29 de nov. de 2011

Encontro Regional de Ensino de Astronomia no Paraná

Jornal da Ciência

Norte do Paraná recebe astrônomos

Encontro Regional de Ensino de Astronomia começa na próxima quarta-feira 30)

A cidade de Arapoti, Norte do Paraná, será palco do 24º Encontro Regional de Ensino de Astronomia (EREA), entre os dias 30 de novembro e 3 de dezembro. O evento vai acontecer no Núcleo Regional de Educação (NRE) da região e contará, na abertura, com a presença do professor Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro, que vai falar sobre os desafios da educação e sua experiência na viagem espacial.

Realizado pela Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) em parceria com o NRE de Wenceslau Braz, o EREA vai promover palestras sobre o ensino da astronomia e oficinas didáticas. Durante o programa, os participantes aprenderão sobre as ciências espaciais, curiosidades e os erros básicos divulgados em livros. Ainda haverá aulas sobre montagem de luneta, observações astronômicas, comparação do tamanho dos planetas, entre outros.

Para a organizadora local do evento e chefe do NRE, Sheila Alvarez Ferreira, o EREA representa uma oportunidade única para professores da região, pois permitirá o contato com cientistas importantes, possibilitando a capacitação, a troca de experiências e a disseminação de métodos práticos de ensino de astronomia e astronáutica.

"A principal proposta é oferecer aos nossos professores o crescimento profissional e com isso melhorar a qualidade do ensino em nossa região. Esperamos que o encontro desperte o "astrônomo amador" que existe em cada um de nós, valorizando e disseminando essa Ciência nas escolas públicas paranaenses", reforça.

Para João Canalle, coordenador nacional da OBA, a proposta central do EREA é discutir e compartilhar práticas pedagógicas voltadas ao ensino da astronomia, além de divulgar a importância dessa ciência em âmbito regional. "O nosso objetivo central é buscar caminhos, criar rotas de conhecimento e sermos uma ponte a fim de promover e fomentar (estimular) a integração entre educadores, pesquisadores e astrônomos", enfatiza.

O Encontro Regional de Ensino de Astronomia nasceu no Ano Internacional de Astronomia (AIA), em 2009, por ocasião das suas comemorações. O responsável por esta iniciativa, junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é o professor Jaime Fernando Villas da Rocha (Unirio), membro do Comitê Brasileiro organizador do AIA. O evento também é realizado por João Batista Garcia Canalle, coordenador nacional da OBA, e por membros dos comitês locais.

(Ascom da OBA)






Lançamento da Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (RBGEA)

Geofísica Brasil

Foi realizado durante o 13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental o lançamento da Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (RBGEA) que passou a ser a revista oficial da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (ABGE).

ABGGEA terá freqüência de três números anuais e números especiais no caso da seleção de um grupo de artigos selecionados sobre um tema especifico.

O lançamento desta revista deve-se a diversos fatos:

1 - No Brasil temos cerca de 10 revistas de áreas afins onde pode-se encaminhar artigos para publicação, porém os enfoques são para outras áreas de conhecimento;

2 - Atualmente existem cerca de uma dezena de periódicos internacionais que realmente trazem os avanços ocorridos "Engineering Geology (publicado pela Elsevier), Quarterly Journal of Engineering Geology and Hydrogeology (publicado pelo Engineering Group da Geological Society of London, Bulletin of Engineering Geology and Environment (publicado pela Springer), Geotechnical and Geological Engineering (publicado pela Springer), Rewier in Engineering Geology (publicado pela (Geological Society of America), Italian Journal of Engineering Geology and Environment (publicado pela "La Sapienza" Publishing House da University of Rome "La Sapienza"), Journal of the Japan Society of Engineering Geology (publicado pela Japan Society of Engineering Geology), Hydrogeology and Engineering Geology (Founded in 1957, is in charge of Land and Resources, China Geological Environmental Monitoring Institute), Journal of Engineering Geology (AD of Publication: China), Australian Geomechanics (Published for the Australian Geomechanics Society by the Institution of Engineers, Australia), Australian Journal of Earth Sciences (An International Geoscience Journal of the Geological Society of Australia)", e cerca de uma centena de revistas consideradas como regionais em língua do próprio país distribuídas nos diferentes continentes e que abordam os avanços no país ou região;

3 - A Geologia de Engenharia deve-se manter com a IDENTIDADE da atividade profissional. Esta publicação tem como objetivo a divulgação de textos ORIGINAIS sobre investigações, estudos e soluções de problemas de engenharia e ambientais, decorrentes da interação entre a Geologia e as atividades humanas (incluindo aspectos relevantes da Geologia relacionados à Engenharia Civil, Mineração e Recursos Hídricos, assim como relacionados à previsão de eventos perigosos, as áreas contaminadas, aos processos geológicos, a prevenção e remediação de áreas degradadas), Planejamento Territorial e Ambiental, Banco de Dados e Casos Históricos relacionados à Geologia de Engenharia e Ambiental; e temas científicos de interesse amplo e caráter original relacionada com a Geologia de Engenharia e Ambiental do Brasil, de outros paises de língua portuguesa e países circunvizinhos de língua Espanhola, inclusive processos modernos e novas técnicas de campo e laboratório.

Serão aceitos a submissão de textos que podem ser redigidos em português ou espanhol, e em casos específicos escritos em inglês ou francês.

Os tipos de textos que serão aceitos para encaminhamento aos revisores são os seguintes:

1 - Artigos - modo principal de publicação, trazendo contribuições originais, e deve conter até 10.000 palavras, incluindo referências bibliográficas. Não serão aceitos artigos particionados (Ex. parte 1, parte 2). Os artigos deverão permitir a leitura, independente de um artigo anterior.

2 - Discussões - seção destinada a divulgar comentários sobre Artigos publicados recentemente, seguida da Réplica pelo(s) autor (es) do trabalho de origem. Ambos os textos devem ser breves, objetivos e concisos.

3 - Resenha de Livros - As resenhas são publicadas a convite do Editor.

4 - Notícias de cunho Geológico - Trata-se de noticias que mereçam rápida comunicação.

Espera-se que este periódico atinja suas funções estreitando os laços entre os profissionais que atuam na formação e pesquisa com aqueles que atuam em empresas publicas e privadas que tornaram a profissão de GEÓLOGO DE ENGENHARIA importante para a sociedade nos mais diferentes aspectos; e que também venha dotar os estudantes e profissionais de subsídios técnicos que os torne cada dia melhores.


