24 de set. de 2010

“Na Ciência Nós Acreditamos”

Revista Pesquisa Fapesp



Sondagem da Nature e Scientific American feita em 18 países, Brasil inclusive, indica que as pessoas acreditam na ciência e nos cientistas

Edição Online - 22/09/2010


© REPRODUÇÃO



Uma tomada de opinião feita pela internet com mais de 21 mil leitores de 18 países, inclusive o Brasil, das revistasNature e das edições americana e internacionais da Scientific Americanindica que a credibilidade da ciência e dos cientistas é alta. Feita sem qualquer metodologia científica, como ressaltam seus próprios autores, a enquete divulgada hoje (22/09) mostra que os leitores acreditam mais na palavra dos cientistas do que na de qualquer outro grupo de pessoas.

Numa escala de confiança que variava de zero a cinco, os cientistas receberam a nota média de 3,98, praticamente 4. Em segundo lugar, empatados com a nota 3.09, vieram os grupos de amigos/familiares e as entidades não-governamentais. A seguir apareceram, por ordem decrescente de credibilidade, os grupos de defesa dos cidadãos (2.69), os jornalistas (2.57), as empresas (1.78), os políticos eleitos (1.76) e as autoridades religiosas (1.55). Para realçar a boa avaliação feita do trabalho dos cientistas, a Scientific American usou o título “In Science We Trust“ ("Na Ciência Nós Acreditamos') em sua reportagem sobre a enquete.

A confiança dos leitores no que os cientistas dizem oscila significativamente de acordo com o tema em questão. Evolução foi o assunto em que a palavra dos pesquisadores recebeu a melhor avaliação no quesito confiabilidade. Obteve a nota 4.3, novamente numa escala que variava de zero a cinco. Também mereceram notas elevadas as opiniões dos cientistas sobre os seguintes temas: energias renováveis (4.08), origem do universo (4) e células-tronco (3.97). Os assuntos em que os leitores menos confiam nos cientistas foram: pandemia de gripe aviária (3.19), drogas para depressão (3.21) e pesticidas (3.33).

A sondagem também mostrou que 89% dos leitores dizem que investir em ciência básica pode não produzir efeitos econômicos imediatos, mas é uma forma de construir as bases para o crescimento futuro. Para 75% dos entrevistados pela enquete, em nome da preservação das verbas para ciência, os governos deveriam cortar os gastos com o setor de armamentos e defesa nacional.

O maior temor tecnológico dos leitores ainda são as usinas atômicas. Quase metade dos entrevistados acredita que formas mais limpas de energia deveriam substituir a nuclear. O segundo tema que mais preocupa as pessoas são possíveis riscos desconhecidos do emprego da nanotecnologia, uma questão citada por 26% dos entrevistados.

Brasil e diferenças regionais – As revistas Nature e Scientific American sabem que a sondagem online não reflete a visão de toda a população dos países em que ela foi realizada. “Muitos dos resultados batem com a opinião de um grupo de pessoas bem informada sobre ciência”, escreveu a Nature. Afinal, 19% das pessoas que participaram da enquete disseram ter o título de doutor. Foi uma elite, portanto, que respondeu a sondagem. Além disso, a amostra de leitores de cada país é desproporcional ao número de habitantes. Do Brasil, por exemplo, participaram 422 pessoas, cerca de 10% do número de norte-americanos.

Ainda assim, algumas diferenças regionais apareceram. Os europeus são os que mais temem os riscos associados ao uso da energia nuclear e possíveis problemas causados pelo cultivo de organismos geneticamente modificados. Já os americanos são os que menos se inquietam com essas questões. Os chineses são os que mais defendem a ideia de que os cientistas não devem se meter em política (os brasileiros foram a segunda nacionalidade que mais apoiou essa posição).

Refletindo a importância que o país ganhou recentemente no cenário internacional, Naturee Scientific American divulgaram alguns dados específicos sobre as respostas dadas pelos brasileiros. Em geral, os brasileiros ocuparam os lugares intermediários nas comparações entre os países. Não são os mais crentes nos cientistas e na ciência, mas também não são os mais descrentes.

No entanto, chamou atenção a quantidade de brasileiros (23.5%) que ainda têm dúvidas sobre as explicações dadas pela teoria evolutiva baseada no processo de seleção natural. Na China a descrença chega a quase metade dos entrevistados e no Japão a 35%. Mas na Alemanha e no Reino Unido o ceticismo sobre esse tema não alcança 10% e nos Estados Unidos está na casa dos 13%. No que diz respeito a admitir que as atividades humanas contribuem para mudar o clima global, os brasileiros foram tão assertivos quanto americanos, ingleses e britânicos: cerca de 80% concordaram com essa afirmação.

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