16 de mar. de 2012

Luzes do sul no espaço

Folha de S. Paulo

Andre Kuipers/Divulgação
Astronauta fotografa, a partir da ISS, a aurora austral sobre a Antártida e a Austrália

DE SÃO PAULO

A bordo da ISS (Estação Espacial Internacional), o astronauta holandês Andre Kuipers fotografou uma aurora austral sobre a Antártida e a Austrália.

A imagem, feita no último sábado e divulgada ontem pela Nasa, mostra o espetáculo luminoso proporcionado pelo fenômeno, causado pela interação de ventos e poeira solar com o campo magnético que envolve a Terra.
Quando acontece no hemisfério Norte do planeta, ele é chamado de aurora boreal.

A última semana foi um período particularmente favorável para a observação das auroras. A intensa atividade solar, com as recentes explosões de alta intensidade no astro, deram impulso renovado a esses fenômenos, que podem ficar mais fortes e visíveis.

Apesar de contribuírem para esse espetáculo visual, as tempestades solares também têm influências negativas. Elas podem afetar satélites de comunicação e sistemas de posicionamento, entre outros danos.



Será o mundo uma ideia?

Folha de S. Paulo

MARCELO GLEISER

Para Platão, a essência da realidade é percebida pela razão; isso deu à mente 
do homem um status semidivino

"A mente humana é mais incrível do que o Universo", disse-me outro dia minha filha adolescente. "Por que?" perguntei. "Ora, tudo começa nas nossas cabeças. Sem nossas mentes, não existiria um Universo."

"Será isso mesmo?", perguntei-me em silêncio. A rixa entre o que é e o que é percebido é tão antiga quanto a filosofia. Tem algo a ver com a pergunta "se uma árvore cai na floresta e ninguém está lá para ouvir, ela faz barulho?" (adaptada aqui). Mas é mais complexa.

Platão tornou explícita a divisão entre o mundo das ideias e o mundo dos sentidos. No seu famoso "Mito da Caverna", imaginou um grupo de prisioneiros acorrentados por toda a vida numa caverna. Podiam apenas olhar para uma parede, onde viam sombras projetadas por um fogo que queimava atrás deles. Com isso, sua percepção da realidade era profundamente distorcida, visto que nunca podiam olhar para os objetos que criavam as sombras. Apenas por meio de seus sentidos, jamais poderiam capturar a verdade sobre o mundo.

Platão usa a alegoria para argumentar que apenas o pensamento puro, livre das distorções da percepção sensorial, pode nos revelar verdades absolutas, imutáveis.

Segundo ele, a essência da realidade só pode ser percebida pela razão. Com isso, deu à mente humana um status semidivino, a ponte por onde chegamos ao absoluto. Para Platão, a essência do real é encapsulada por formas abstratas. Conhecê-las é chegar mais perto da verdade. Por exemplo, todas as mesas têm a forma de mesa, mesmo que os detalhes sejam diferentes. Apenas a ideia de um círculo é um círculo perfeito. Qualquer representação dele será imperfeita.

Dada a sua conexão com a busca pela verdade, não é surpreendente que as ideias de Platão tenham influenciado tanto cientistas quanto teólogos. Se as formas têm estrutura geométrica, a matemática (que estuda suas propriedades) segue em direção à verdade. Se a linguagem da natureza é a matemática, como afirmou Galileu, quanto mais as ciências físicas forem fundamentadas na matemática, mais perto da verdade estarão.

Essas ideias inspiraram alguns dos grandes nomes da ciência, de Copérnico e Kepler à Planck e Einstein. E continuam a fazê-lo, em particular para físicos que trabalham com teorias que tentam explicar toda a estrutura física do Universo, como a teoria das supercordas.

Para teólogos inspirados por Platão, como o genial Nicolau de Cusa, que viveu no século 15, a perfeição existe apenas em Deus. Com essa ideia, Cusa supôs que a Terra não poderia ser o centro do Universo. Cusa também não levava a sério a possibilidade de humanos obterem verdades absolutas. Para ele, elas estão na essência de Deus, que é incompreensível aos humanos.

Se a noção do Deus Geômetra não é mais muito popular, a do Homem Geômetra permanece firme e forte, e está por trás de grandes descobertas científicas e matemáticas.

Sem nossas mentes nada disso seria possível. Imaginamos e compreendemos o Universo com elas. Por outro lado, talvez seja bom levar a sabedoria de Cusa a sério e lembrar que o que criamos e entendemos é expressão de nossa criatividade, tendo pouco ou nada a ver com verdades finais e absolutas.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook:goo.gl/93dHI



Rede social de pesquisa atrai cientistas

Folha de S. Paulo

Research Gate, rede social de pesquisadores, tem hoje 1,4 milhão de usuários; ideia é chegar a 8 milhões em 2013

De acordo com cientistas brasileiros ouvidos pela Folha, o site facilita a interação com os estrangeiros

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Embora a física de partículas não seja a área do professor Adilson Jesus de Oliveira, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), ele gosta de ler na internet as controvérsias sobre o assunto.