ABGE - 25/11/2011




João Câmara: 25 anos de tremores

Geofísica Brasil

 
O município de João Câmara, no Agreste potiguar, vai rememorar os 25 anos dos tremores sísmicos que abalaram a população em 1986. No dia 30, data em que houve o tremor de terra mais devastador (de 5.1 graus na escala Richter), a prefeitura local vai organizar uma audiência pública e uma série de palestras. O evento começa às 9h da manhã, na sede da Câmara Municipal.


"Não usamos a expressão comemorar porque foi uma tragédia que se abateu no município. Por isso usamos o termo rememorar. O objetivo é mostrar à população o que foi o abalo, o que ocorreu. Queremos também preparar as pessoas para os riscos de um novo abalo, já que aqui é uma área sísmica", explica Elizângela Souto, membro da Comissão Municipal de Defesa Civil (Condec).

A grande quantidade de tremores de terra que atingiu João Câmara em 1986 foi a mais estudada atividade sísmica já observada no Brasil. O primeiro abalo foi registrado em Brasília, no dia 21 de agosto, alcançando magnitude 4.3. Nosdias 3 e 5 de setembro, foram dois tremores. Um de 4.3 e outro de 4.4 graus na escala Richter, usada internacionalmente para medir tremores e terremotos. Esses abalos provocaram danos materiais e assustaram ainda mais a população.

No dia 30 de novembro, no raiar do dia (pontualmente às 5h19min48s), o maior tremor, de 5.1 graus foi registrado, seguido de várias réplicas, inclusive com magnitude 4.0. Tanto na zona urbana quanto na rural, grande parte da população abandonou o município. Os tremores destruíram ou danificaram 4 mil casas, 500 delas foram reconstruídas adotando normas anti-sísmicas, desenvolvidas pelo Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro. O Presidente da República e vários outros ministros visitaram a área atingida. A imprensa nacional também acompanhou os fatos, inclusive montando acampamentos na cidade.

Evento

O evento deve reunir vereadores e prefeitos da região do Mato Grande, o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, Cel. Elizeu Lisboa Dantas, a coordenação estadual de Defesa Civil,Cruz Vermelha, Petrobras, Departamento Nacional de Produção Mineral, entre outras instituições. Um dos palestrantes é o Monsenhor Luiz Lucena Dias, padre da cidade na época do abalo, e ainda hoje o pároco local. O professor do Departamento de Sismologia da UFRN, Joaquim Mendes Ferreira, é um dos convidados para dar uma palestra.

Para a população mais jovem, que não vivenciou os "terremotos de João Câmara", como ficaram conhecidas as intensas atividades sísmicas no município, haverá slides com exposição de fotos e reportagens da época. "Também estamos montando um histórico de fotos", acrescenta Elizângela Souto, uma das organizadoras do evento.

Escritor de terremotos

Ao perceber a proximidade dos 25 anos do tremor sísmico que abalou João Câmara no dia 30 de novembro de 1986, o professor aposentado de Geofísica e Geologia da Universidade de Brasília (UnB), Alberto Veloso, decidiu escrever um livro sobre o fato. Menos de cinco meses depois, a obra foi concluída e será lançada na próxima quarta-feira, 30, em João Câmara, e dia 2 de dezembro no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O livro "O terremoto que mexeu com o Brasil", destaca vários abalos registrados no país, especialmente no Nordeste, nas áreas onde os tremores são mais comuns. Histórias curiosas sobre os primeiros abalos de que se tem notícia no Brasil ocorridos na época do Império, o interesse de D.Pedro II em estudar o assunto e o primeiro tremor catalogado no Rio Grande do Norte ocorrido no município de Assu, em 1807, são relatados no livro.

Como teve um envolvimento direto com a cidade de João Câmara onde ficou por duas semanas após o tremorde novembro de 1986, o autor dedicou parte da obra ao abalo que afetou a cidade na madrugada daquele domingo e nas duas semanas subsequentes. Há quase quatro anos Alberto esteve novamente no município para coletar dados e informações dos moradores que vivenciaram o ocorrido.

A ideia do professor era acrescentar detalhes na obra que escreve há cinco anos sobre terremotos em todo Brasil. "Pensei em escrever um livro pequeno sobre o tremor em João Câmara e tudo que presenciei naqueles dias, mas o material que cataloguei é muito rico, por isso agora decidi escrever este livro", conta Alberto. Após concluído, o livro "O terremoto que mexeu com o Brasil" ficou com 352 páginas.

Além dos depoimentos dos moradores, documentação, jornais e fotos da época, o leitor poderá assistir ainda um DVD inédito de 16 minutos gravados pelo próprio Alberto durante os dias em que ficou em João Câmara após o maior abalo já registrado no Rio Grande do Norte e um dos maiores do Nordeste.

De forma didática, o professor consegue explicar no livro detalhes sobre as placas tectônicas, as falhas geológicas que causam os temidos abalos sísmicos e como a ação do homem também pode ocasionar os sismos induzidos como, por exemplo, a construção de barragens. No final da obra, uma cartilha alerta sobre como as pessoas devem agir e se proteger no momento de um abalo. "Informações simples como procurar abrigo embaixo de uma mesa ou sair do imóvel e ficar em local aberto podem fazer a diferença para os moradores das regiões mais susceptíveis aos tremores", destacou.

Entrevista >> Alberto Veloso

Como iniciou o estudo da sismologia em João Câmara?

O primeiro abalo foi registrado em agosto de 1986. Decidimos então implantar uma estação de sismologia em João Câmara para que esses movimentos da terra fossem registrados. No mês de setembro outros pequenos tremores também foram detectados pelo equipamento durante alguns dias consecutivos. No mês de outubro os abalos deram uma trégua e em novembro foi registrado o maior deles de magnitude 5.1.

O senhor esteve no município acompanhando a equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Sim, logo que soube do abalo decidi participar dos estudos na área. Cheguei por volta das 15h em João Câmara. A cidade estava muito destruída. Centenas de pessoas perderam suas casas e resolveram se mudar para outras cidades com medo do que poderia acontecer. A escola teve que ser demolida depois porque a estrutura estava bem comprometida. Até a delegacia que havia sido construída recentemente e ainda não havia sido inaugurada teve que ser demolida. Cerca de 400 casasforam afetadas e mais de 26 mil pessoas deixaram a cidade.

