10 de mar. de 2015

Novos indícios da origem da massiva nebulosa de Órion

As estrelas não são todas iguais, e nem seus criadores. De longe o mais conhecido berçário estelar, a nebulosa de Órion, já produziu milhares de jovens estrelas, grandes e pequenas. Ela brilha com tanta intensidade que pode ser vista ao olho nu, mesmo estando a 1.350 anos-luz de distância.

Em uma noite sem lua e com o fundo de céu escuro, sem poluição luminosa das cidades, a nuvem de gás e poeira que compõe a Nebulosa parece uma estrela difusa ao sul das três principais estrelas visíveis do cinturão de Órion.

Agora, uma técnica de imageamento revelou que essa grande nebulosa é apenas uma pequena parte de um enorme anel de poeira que se estende por centenas de anos-luz. A descoberta sugere as origens da Nebulosa: radiação e explosões de estrelas massivas no centro do anel podem ter forçado gás e poeira para fora até que parte do material colapsasse e desse origem à novas estrelas.

Ninguém havia notado o anel anteriormente porque a poeira que está no primeiro plano mascara o objeto recém-encontrado. “Nós ficamos completamente surpresos ao descobrir essa bela estrutura anelar”, declara Eddie Schlafly, astrônomo do Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha. Ele e seus colegas encontraram o anel usando o telescópio de 1,8 metros Pan-STARRS, no Havaí, para mapear poeira interestelar.

A poeira deixa a luz estelar avermelhada – essa é uma das razões do Sol poente parecer alaranjado ou vermelho – então a equipe de Schlafly observou as cores de estrelas na maior parte do céu para verificar onde fica a poeira interestelar. A partir das cores e distâncias de 23 milhões de estrelas, a equipe estabeleceu a distribuição da poeira em três dimensões, dentro e ao redor de Órion.

Essas observações revelaram que a nebulosa de Órion está na borda de um vasto anel de poeira com 330 anos-luz de diâmetro – tão grande que a maior parte dele chega até Monoceros, uma constelação a leste de Órion. Se o anel fosse visível ao olho nu, ele pareceria 27 vezes maior que a lua cheia. A nebulosa de Órion está localizada em uma de suas regiões mais densas. A descoberta foi publicada no volume de 1º de fevereiro de 2015 do the Astrophysical Journal.

John Bally, astrônomo da University of Colorado Boulder, que não tem relação com a descoberta, considera fenomenal a nova técnica de mapeamento de poeira que revelou o anel. “Isso realmente nos permite medir a distribuição de poeira em três dimensões pela primeira vez”, declara ele. “Esse é um resultado impressionante”

A descoberta sugere as origens da Nebulosa de Órion. Um dos cenários possíveis: há 10 ou 20 milhões de anos, muito antes da existência da nebulosa de Órion, surgiu um grupo de estrelas massivas. Essas estrelas eram quentes e luminosas, e a luz ultravioleta que elas emitiam arrancava elétrons do hidrogênio gasoso interestelar em todas as direções. Essa radiação empurrava o gás e a poeira interestelares para longe em uma bolha que se expandia e foi sacudida ainda mais quando as estrelas explodiram em supernovas. Parte da superfície da bolha se tornou densa o bastante para colapsar, formando novas estrelas – e uma região especialmente rica em nascimentos estelares iluminou o gás e a poeira que atualmente chamamos de Nebulosa de Órion. 

Bally e Christopher McKee, astrofísico da University of California, Berkeley, declaram que esse cenário é plausível mas requer confirmação. Se a ideia estiver correta, o anel de poeira deveria estar se expandindo, então cientistas terão que medir a velocidade de expansão da poeira para verificá-la. Essas medidas também indicariam quando a expansão começou, assim datando a sequência de eventos que pode ter levado à formação da Nebulosa de Órion. 

A nova sonda europeia Gaia pode ajudar ainda mais ao determinar distâncias e movimentos de estrelas. A Gaia pode revelar estrelas que não se afastaram do centro do anel, irmãs das estrelas mortas que o criaram, trazendo mais informações sobre seu processo de formação. De acordo com Bally, a descoberta do anel de poeira de Órion é uma peça importante do quebra-cabeças, mesmo que muitos aspectos da ecologia de formação estelar na região ainda precisem ser compreendidos. 

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