17 de mai. de 2012

Sol se desloca mais lentamente

Scientific
American Brasil

Cientistas constatam inexistência de onda de choque 

por Charles Q. Choi e Space.com 

                                                            ©italianphoto/ Shutterstock  
 
Saindo de cena: A heliosfera é a região do espaço dominada pelo Sol que A
briga a Terra e os outros planetas. 


Pesquisadores suspeitam que o Sol está se deslocando pelo espaço interestelar mais lentamente do que pensávamos, o que sugere que a gigantesca onda de choque que há muito acreditávamos precedê-lo pode não estar lá.

Essas novas descobertas podem influenciar o que sabemos sobre raios cósmicos de alta energia prejudiciais aos astronautas.

O Sol e seus planetas estão abrigados no interior de uma bolha de partículas permeada por um campo magnético conhecida como heliosfera. O limite da heliosfera, onde ela colide com o gás e a poeira interestelares, é chamado de heliopausa e marca o limite externo do Sistema Solar.

Por cerca de 25 anos os pesquisadores pensaram que o Sol estivesse se deslocando com velocidade suficiente para que nossa heliosfera gerasse uma onda de choque conhecida como choque em arco (bow shock) enquanto vaga pelo meio da matéria interestelar.

“A explosão sônica produzida por um jato quebrando a barreira do som é um exemplo terrestre de choque em arco”, explica o autor do estudo Dave McComas, cientista espacial do Instituto de Pesquisa Southwest em San Antonio, no Texas. “Quando o jato atinge velocidades supersônicas, o ar à frente não consegue sair do caminho rápido o bastante e, uma vez que a aeronave atinge a velocidade do som, a interação muda instantaneamente, o que resulta em uma onda de choque”.

Astrônomos já viram esses choques de plasma no espaço, com contrapartes da heliosfera ao redor de estrelas distantes conhecidas como astrosferas. 

Nosso Sol mais lento

Como novas observações mostram que o Sol está se deslocando mais lentamente, essa energia seria insuficiente para gerar um choque em arco.

“Descobrir que o Sol não exibe choque em arco é surpreendente, levemente chocante, e muito de nosso trabalho deverá ser refeito”, desabafa McComas ao Space.com. “A comunidade astronômica passou as últimas duas ou três décadas estudando algo que não existe”.

Dados do Interstellar Boundary Explorer (“Explorador de Fronteiras Interestelares”, ou Ibex), da Nasa, um pequeno veículo espacial que faz imagens remotas da natureza das interações de partículas na fronteira do Sistema Solar revela que o Sol está atravessando uma nuvem interestelar local a cerca de 83.700 km/h. Isso corresponde a aproximadamente 11.250 km/h menos que se pensava – redução que diminuiria a pressão sobre a heliosfera em cerca de um quarto, o suficiente para impedir o desenvolvimento de um choque em arco.

Informações do Ibex e observações anteriores das sondas Voyager mostraram que o campo magnético do meio interestelar é mais intenso que se acreditava. 

A heliosfera desmascarada 

Uma melhor compreensão da heliosfera deve esclarecer como ela protege a Terra dos perigosos raios cósmicos de alta energia. “A heliosfera filtra cerca de 90% dos raios cósmicos”, avalia McComas. “É interessante considerar que talvez as astrosferas sejam pré-requisitos necessários para a vida ao redor de estrelas”.

O fato de o Sistema Solar não ter um choque em arco poderia significar, na verdade, que estamos levemente mais protegidos da radiação cósmica.

“A velocidade com que o Sol se desloca no meio interestelar local significa que no momento existe uma menor compressão da heliosfera, então há uma região maior para defletir raios cósmicos”, descreve McComas. “No passado distante, porém, enquanto o Sol se movia em sua órbita galáctica, certamente passava por nuvens densas, então talvez a heliosfera tenha sido comprimida nessa época e tenhamos sido mais afetados pela radiação. Isso provavelmente voltará a ocorrer no futuro”.

Os cientistas detalharam a descoberta em 10 de maio, na versão on-line da Science. 


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