Como foi a repercussão do terremoto?

O tremor foi repercutido em toda a mídia nacional. João Câmara ficou conhecida, em evidência mesmo. Autoridades políticas como o governador Radir Pereira e o presidente José Sarney estiveram lá para acompanhar os estudos e ajudar os desabrigados. O Exército ficou com a responsabilidade de construir as residências para as famílias desalojadas ou que tiveram as construções abaladas.

O senhor ficou quanto tempo em João Câmara nessa época?

Cheguei no dia 30 de novembro por volta das 15h e só voltei para Brasília duas semanas depois. Nesses dias aproveitei para conversar e gravar depoimentos com moradores e é esse material que está incluso no livro e que o leitor vai poder ver imagens reais do local feito por um cinegrafista amador: eu! O vídeo foi editado da melhor forma possível para que pudesse manter a originalidade do fato em 16 minutos.

O Brasil fica quase no centro de uma placa tectônica. Isso diminui a quantidade de tremores?

Digamos que suaviza, mas nenhum lugar do mundo pode garantir ter estabilidade absoluta. Isso é muito relativo porque depende tanto da natureza quanto das ações do homem. Por ano são registrados no mundo cerca de 500 mil tremores. A partir de agosto de 1986, João Câmara registrou sete anos de abalos. Desde que instalamos a estação em João Câmara foram registrados mais de 40 mil.

Qual o motivo de João Câmara e cidades da região registrar tantos abalos?

Existe uma falha geológica encontrada em João Câmara que não pode ser detectada a olho nu, somente com estudos e fotografias detalhadas. Mas ela está localizada entre 1 km e 7 km de profundidade e tem aproximadamente 30 quilômetros de extensão. Alguns dos abalos registrados no município foram sentidos em João Pessoa (PB).

Diário de Natal - Sérgio Henrique Santos - 27/11/2011



28 de nov. de 2011

Uma bússola para os tsunamis

Revista Pesquisa Fapesp

Alterações no campo magnético da Terra podem alertar sobre a chegada de ondas gigantes.

Igor Zolnerkevic
Edição Impressa 189 - Novembro 2011
© THE YOMIURI SHIMBUN, YASUSHI NAGAO / AP / GLOWIMAGES
Redemoinho formado por ondas do tsunami de março de 2011 em Iwaki, costa norte do Japão.

Em 11 de março deste ano, um terremoto de magnitude 9 na escala Richter produziu uma onda gigante, ou tsunami, que devastou a costa leste do norte do Japão, causou quase 16 mil mortes e deixou cerca de 10 mil pessoas feridas e desaparecidas. Em meio às notícias da catástrofe, circulou pela imprensa uma nota curiosa: segundo estimativas de geofísicos norte-americanos e italianos, o terremoto japonês deslocou em alguns centímetros o eixo ao redor do qual se distribui a massa da Terra. Provocado pelo deslizamento de uma placa tectônica para baixo de outra durante o tremor, o rearranjo da massa do planeta também teria acelerado a rotação da Terra e encurtado o dia em 6,8 milionésimos de segundo, produzindo um efeito similar ao de uma patinadora no gelo que passa a girar mais rápido quando recolhe seus braços.

Mas essas duas sutis alterações geofísicas não foram as únicas produzidas por terremotos seguidos de tsunamis. Segundo um estudo produzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, e do Observatório Nacional (ON), do Rio de Janeiro, esses grandes fenômenos naturais provocam ínfimas perturbações no campo magnético da Terra que podem ser medidas e usadas para monitorar o surgimento e a evolução das ondas gigantes. A viabilidade dessa abordagem é defendida num artigo científico que acaba de ser submetido a uma revista internacional. De acordo com os geofísicos brasileiros, as conclusões do trabalho podem servir de base para produzir melhorias significativas e de baixo custo nos sistemas atuais de alerta contra tsunamis.

Não é novidade que os oceanos podem influenciar sutilmente o campo magnético percebido pelas bússolas e gerado no centro da Terra. Pesquisadores mediram já no final dos anos 1960 a variação no campo geomagnético induzida pelo movimento diário das marés. O sal dissolvido na forma de íons de cloro e sódio eletricamente carregados faz da água do mar um fluido condutor de eletricidade. Os movimentos desse fluido com respeito ao campo magnético da Terra induzem pequenas correntes elétricas no mar, explica a geo¬física Virgínia Klausner, do ON, uma das autoras do estudo dos tsunamis. Chamado de efeito de dínamo, o fenômeno é o mesmo que gera corrente elétrica em um fio de metal condutor quando este se movimenta próximo de um ímã, afirma o físico Odim Mendes Junior, do Inpe, um dos orientadores de doutorado de Virgínia. “Essas correntes elétricas sustentadas no mar por sua vez criam um campo magnético que se sobrepõe ao campo magnético da Terra e que você pode medir com magnetômetros adequados”, diz Mendes, cujos trabalhos são financiados pela FAPESP.

Medir o magnetismo de um tsunami, entretanto, parecia algo impossível até pouco tempo atrás. Enquanto a intensidade do campo magnético da Terra é da ordem de 30 a 50 mil nanoteslas – 20 vezes menor que a de um ímã de geladeira – a variação nesse campo provocada por um tsunami seria de 1 a 10 nanoteslas. Até existem magnetômetros com a precisão necessária para medir essas variações, mas o sinal pode ser mascarado por perturbações magnéticas centenas de vezes mais intensas provocadas, por exemplo, por tempestades solares.

O Sol, porém, passava por uma fase excepcionalmente calma quando, em 27 de fevereiro de 2010, um terremoto de magnitude 8,8 na costa do Chile gerou um tsunami que se propagou por todo o Pacífico. Com grande dificuldade, os geo¬físicos Chandrasekharan Manoj e Stefan Maus, da Agência Norte-americana de Administração da Atmosfera e dos Oceanos (Noaa), nos EUA, junto com Arnaud Chulliat, do Instituto de Física do Globo de Paris, na França, conseguiram distinguir visualmente um sinal de 1 nanotesla captado por um magnetômetro instalado na ilha de Páscoa, a 3.500 quilômetros do epicentro do terremoto. O sinal coincidia com a chegada do tsunami à ilha e sua intensidade, de acordo com os cálculos publicados pelos pesquisadores no boletim EOS, da União Geofísica Americana, de 11 de janeiro de 2011, era consistente com a altura da onda detectada pelos sensores de pressão submarinos em alto-mar (15 centímetros).

