Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) afirmam que o Aqüífero Alter do Chão, na região Norte do país, é o maior manancial do planeta.
De acordo com os especialistas paraenses, a reserva seria mais significativa que o próprio Aquífero Guarani, até então, considerado o mais importante recurso hídrico descoberto no Brasil e na América do Sul.
O professor Milton Matta, da Universidade Federal do Pará, faz parte da equipe que coordena os estudos do Aquífero Alter do Chão. Segundo o geólogo, os dados sobre o aquífero do norte são muito raros na literatura. A pesquisa mais sistemática começou no ano passado, liderada pelos professores Francisco Matos de Abreu, André Montenegro Duarte e Mário Ramos Ribeiro, todos da UFPA; além do professor Itabaraci Cavalcante, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Segundo Matta, a extensão superficial do Aquífero Guarani (1,1 milhão de quilômetros quadrados) é maior que a do Alter do Chão (ainda sem dados precisos), mas as espessuras do segundo são mais representativas, o que resultaria em maior volume de água. "Dados preliminares apontaram para um volume de água superior a 86.000 quilômetros cúbicos", afirma. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, a reserva do Guarani está calculada em 30 mil quilômetros cúbicos.
"Essa descoberta representa um potencial estratégico de água para o Brasil e para a humanidade. Tem-se a certeza de que com a água deste aquífero pode-se abastecer a população mundial por algumas centenas de anos, além de proporcionar água suficiente para indústria e para a agricultura", sustenta.
Capacidade
De acordo com os pesquisadores, os parâmetros hidrodinâmicos do aquífero Alter do Chão (que medem a capacidade de armazenar água e dessa água ser retirada por bombeamento) também indicam um grande potencial de armazenamento hídrico. A argumentação é de que os tipos litológicos (rochas) podem ter melhores condições de armazenamento, circulação de água e captações muito mais baratas em relação ao Aquífero Guarani.
"Certamente, vai proporcionar obras de captação menos onerosas que o Guarani, que, além de mais profundo, possui uma espessa camada de rochas basálticas sobre ele. Isso dificulta e encarece a perfuração de poços. Precisamos ainda, nos nossos estudos, determinar com precisão razoável as profundidades e espessuras do Alter do Chão e analisar como esses elementos variam lateralmente", explica Milton Matta.
Segundo o doutor em hidrogeologia, que também trabalha com geologia estrutural, os pesquisadores paraenses avaliam essa superioridade do Alter do Chão em relação ao Guarani e às demais reservas do mundo, mas ainda se ressentem da falta de dados concretos para convencer a comunidade técnico-científica. A qualidade da água da reserva também deve também ser um novo foco nos estudos.
O Alter do Chão é responsável pelo abastecimento de várias cidades na Amazônia. Suas águas subterrâneas atendem quase todos os municípios do Oeste do Pará e do estado do Amazonas, inclusive a cidade de Santarém, "com águas de excelente qualidade", assegura Matta.
Financiamento
A hipótese é baseada em estudos ainda iniciais, mas os fortes indícios foram o suficiente para entusiasmar os cientistas. Depois dos estudos preliminares, os técnicos planejam preparar um projeto para apresentar ao Banco Mundial e a outros financiadores. A intenção é viabilizar um levantamento mais detalhado sobre o potencial do aquífero. Dados para comprovar definitivamente que se trata do maior reservatório subterrâneo de água doce do mundo.
Pelo cálculo dos pesquisadores, um estudo mais aprofundado exigirá investimentos na ordem de US$ 5 milhões. A primeira etapa do projeto seria destinada à sistematização de todo o material disponível, tabulações, análise de confiabilidade e interpretações desses dados; com prazo previsto de oito meses e custos em torno de R$ 300 mil a R$ 400 mil reais.
A segunda etapa, mais longa, com duração estimada de quatro anos, envolveria um conjunto de ações metodológicas, com trabalhos de campo, obtenção de dados primários e levantamentos de sensoriamento remoto, geofísicos, geológicos e hidrogeológicos.
A principal preocupação dos pesquisadores é a dificuldade de se conseguir recursos para avançar com a pesquisa e estabelecer os critérios para utilização sustentável desse manancial. "Sabemos que existem, na área sobre o Alter do Chão, muitos processos contaminantes que podem alcançar as águas do aquífero se nada for feito pelos poderes constituídos", alerta Matta.
"As articulações políticas já começaram a ser feitas, mas o que se precisa no momento é de divulgação desse projeto junto à sociedade, à classe técnico-científica e ao ambiente político, no sentido de se demonstrar a importância do Aquífero Alter do Chão para o país e para o futuro da humanidade", declara.
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