fatores que propiciaram sua formação e avaliar as reais possibilidades de explorá-los.

Desafios pela frente

O principal programa de pesquisa sobre os hidratos de gás surgiu no Japão, em 1999, devido à preocupação do país com segurança energética. Em 2012, pesquisadores japoneses darão início a projeto pioneiro de exploração do composto em ambiente marinho.

Além de Japão e Brasil, Estados Unidos, Canadá, Rússia e China estão entre as nações que investem em pesquisa sobre esses compostos, principalmente com parceiros internacionais.

Segundo Ketzer, o desconhecimento científico desses compostos não é casual. “Por se encontrarem em estado sólido e se localizarem em águas profundas ou sob terrenos congelados, são um desafio para a indústria do petróleo”, justifica.

É preciso desenvolver tecnologias que evitem a entrada de mais carbono na atmosfera terrestre

Os críticos dessa virtual ‘panaceia’ energética temem que o processo responsável por separar o hidrato (parte da água congelada do composto) do gás resulte na liberação de grande quantidade de metano na atmosfera, o que torna o combustível suspeito de intensificar o aquecimento global.

Essa separação é, portanto, um dos grandes desafios que sua extração deverá enfrentar. “Para viabilizá-la em escala comercial, é preciso desenvolver tecnologias que evitem a entrada de mais carbono na atmosfera terrestre”, diz o geólogo da PUC-RS.



Um comentário:

  1. Bom eu vejo dessa forma, é um combustível valido para uso, mais falta desenvolver tecnologias apropriadas e eficientes para sua extração. Acho que essa critica não anula o uso desse combustível em "intensificar o aquecimento global" na natureza é assim mesmo para obter algo sempre existe um risco que devemos aprender evitar, hoje em dia usamos muitas coisas que são perigosas de forma consciente. Não podemos generalizar empresas que se mostraram responsáveis em lhe dar com situações difíceis com outras que não fazem o mesmo. O estudo também é importante para aprendermos mais sobre algo e também a união entre países.

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