O artigo chamou a atenção de Virgínia, que, orientada por Mendes e pelo geofísico Andrés Papa, do ON, trabalha analisando perturbações geomagnéticas decorrentes da interação Sol-Terra, registradas pelo observatório de Vassouras (RJ) e pela Rede Internacional de Observatórios Magnéticos em Tempo Real (Intermagnet). O Brasil localiza-se numa região bastante peculiar do ponto de vista geofísico: está sob a influência da Anomalia Magnética do Atlântico Sul, do Eletrojato Equatorial e da anomalia de ionização equatorial (ou de Appleton). Tais fenômenos tornam mais complexo o efeito das pertubações do campo magnético sobre o território brasileiro, que podem atrapalhar a prospecção de minérios e afetar linhas de transmissão de energia elétrica. Os cientistas perceberam que poderiam usar um método numérico que tinham desenvolvido, há mais de seis anos, para o estudo de perturbações geomagnéticas na busca por sinais dessa natureza associados aos tsunamis.
© NASA / EARTH OBSERVATORY
Ondas gigantes na costa do Sri Lanka: um dos locais atingidos pelo tsunami de 2004 no oceano Índico.

A técnica matemática é chamada de “análise wavelet” – ondas pequenas seria a tradução de wavelet. Ela é muito usada por físicos e engenheiros para distinguir estruturas localizadas ou, posto de forma mais coloquial, “agulhas em palheiros”. A ferramenta age como uma espécie de microscópio capaz de dar um zoom em características de sinais que passariam despercebidas. Essa propriedade permite identificar irregularidades locais no sinal geomagnético, entre as quais o começo de um tsunami e a assinatura típica de sua propagação.

Utilizando uma implementação dessa técnica, Virgínia, Mendes e Papa analisaram junto com Margarete Domingues, especialista do Inpe em wavelets, os dados de estações nos oceanos Índico e Pacífico que fazem parte da rede Intermagnet, mantida por 44 países, incluindo o Brasil, e que disponibiliza seus dados pela internet. Para três tsunamis recentes – o japonês de 2011, o chileno de 2010 e o de Sumatra-Andaman, que em 26 de dezembro de 2004 causou quase 300 mil mortes em vários países do oceano Índico –, os pesquisadores encontraram sinais magnéticos antecedendo a chegada das ondas gigantes em 10 estações da Intermagnet.

Virgínia lembra que não foi fácil encontrar estações magnéticas próximas aos centros de origem dos tsunamis, sobretudo para os eventos de 2004, que atingiu uma área de países pobres, com poucas estações, e o de 2011, que ocorreu tão perto da costa que houve interrupção no fornecimento de dados do observatório mais próximo, o de Kakioka, no Japão. O fato de nem sempre conseguirem dados de estações costeiras equipadas tanto com magnetômetros como marégrafos também dificultou uma comparação mais detalhada entre sinais magnéticos e o nível do mar. A exceção foi a estação de Papeete, na Polinésia Francesa, equipada com ambos instrumentos. Ali foi possível captar sinais magnéticos do tsunami chileno de 2010 até duas horas antes da chegada da onda.

 
Como nasce um tsunami

Geralmente produzidos por deslocamentos abruptos de falhas geológicas no assoalho oceânico (a causa também de terremotos), os tsunamis começam como ondas de comprimento da ordem de centenas de quilômetros. De início em águas profundas, elas se propagam rápido, cruzando os oceanos com velocidades entre 600 e 800 quilômetros por hora, mas se elevando apenas algumas dezenas de centímetros acima do nível do mar, passando despercebidas por barcos e navios. Quando alcançam o litoral, porém, a mudança de profundidade produz uma transformação radical em seu formato: o comprimento da onda encolhe, sua velocidade cai e, o mais impressionante, sua altura cresce, podendo alcançar dezenas de metros.

Como nem todo terremoto oceânico provoca tsunamis, os sismógrafos espalhados pelo planeta não são suficientes para alertar populações em áreas de risco. Para tanto, existem dezenas de sensores de pressão instalados no fundo do mar, a maioria no Pacífico. Entretanto, apenas os países mais ricos têm recursos para bancar a instalação e manutenção dos sensores, situação que deixa várias populações litorâneas vulneráveis. Além disso, o sistema pode levar horas para identificar um tsunami e nem sempre calcula com exatidão suas dimensões. Um boletim meteorológico japonês do último 11 de março, por exemplo, alertava para a chegada de um tsunami com pelo menos 3 metros de altura, quando as ondas de fato alcançaram até 50 metros.

Algumas limitações do sistema atual de alerta sobre a chegada de tsunamis talvez possam ser suplantadas com a adoção da abordagem defendida pelos brasileiros. O geofísico Maurício Bologna, da Universidade de São Paulo, que não participa do trabalho da equipe do Inpe e do ON, nota “uma vantagem importante” do sensoriamento magnético sobre os sensores submarinos de pressão: a capacidade de determinar não só a amplitude, como a direção e o sentido das ondas, o que ajudaria nos cálculos das propriedades dos tsunamis em tempo real. Bologna também destaca o baixo custo do método, que aproveitaria os observatórios já existentes da Intermagnet. A construção de novas estações em terra também seria mais barata que a instalação de sensores no fundo do mar.

Para o geofísico Robert Tyler, da Nasa, a agência espacial americana, o trabalho dos brasileiros é “importante e oportuno”. Tyler explica que o método desenvolvido poderia ser usado para analisar os dados, por exemplo, da missão Swarm, da Agência Espacial Europeia, que lançará em 2012 três satélites dedicados a medir variações geomagnéticas provocadas por alterações nas correntes oceâ¬nicas. “Os fluxos dos oceanos têm um papel central nas mudanças do sistema climático e também em desastres naturais, como os tsunamis”, ele diz.

