O Globo - 22/03/2011
Misteriosos redemoinhos oceânicos de 400 quilômetros de diâmetro influenciam clima
Renato Grandelle
Próximo à costa brasileira, e alimentado pelas águas lançadas no Atlântico pelo Rio Amazonas, surge um fenômeno que só agora começa a ser mais bem conhecido. O encontro de duas correntes oceânicas com as águas do rio forma redemoinhos que se elevam cerca de 40 cms acima da superfície do mar, giram como frisbees monumentais e chegam a 400 quilômetros de diâmetro. São os maiores turbilhões oceânicos do mundo, com influência sobre o clima global e a navegação.
A noroeste do país, uma das correntes oceânicas (a do Norte do Brasil), vira para a direita e segue para o leste, ao longo do Equador. Mas, de vez em quando, esta "curva" é especialmente fechada, levando consigo uma parcela de água aquecida.
- Esta porção gira no sentido horário, movendo-se no oceano como um frisbee que é jogado ao ar - compara o americano Bill Johns, oceanógrafo da Universidade de Miami e coautor de um estudo sobre o fenômeno. - A rotação ocorre a 1 metro por segundo, muito rápido para uma corrente oceânica.
Com o brasileiro Guilherme Castelão, também da Universidade de Miami, Johns estuda os redemoinhos desde 1998. Apesar disso, frisa que ainda há muito a descobrir. Sabe-se há mais de duas décadas que a "curva fechada" de uma corrente oceânica está envolvida na origem do fenômeno. No entanto, mesmo nos meses em que o movimento é quase inexistente, os imensos redemoinhos estão lá.
"Isso sugere que também há um tipo de mecanismo independente em sua formação", avalia o estudo, publicado na "Journal of Geophysical Research", da União Geofísica Americana. Segundo Johns, a geografia do litoral brasileiro explica por que o fenômeno adquire proporções tão gigantescas.
- O rio despeja água no Atlântico logo acima desse ponto em que a corrente faz uma "curva fechada", e, assim, as águas ficam presas na borda da corrente - explica. - Por causa dos anéis, as águas do Amazonas são levadas para muito longe da costa.
O impacto dos redemoinhos sobre o clima global ainda será estudado. Mas, segundo Johns, os anéis têm um impacto gigantesco na navegação.
- Se os navios soubessem dos redemoinhos, poderiam economizar combustível usando a seu favor este fluxo da corrente - avalia.
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