7 de fev. de 2011

"Precisamos de um satélite só nosso"

IstoÉ - 05/02/2011


Para cientista responsável por novo sistema de prevenção de desastres, só investimento no médio prazo pode evitar as tragédias de verão.

André Julião

O climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi convocado para uma missão estratégica. Ele vai coordenar o Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais, que deve funcionar 24 horas por dia, 365 dias por ano e contará com previsões climáticas e o treinamento da população em áreas de risco para evitar tragédias como as que acometeram a região serrana do Rio de Janeiro, no começo do ano. À ISTOÉ, Nobre dá detalhes do sistema e fala da importância de um satélite nacional para melhorar as previsões.

ISTOÉ – A falta de um satélite brasileiro prejudica o funcionamento do sistema?

Nobre – O Brasil tem que se planejar para ter um satélite meteorológico geoestacionário (que fica “estacionado” sobre o território) nosso, para melhorar a capacidade de detectar o que muda na atmosfera. Atualmente, usamos um satélite americano e um europeu. Eles fornecem esse tipo de informação, mas o Brasil não os controla. Precisamos de autonomia.


ISTOÉ – Qual o problema em usar os satélites estrangeiros?

Nobre – Hoje não acontece, mas já ocorreu no passado, na época em que havia muitos furacões nos EUA. Era só um dos dois satélites americanos parar de funcionar e eles viravam a câmera do que estava parado sobre o Brasil para o Caribe. O resto do mundo recebia uma imagem dele a cada três horas. É preciso tê-las a cada dez, 15 minutos para acompanhar o movimento rápido das nuvens. O Brasil é tão grande e diverso que justifica ter um satélite nacional. Mas não é algo que se consiga implantar em curto prazo.


ISTOÉ – Uma possível mudança no Código Florestal vai na contramão desse sistema?

Nobre – As áreas que foram ocupadas de forma irregular representam muito perigo. A floresta protege o solo e funciona muito bem para diminuir o risco de deslizamentos e inundações. Mas mesmo o código vigente não é adequado para proteger áreas expostas nas cidades. Ele tem princípios de proteção da água, do solo e da biodiversidade, mas nada sobre a proteção da vida humana.


ISTOÉ – Por que o sistema só vai estar pronto em 2015?

Nobre – A proposta é começar o processo de implantação gradativa do sistema, começando com municípios que possuem um mapeamento bom ou excelente das áreas de risco – e já são muitos. São Paulo e Rio são dois deles e já vão colher resultados antes de novembro. Gradativamente, faremos o ma¬peamento detalhado das outras áreas. Dentro de quatro anos, esperamos ter alcançado 500 municípios.

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