O projeto
Análise das características do acoplamento eletrodinâmico plasma solar-magnetosfera com base nos efeitos das correntes elétricas planetárias - nº 2007/07723-7

Modalidade
Auxílio Regular a Projeto de Pesquisa

Coordenador
Odim Mendes Junior - Inpe

Investimento
R$ 44.274,95 (FAPESP)



NASA divulga mapa da Lua mais preciso já feito

Com informações da BBC


Dois instrumentos foram usados para produzir o mapa: uma câmera com lente grande-angular e um altímetro a laser. [Imagem: NASA/Goddard Space Flight Center/DLR/ASU]


Mapa da Lua

A NASA divulgou o mais preciso mapa da superfície da Lua já feito.

O mapa foi produzido usando informações enviadas pela sonda LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter), ou Orbitador de Reconhecimento Lunar, lançada em junho de 2009.

Um mapa similar havia sido apresentado em 2010, mas ainda sem a resolução obtida com as novas observações.

Um pixel no mapa representa uma área praticamente igual a dois campos de futebol.

As imagens revelam depressões e elevações em quase toda a Lua.

"Nossa nova visão topográfica da Lua fornece os dados que os cientistas lunares esperavam desde a era das missões Apollo", disse Mark Robinson, cientista-chefe da câmera da LRO.


Curvas de nível de lunares

Com o mapa, segundo Robinson, é possível determinar os graus de inclinação de todos os principais terrenos geológicos da Lua em uma escala de 100 m, além de determinar como a crosta lunar foi deformada, entender melhor a mecânica das crateras geradas por impactos e planejar melhor futuras missões à Lua, tripuladas ou não.

Dois instrumentos foram usados para produzir o mapa: uma câmera com lente grande-angular e um altímetro a laser.

A nave LRO possui seis instrumentos projetados para coletar informações detalhadas sobre o ambiente do satélite natural da Terra.





Folha de S.Paulo
São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Show da física

Ganhador do Nobel faz truques com nitrogênio líquido para explicar pesquisa e popularizar ciência
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
Marisa Cauduro/Folhapress


William Phillips, vencedor do Prêmio Nobel em Física, brinca com nitrogênio líquido durante palestra.

Uma apresentação com muita fumaça, objetos levitando e gritos de espanto da plateia adolescente. A palestra de William Phillips, vencedor do Nobel em Física de 1997, mais parece um show de mágica. Com uma diferença: ele explica exaustivamente cada um de seus truques.

Com o propósito declarado de atrair mais jovens para a área científica, o pesquisador apresentou uma versão "para leigos" do trabalho que lhe rendeu o prêmio máximo da ciência em um auditório lotado, ontem, no Colégio Etapa, em São Paulo.

"Ganhar o Nobel não facilitou a minha vida na hora de publicar um trabalho ou conseguir financiamento. O que aumentou foi a possibilidade de falar para grandes grupos e incentivar o gosto pela ciência", disse à Folha.

Usando uma gravata com uma paisagem do filme "Guerra nas Estrelas", o ex-técnico da seleção olímpica de física dos EUA conquistou a plateia, que reunia tanto interessados em ciência quanto gente que queria ver de perto um cientista famoso.

Entre um truque com nitrogênio líquido e outro, o cientista explicou a complexa tarefa de capturar átomos em uma armadilha que une raios laser e campos magnéticos.

A descoberta -que lhe rendeu o Nobel juntamente com Steven Chu e Claude Cohen-Tannoudji- teve aplicações práticas, como a construção de relógios quânticos de altíssima precisão.

Para entender o tamanho da descoberta, basta fazer uma comparação com um relógio comum, como o que as pessoas usam no pulso.

Um bom relógio de quar-tzo perde cerca de 30 segundos de precisão por ano. Já em um relógio quântico aperfeiçoado após a criação do método, isso cai para um segundo em 1 milhão de anos.

Tamanha precisão, além de ser empregada em experimentos científicos, já está inserida no cotidiano. Sem os relógios quânticos, por exemplo, o sistema de GPS não seria possível.

CIÊNCIA BRASILEIRA

No Brasil pela sexta vez, o pesquisador disse conhecer pouco da ciência nacional, mas elogiou os trabalhos com os quais teve contato.

"Os trabalhos que eu vi em São Carlos [interior de SP] são de ponta, estão entre os melhores do mundo", disse. Ele citou como um dos exemplos de excelência as pesquisas em física quântica da USP.

Para o coordenador da Olimpíada Brasileira de Física, Euclydes Marega, o contato com grandes nomes da ciência se reflete na motivação dos alunos.

"Eles encontram alguém para se espelhar. É como, para um interessado em futebol, encontrar o Ronaldinho. Enquanto o Brasil não tem um vencedor nacional, precisamos aproveitar essas oportunidades de contato com os estrangeiros", disse.

Medalha de Prata na olimpíada nacional de matemática em 2007, Ana Lucia Cox, 17, concorda. Depois de tirar foto e ter a blusa autografada por Phillips, ela comemorou.

"Adoro física, quero seguir na área de ciência ou engenharia. É muito bom receber dicas de alguém tão bem-sucedido nesses assuntos."

Mesmo querendo "cooptar" jovens, Phillips ressaltou que a carreira científica também tem seus problemas.
"Ser cientista não dá dinheiro. Se quiser ficar muito rico, vá trabalhar com negócios ou direito. Por outro lado, dá um prazer imenso para quem é curioso e se interessa por saber como as coisas funcionam."

RAIO X - WILLIAM PHILLIPS

NASCIMENTO
Dia 5 de novembro de 1948, na cidade de Wikes-Barre, na Pensilvânia, EUA

PREMIAÇÃO
Nobel em Física em 1997 por seu trabalho com física atômica com os colegas Steven Chu e Claude Cohen-Tannoudji. Eles desenvolveram técnicas para controlar o movimento de átomos com a luz.

FILIAÇÃO
Nist (Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia), uma espécie de Inmetro dos EUA




Partícula mais veloz que a luz vence teste

Folha de São Paulo


Novas observações feitas por italianos reforçam tese de que neutrinos romperiam limite cósmico de velocidade.
Físicos agora dizem ter segurança suficiente para publicar resultado em revista, mas outros cientistas pedem calma.

DO EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

A ideia de que uma misteriosa partícula-fantasma é capaz de viajar mais rápido do que a luz continua de pé, segundo o grupo de cientistas italianos que diz ter observado o fenômeno em setembro.