Ele tem acompanhado o debate sobre os neutrinos (se ultrapassaram a velocidade da luz em um experimento conduzido na Suíça) por uma rede social exclusiva para cientistas, o Research Gate (http://researchgate.net).

"Foi muito interessante ver as diferentes opiniões em relação ao resultado obtido pelo Cern [centro europeu que anunciou os dados sobre os supostos neutrinos velozes]".

Oliveira também tem usado o site para pesquisar na sua área, o magnetismo.

"Outro dia alguém perguntou como se estabiliza uma nanopartícula magnética. Várias pessoas deram dicas. Interessante a cooperação."

O espaço de interação mencionado pelo físico acontece nos grupos temáticos do site.

Além dos grupos, os cientistas cadastrados também podem buscar pesquisadores por área (como neurociência ou biologia) e trocar mensagens privadas, como e-mails.

ARTIGOS NA VITRINE

Alguns cientistas também disponibilizam seus artigos científicos ou as suas prévias abertamente nos perfis.

"O Research Gate serviu para encontrar novos textos de autores que costumo ler", conta o biólogo Atila Iamarino, que faz doutorado na USP sobre evolução do vírus HIV.

Ele também gosta de acompanhar o que os pesquisadores "líderes" de algumas áreas publicam ou curtem.

Mas a maior vantagem, para ele, é a possibilidade interagir com colegas de fora.

"Sempre tive dificuldade em encontrar um currículo e publicações de pesquisadores no exterior", conta.

Essa dificuldade foi o que motivou o cientista da computação Ijad Madisch a criar o site enquanto ainda estudava na Alemanha.

"Tive muita dificuldade para encontrar pessoas da minha área [computação aplicada à medicina] no doutorado. Por isso pensei em criar uma rede para cientistas", conta Madisch no Youtube. Ele trabalha no Hospital Geral de Massachusetts, ligado à Universidade Harvard.

O site, criado em 2008, tem 1,4 milhão de usuários. A ideia de Madisch é chegar a 8 milhões até 2013.

"Os cientistas vão se acostumar com o Research Gate. Meu orientador dizia que o orientador dele não queria usar e-mail quando a internet surgiu. É mais ou menos a mesma adaptação", diz.

Do total, apenas 3% dos usuários vem do Brasil. O número ainda pequeno de usuários no Brasil, de acordo com Iamarino, pode ser justificado pelo uso do Lattes.

É uma espécie de currículo on-line de cientistas exigido pelo CNPq, a principal agência financiadora de ciência do país. Há mais de 1,8 milhão de currículos cadastrados no sistema brasileiro.

No entanto, o Lattes não traz os contatos eletrônicos dos cientistas, como e-mail, e não possibilita interação.



Fúria do Sol atinge satélite que orbita Vênus e o deixa às cegas

Folha de S. Paulo

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Enquanto os terráqueos aguardam com apreensão potenciais danos ligados a uma das maiores tempestades solares dos últimos anos, em Vênus os problemas já começaram. A atividade aumentada do Sol está atrapalhando o funcionamento da sonda europeia Venus Express.

Seus dois rastreadores estelares pifaram depois de uma erupção solar no dia 6.

A espaçonave usa essas câmeras para verificar a posição das estrelas e, com isso, orientar seu posicionamento em órbita. É mais ou menos o mesmo procedimento adotado pelos antigos navegadores, que usavam as estrelas como referência.

A atividade solar, que vem aumentando nos últimos tempos e é mais problemática em Vênus do que na Terra (uma vez que aquele planeta está mais perto do Sol), já causou panes temporárias da Venus Express antes.
Entretanto, o recorde de interrupção das operações dos rastreadores foi de 32 horas. A atual parada é o novo recorde e completou mais de 40 horas na tarde de ontem (09/03).

Foram interrompidas as observações científicas da sonda, enquanto o controle da missão trabalha para preservar a espaçonave.

A torcida é para que, a exemplo das panes anteriores, o dano seja temporário.

"O longo tempo inoperante e o fato de os dois sensores terem parado simultaneamente são preocupantes", diz Petrônio Noronha de Souza, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Segundo ele, é difícil fazer previsões. "Pode ser um fenômeno transitório, até que o Sol se acalme, mas também pode haver um dano permanente na circuitaria do sensor", o que seria bem mais complicado para a sonda.



13 de mar. de 2012

Brasil pode sediar primeira Olimpíada Educacional em 2016

Jornal da Ciência


Proposta é apresentada ao Governo Federal.

A realização dos Jogos Olímpicos, em 2016, no Brasil, deverá deixar como legado ao País não só a infraestrutura que tem sido construída - e, espera-se, algumas medalhas da delegação brasileira - mas também um marco na educação científica mundial. Uma proposta pioneira para a criação da primeira Olimpíada Educacional Internacional foi apresentada, na última semana, aos ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, que se entusiasmaram. Assinado pelo físico e professor do instituto de Estudos Avançados de São Carlos (USP), Sérgio Mascarenhas, e apoiada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), o projeto prevê que a primeira edição da competição aconteça paralelamente ao evento esportivo, com a mesma periodicidade.

