14 de mar. de 2011

Tremor liberou energia equivalente a mais de 15 mil bombas atômicas



O Globo -12/03/2011

Cesar Baima e Catarina Alencastro

 
Em mapa, a localização da cidade mais próxima do epicentro do terremoto - Editoria de Arte
RIO - O intenso terremoto que atingiu a costa nordeste do Japão foi um dos cinco maiores já registrados no mundo. Caso seja mantida a magnitude preliminar estimada para o abalo, de 8,9 graus na escala Richter , a energia liberada pelo tremor seria o equivalente a mais de 300 milhões de toneladas de dinamite, ou a explosão simultânea de mais de 15 mil bombas atômicas como a que foi lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima em 1945.
 

- Este é um dos maiores níveis que um terremoto pode chegar - diz o professor João Willy Corrêa Rosa, do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), cujos instrumentos detectaram o abalo do outro lado do mundo. - Nesse grau de tremor, se você estiver próximo ao epicentro não consegue ficar em pé. O chão fica parecendo uma folha de papel.




 
Segundo Rosa, as estatísticas apontam que um terremoto deste tamanho deve ocorrer uma vez a cada dez anos. Na última década, no entanto, já foram quatro: o desta quinta-feira no Japão; o de 8,8 graus de magnitude que atingiu a costa do Chile no ano passado; e dois na região da Ilha de Sumatra, na Indonésia, sendo um deles o abalo de 9,1 graus que provocou uma tsunami que matou centenas de milhares de pessoas pouco após o Natal de 2004.

- Isso pode ser um indicativo de uma maior atividade no interior da Terra - diz Rosa. - Mas não existem indicações de que o número de abalos menores aumentou, então é difícil ter certeza.

A maior frequência destes terremotos também aumenta a preocupação com os danos e mortes que eles podem causar. Embora 100 vezes menos intenso que o do Japão, o tremor de 7 graus que abalou o Haiti em 2010 deixou um rastro de 220 mil mortos. Bem mais forte, o que atingiu o Chile logo depois causou menos de 600 vítimas.

- Terremotos são impossíveis de prever, então tudo que podemos fazer é nos preparar, e o Japão é um exemplo disso - diz Jorge Luís de Souza, geofísico e sismólogo do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, onde os equipamentos também registraram o tremor no Japão. - Se isso acontecesse nos Andes ou em lugares como a Turquia, seriam mais de 500 mil ou um milhão de mortos. A Humanidade tem tecnologia suficiente para minimizar muito as mortes e danos, mas os países pobres são mais vulneráveis a esses fenômenos.




Assim como mais de 90% dos grandes terremotos do planeta, o de ontem foi causado pelo choque de duas das 12 principais placas tectônicas que formam a superfície da Terra. Próximo ao local do epicentro a chamada Placa do Pacífico, que se move para oeste a uma velocidade de 8,3 centímetros por ano, encontra-se com a Placa da Eurásia, sendo empurrada para debaixo desta. Ao longo dos anos, o atrito gerado por este encontro acumula uma enorme quantidade de energia, que é liberada pelo tremor.

- A Terra é como um grande quebra-cabeças dividido em várias peças - explica Souza. - Cada uma dessas peças é uma placa tectônica que desliza sobre o material derretido embaixo dela, empurrando ou se afastando uma da outra. Onde há esses movimentos é que temos os grandes terremotos do planeta.

O terremoto de ontem também foi tão forte que os cientistas esperam que ele mexa com o eixo e a velocidade de rotação da Terra, como aconteceu no caso dos tremores no Chile e na Indonésia, que reduziram a duração do dia em 1,26 e 6,8 microssegundos, respectivamente.


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