Entre o fim do mês passado e o começo deste, eles refizeram os experimentos com neutrinos (a tal partícula misteriosa) e verificaram que a anomalia se mantém.

Ao atravessar os 730 km entre Genebra, na Suíça, e Gran Sasso, na Itália, os neutrinos chegam 60 nanossegundos (bilionésimos de segundo) antes do que deveriam se estivessem respeitando a velocidade da luz.

Agora, os cientistas do grupo se sentem confiantes o suficiente para submeter o resultado à publicação num periódico científico, informa a revista "New Scientist".

Entre os que assinarão o artigo científico está Luca Stanco, do Instituto Nacional de Física Nuclear da Itália. Stanco integrava um conjunto de 15 cientistas do grupo Opera (o responsável pelas observações) que tinha se recusado a associar seu nome aos achados antes, por acreditar que poderia haver um erro de metodologia no trabalho.

Ele disse à "New Scientist" que mudou de ideia porque as novas medições são "absolutamente compatíveis" com os dados originais.

Ainda não está claro como encaixar a descoberta, se ela estiver mesmo certa, no que a teoria da relatividade de Albert Einstein diz sobre o funcionamento do Cosmos.

Para Einstein, o limite de velocidade cósmico de 300 mil km/s teria uma resistência quase intransponível a ser quebrado. Os objetos que se aproximassem dele ficariam cada vez mais maciços, até se aproximar de uma massa infinita - impossível de existir.

George Matsas, físico teórico da Unesp, considera "muito estranho" que apenas os neutrinos quebrem esse limite, enquanto o resto do Universo parece segui-lo.

"Se as observações forem mesmo confirmadas, um cenário possível é que os neutrinos estejam viajando por dimensões extras que só eles visitam", como se fosse um atalho, afirma Matsas. Essa possibilidade é, em princípio, compatível com a teoria da relatividade de Einstein.

Para Luís Carlos Bassalo Crispino, físico da Universidade Federal do Pará, os dados ainda são "extremamente polêmicos". "Tendo a ser conservador e achar que isso é um erro. Há outras áreas muito mais férteis na física hoje, com dados muito mais sólidos", diz Crispino.

(REINALDO JOSÉ LOPES)




O mestre do método científico

São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2011
MARCELO GLEISER

O protagonista da série "House" é defensor da dedução lógica para chegar a uma conclusão racional.

Imagino que a maioria de vocês conheça a megassérie da Fox, "House", agora em seu oitavo ano. Para quem não conhece, o enredo é mais ou menos assim: em um hospital perto de Princeton, nos EUA, trabalha o genial e genioso Dr. Gregory House -representado magistralmente por Hugh Laurie-, líder de um time de médicos especializados em diagnósticos complicados, aqueles que nenhum outro médico consegue decifrar.
À sua incrível intuição, o doutor House une sua irreverência e um conhecimento enciclopédico do corpo humano e de suas sutilezas. Excêntrico, não confia em ninguém, principalmente nos seus pacientes. Ele é um modelo do cientista dedicado à aplicação do método científico, defensor da dedução lógica para se chegar a uma conclusão racional. Na série, o rei é o método empírico.

Um paciente chega com uma série de sintomas misteriosos. House e seu time começam suas investigações, tentando antes as explicações mais óbvias. Em geral, estas falham e eles têm de pensar mais profundamente e, muitas vezes, de forma não convencional, sobre quais são as causas dos sintomas.

O primeiro passo é combinar toda a evidência disponível. Sua arma básica é o ceticismo. Fazem baterias de testes, coletando mais dados, tentando decifrar o quebra-cabeça. Uma causa plausível deve conectar todos os sintomas, dando sentido aos dados. De certa forma, cada diagnóstico é uma descoberta, uma ponte conectando informação de modo inesperado e inovador.

A ciência de ponta muitas vezes funciona da mesma forma: dados são obtidos, conexões são buscadas, hipóteses são construídas e testadas, comparando-as aos dados experimentais. Se funcionam, isto é, se explicam o que está ocorrendo, são aceitas preliminarmente até mais dados serem colhidos.

O processo de teste é contínuo, até que haja suporte suficiente para a hipótese. Ela é então aceita, até que novos dados possam vir a contradizê-la. A ciência avança por meio de seus fracassos. Novas ideias são necessárias quando as velhas não podem explicar as observações. Portanto, não há explicações finais, apenas explicações melhores.

Em "House", e na medicina em geral, quando uma hipótese diagnóstica é considerada razoável, medicação é receitada para curar a doença. Se funciona como é previsto, ótimo: o paciente fica curado e o médico vai em frente, tentando curar outros. Se não funciona, o processo começa outra vez. Na série, novas ideias são discutidas em reuniões de grupo, onde sintomas e resultados de testes são comparados e discutidos, hipóteses são propostas e debatidas em conjunto. Essas discussões são essenciais para que novas ideias surjam. Na pesquisa, é muito comum que ideias nascidas como conjecturas ganhem corpo e expressão. Mesmo que o doutor House em geral tenha razão, o processo é válido, e imita o que ocorre em laboratórios e centros de pesquisa pelo mundo afora.

Claro, o doutor que cura os outros não sabe como se curar. Ou não quer. É difícil combinar objetividade e subjetividade, algo que imagino que muitos telespectadores saibam. Talvez devamos ouvir as sábias palavras de Sócrates, que há mais de 24 séculos já dizia que o essencial é conhecer a si mesmo.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook:http://goo.gl/93dHI




23 de nov. de 2011

Sonda russa Phobos-Grunt dá sinais de vida

IG - Último Segundo

Missão russa a lua marciana foi dada como perdida, mas fez contato com base. Técnicos estudam agora como recuperá-la


Após ser considerada perdida no espaço, a sonda interplanetária russa Phobos-Grunt, que após problemas na propulsão de seus foguetes, ficou em órbita terrestre em vez de seguir rumo a Marte, deu sinais de vida, confirmou em comunicado a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).

A ESA indicou que a estação de acompanhamento de Perth (Austrália) recebeu sinais da Phobos-Grunt nesta terça-feira (22), primeira vez que se consegue estabelecer contato com a sonda, lançada ao espaço há duas semanas.