"Trata-se de uma oportunidade imperdível e que poderá ter grande poder transformador para a humanidade", explica Mascarenhas, que utilizou o próprio modelo dos Jogos Olímpicos tradicionais para idealizar a Olimpíada Educacional. Na proposta apresentada aos ministros e também à comunidade científica, o físico afirmou que a idéia é que as olimpíadas educacionais se revertam em recursos para a educação. "Ela dará retorno necessário não apenas para sua continuidade, mas também para adicionar recursos faltantes às atividades educacionais da humanidade". O próximo passo agora será apresentar a proposta ao ministro Aldo Rebelo, dos Esportes, pois apesar de ser um evento educacional, terá como motor propulsor o evento esportivo.

A inspiração veio do próprio modelo da Olimpíada Esportiva, que, segundo Mascarenhas, gera importantes progressos sócio-econômicos, incorporando inovações científicas e tecnológicas em diversas áreas, como transmissões por satélites, logística, organizações bancárias, infraestrutura de turismo, defesa e construção civil e modelos de gestão. Assim como no esporte, poderão ainda ser criadas a Para-Olimpíada Educacional, para crianças com problemas de aprendizagem, e uma Olimpíada Educacional para Idosos, pensando na educação continuada.

Um importante fator que facilita a realização da competição científica é a existência de Olimpíadas isoladas de Computação, Robótica, Química, Física e outras áreas ligadas à inovação. Só a Olimpíada Brasileira de Matemática mobilizou, na última edição, mais de 18 milhões de estudantes.

Para o professor, que também foi o idealizador e primeiro reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), será uma oportunidade para se aproveitar todas as iniciativas já existentes e dar a elas um caráter global e interdisciplinar, adicionando nova gestão, planejamento estratégico e caráter empresarial. "Assim, após os eventos, serão deixados não apenas piscinas, estádios e hotéis, mas redes de Centros Olímpicos Educacionais e Museus de Ciências, onde serão preparados e realizados os eventos em cada país-sede".

As etapas iniciais para a estruturação do evento são a constituição de um Comitê Olímpico Educacional Brasileiro (COEB), articulando ministérios da Educação, da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Esporte e das Relações Exteriores, em cooperação com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB); e a oficialização da Olimpíada Internacional Educacional pela Unesco e pela ONU. Além disso, seriam abertas licitações públicas para atividades empresariais de organização, exploração de produtos - como camisetas e bonés - e serviços necessários à organização.

Já as medidas legais e operacionais ficam a cargo da SBPC e da ABC, em parceria com o governo federal, que fornecerá os fundos iniciais necessários para a realização da primeira edição. Mascarenhas reforça também a importância de cativar grandes empresas para a viabilização do evento, por meio de patrocínios. Segundo o físico, grandes empresas, como Gerdau e Vale, podem lucrar com a iniciativa e ainda ajudar na criação de um fundo internacional para a educação.

"Além de corações, pulmões, membros, músculos, ossos e tendões, necessários aos esportes, o cérebro humano é o mais nobre atributo para a criação, através do processo educação-aprendizagem e do conhecimento universal", conclui Mascarenhas.(Portal Brasilianas.org)



NASA fotografa redemoinho em Marte

hypescience


NASA

A NASA fotografou, em 16 de fevereiro, um redemoinho rasgando em Marte. O twister marciano se ergueu em uma enorme coluna de poeira com mais de 800 metros de altura.

O redemoinho de 30 metros, ligeiramente curvo, foi desencadeado por um vento a oeste do planeta. Faixas de furacões anteriores também são visíveis na imagem, aparecendo como manchas na superfície de Marte. A sombra do redemoinho também pode ser claramente vista na foto.

Redemoinhos ocorrem tanto na Terra quanto em Marte. Os fenômenos são colunas de ar girando, que ficam visíveis pela sujeira que sugam do chão.

Ao contrário dos tornados, redemoinhos geralmente se formam em dias claros, quando o solo absorve uma grande quantidade de calor do sol. Se as condições forem adequadas, o ar aquecido próximo à superfície pode começar a girar à medida que sobe através de pequenos bolsões de ar mais frios logo acima dele.
Assim como na Terra, os ventos marcianos são alimentados por aquecimento solar. Embora Marte esteja próximo ao afélio, época do ano marciano em que o planeta fica mais distante do sol, ainda recebe energia solar suficiente para conduzir redemoinhos em sua superfície.

A nave da NASA que fez as imagens, Mars Reconnaissance Orbiter, analisa Marte com seis instrumentos científicos desde a sua chegada ao planeta, em março de 2006. A nave continua a fornecer informações valiosas sobre o meio ambiente antigo do planeta, e como os processos tais como o vento, impactos de meteoritos e geadas sazonais ainda afetam a superfície de Marte até hoje.[LiveScience]