"Estabelecemos comunicação com o aparelho em uma frequência, mas por enquanto não recebemos informações", disse à agência de notícias oficial russa Itar-Tass o representante da ESA na Rússia, Rene Pishel.

O contato ocorreu horas após o subdiretor da Roscosmos (agência espacial russa), Vitaly Davydov, considerar a sonda praticamente perdida.

A ESA anunciou que estuda agora maneiras de manter a comunicação com a sonda e ressaltou que suas equipes "estão trabalhando estreitamente com engenheiros da Rússia para determinar a melhor maneira de manter a comunicação".

Os técnicos em Perth usaram uma pequena antena, reforçada com um cone, para mandar um sinal mais amplo, embora de baixa potência – parecido com o que seria mandado para se comunicar com a sonda depois que ela chegasse ao espaço sideral, como inicialmente planejado. “Fizemos como se ela estivesse já em Marte, e não a 340 quilômetros da Terra, onde ela está agora,” explicou Bernard von Weyhe, porta-voz da ESA.

Davydov, da Roscosmos, afirmou que os especialistas russos vão continuar tentando até o fim do mês corrigir a rota da sonda. Se fracassarem, a nave pode cair na Terra entre dezembro e fevereiro, e o local de impacto não poderá ser estabelecido com mais de um dia de antecedência.

A sonda pesa 13,2 toneladas e a maior parte de seu peso vem de uma carga de combustível extremamente tóxica. É possível que o combustível se congele em órbita e derrame durante a queda, mas a maior parte dos especialistas acredita que ele continuará líquido e se queimará na reentrada atmosférica.

Lançada no último dia 8, a Phobos-Grunt deveria cumprir uma missão de 34 meses que incluía o voo a Phobos (uma das duas luas de Marte), um pouso à superfície do astro e, por fim, o retorno à Terra de uma cápsula com amostras do solo do satélite marciano.

O projeto, avaliado em 5 bilhões de rublos (US$ 170 milhões), tinha como objetivo estudar a matéria inicial do sistema solar e ajudar a explicar a origem de Phobos e Deimos - a segunda lua marciana -, assim como dos demais satélites naturais do Sistema Solar.

(Com informações da EFE e AP)

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22 de nov. de 2011

NASA anuncia descoberta de Grandes Lagos em lua de Júpiter

Redação do Site Inovação Tecnológica


"Grandes Lagos" da lua Europa, de Júpiter, estariam a vários quilômetros abaixo de sua superfície congelada. [Imagem: Britney Schmidt/Dead Pixel VFX/Univ. of Texas at Austin]


 
Grandes Lagos em Europa

Analisando dados da sonda espacial Galileo, da NASA, cientistas acreditam ter encontrado fortes indícios daquilo que parece ser água líquida em Europa, uma das luas de Júpiter.

O "corpo de água em estado líquido" tem o mesmo volume dos Grandes Lagos, localizados na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá, que têm uma superfície de 244.000 quilômetros quadrados (km2) - o lago da represa de Itaipu tem 1.350 km2 .

Usando informações do estudo das camadas de gelo da Terra, os cientistas sugerem que há "uma troca" entre a camada de gelo de Europa e essa porção de água líquida.

Segundo a NASA, "esta informação reforça os argumentos de que o oceano global abaixo da superfície de Europa representa um habitat potencial para a vida em outro ponto do nosso Sistema Solar."


Oceano submerso

A sonda espacial Galileo foi lançada em 1989, a bordo do ônibus espacial Atlantis. Em 2003, terminada sua missão, ela se chocou de forma planejada contra Júpiter.


Um dos resultados mais significativos da missão foi a inferência de um oceano salgado abaixo da superfície, cobrindo toda a lua - algo como 160 km de profundidade, com uma cobertura entre 10 e 30 km de gelo. Se aqueles cálculos estiverem corretos, há mais água em Europa do que em todos os oceanos da Terra.

Entretanto, dada sua distância do Sol, a superfície do oceano seria completamente congelada - os cientistas falam em uma camada de gelo com dezenas de quilômetros de espessura.

Isso desanimou os cientistas que buscam sinais de vida fora da Terra.

Mas se os novos cálculos estiverem corretos, um corpo de água em estado líquido coloca Europa novamente na agenda dos astrobiólogos, ainda que os lagos estejam a cerca de três quilômetros de profundidade, abaixo da camada de gelo.


A melhor explicação para as estranhas formações na superfície da Lua são estruturas de gelo. [Imagem: NASA/Ted Stryk]


Coincidências para a vida

"Entretanto, cientistas ao redor do mundo vão querer dar uma olhada de perto nesta análise e revisar os dados antes que possamos avaliar completamente as implicações desses resultados," afirmou Mary Voytek, diretora do programa de astrobiologia da NASA.

De fato, as conclusões deste novo estudo são altamente especulativas porque se baseiam na inferência anterior de que existiria um oceano abaixo da camada de gelo de Europa.

Não existe nenhuma comprovação deste oceano, o que deverá ser objeto de uma futura missão, eventualmente com uma sonda para perfurar o gelo.

Os pesquisadores identificaram duas saliências ligeiramente circulares sobre a superfície de Europa, chamada de terrenos caóticos.

Baseando-se em processos similares observados na Terra - em plataformas de gelo e sob as geleiras sobre áreas vulcânicas - eles desenvolveram um modelo de quatro etapas para explicar como esse terreno poderia ter-se formado.

O modelo resolve várias observações conflitantes - algumas sugerem que a camada de oceano é fina, outras sugerem que a camada é grossa.

O modelo propõe que as características caóticas na superfície de Europa podem ser formadas por mecanismos que envolvem uma inter-relação íntima entre a camada de gelo e a água de subsuperfície.

Isso criaria um mecanismo para transferir energia - e eventualmente nutrientes - entre a superfície e o presumido oceano abaixo - o que por sua vez aumenta o potencial para a existência de formas de vida na lua.


Bibliografia:
Active formation of ‘chaos terrain’ over shallow subsurface water on Europa
B. E. Schmidt, D. D. Blankenship, G. W. Patterson, P. M. Schenk
Nature
16 November 2011
Vol.: Published online
DOI: 10.1038/nature10608

Um mistério, uma carta e o Big Bang

Folha de São Paulo
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON


Carta redescoberta inocenta físico de usurpar descoberta da expansão do Universo

Uma carta achada nos arquivos da Real Sociedade Astronômica britânica pôs fim a acusações que vinham manchando o nome de um dos cientistas mais importantes da história.

O documento absolve Edwin Hubble (1889-1953) de ter tentado roubar do padre belga Georges Lemaître (1894-1966) o mérito por mostrar que o Universo está em expansão.

Hubble, americano mais conhecido por ter um telescópio espacial com seu nome, geralmente recebe o crédito pela descoberta, anunciada em 1929. Dois anos antes, porém, Lemaître chegara à mesma conclusão.

Pesquisadores sugeriam que a disputa por primazia tinha envolvido desonestidade por parte de Hubble, mas uma carta de Lemaître, descoberta pelo historiador e astrônomo Mario Livio, contraria essa ideia.

Hubble costuma ser citado como autor da descoberta porque seus cálculos lhe permitiram chegar à conclusão sem muita margem para dúvida. O belga fora o primeiro a sugerir que o Cosmo estava se expandindo, mas sua estimativa da taxa de expansão era mais imprecisa. Antes de 1930, um não conhecia o trabalho do outro.

Uma hipótese que surgiu recentemente é a de que, depois disso, Hubble teria tentado atrapalhar a divulgação dos trabalhos de Lemaître. Uma aparente pista era uma tradução do estudo do padre feita para o inglês, em 1931, em que as partes mais importantes do trabalho haviam sido apagadas.


BRUXELAS

O artigo original, publicado nos "Anais da Sociedade Científica de Bruxelas", falava abertamente sobre o Universo em expansão.

A tradução do artigo para o inglês na renomada revista "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society", porém, tinha equações faltando, e a principal referência ao Universo em expansão sumira.

"Parece que o tradutor do artigo de Lemaître de 1927 apagou deliberadamente essas partes do texto", escreveu Sidney Van Den Bergh, astrônomo do Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá, num artigo em que analisou as duas versões.

Essa sabotagem, porém, era só aparente. Na carta de 1931 descoberta por Livio, Lemaître se dirige ao editor da revista inglesa se identificando como autor da tradução. Diz ter modificado o original apenas porque gostaria de apresentar a ideia da expansão do Universo separadamente, em um outro estudo, mais detalhado.

Naquele ano, ele já havia compreendido a principal implicação de sua descoberta: o Big Bang, a explosão que deu origem ao Cosmo.

"Tenho a impressão de que Lemaître era mesmo uma pessoa bastante modesta", disse Livio à Folha. "Certamente ele não estava obcecado com a primazia."

Na opinião do astrofísico historiador, o crédito deveria ser compartilhado.

A carta reveladora foi enfim publicada na revista "Nature", e Van Den Bergh elogiou o "trabalho de detetive" de Livio. Mas ele defende que Lemaître detenha sozinho a primazia pela descoberta, e discorda que fosse "desapegado" com relação a essa questão.

"Em 1961, Lemaître me contou que, por ser padre, sentia certo viés em favor da ideia de que o Universo tinha sido criado", disse. "Deve ter sido, portanto, um prazer especial para ele ter sido o primeiro nesse quesito", diz Van Den Bergh.



O cérebro determina o que é real?

Folha de São Paulo
MARCELO GLEISER


Estamos cercados de radiação eletromagnética que não vemos. O essencial é invisível aos olhos

Para que eu esteja escrevendo estas palavras, uma coreografia desconhecida organiza a ação coletiva de milhões de neurônios no meu cérebro: ideias emergem e são expressas em palavras, que datilografo no meu laptop graças à coordenação detalhada dos meus olhos e músculos. Algo está no comando, uma entidade que chamamos de "mente".

Segundo a neurociência moderna, nossa percepção do mundo é sintetizada em regiões diferentes do cérebro. O que chamamos corriqueiramente de "realidade" resulta da soma integrada de incontáveis estímulos coletados pelos cinco sentidos, captados no mundo exterior e transportados para nossas cabeças pelo sistema nervoso.

A cognição, a experiência concreta de existirmos aqui e agora, é uma fabricação de incontáveis reações químicas fluindo por bilhões de conexões sinápticas entre neurônios.

Eu sou e você é uma rede eletroquímica autossustentável, que se define através de sua atuação na malha de células biológicas que constituem o nosso corpo. Mas somos muito mais do que isso.

Somos todos diferentes, mesmo se feitos da mesma matéria-prima. A ciência moderna destituiu o velho dualismo cartesiano de matéria e alma em favor de um materialismo estrito. Hoje, afirmamos que o teatro do ser ocorre no cérebro e que o cérebro é uma rede de neurônios que se acendem e apagam como luzes numa árvore de Natal.

Ainda não temos ideia de como essa coreografia neuronal engendra a nossa sensação de existirmos como indivíduos. Vivemos nossas vidas convencidos de que a separação entre nós e o mundo à nossa volta é clara. Precisamos dela para construir uma visão objetiva da realidade que nos cerca.

No entanto, nossa percepção dessa realidade, na qual baseamos nossa sensação de existir como indivíduos, está longe de ser completa. Nossos sentidos capturam apenas uma pequena fração do que realmente ocorre à nossa volta. Trilhões de neutrinos vindos do coração do Sol atravessam nossos corpos a cada segundo.

Estamos cercados por radiação eletromagnética de todos os tipos-ondas de rádio, infravermelha, micro-ondas-sem nos dar conta disso. Sons escapam da nossa audição, grãos microscópicos de poeira e bactérias são invisíveis aos nossos olhos. Como disse a raposa ao Pequeno Príncipe: "O essencial é invisível aos olhos".

Nossos instrumentos em muito ampliam nossa visão, permitindo-nos "ver" o que escapa aos nossos sentidos. Mas a tecnologia tem limites, mesmo que esteja sempre avançando. Portanto, uma grande fração do que ocorre escapa e escapará à nossa detecção. O que sabemos sobre o mundo depende do que podemos medir e detectar.

Quem, então, pode determinar que sua sensação do real é a verdadeira? O indivíduo que percebe a realidade apenas com os sentidos? Ou o que amplifica sua visão com instrumentos diversos?

Obviamente, essas pessoas verão coisas diferentes. Se compararem o que chamam de realidade material, o conjunto das coisas que existem à sua volta, irão discordar completamente. Qual dos dois está certo? Eu proponho que nenhum está. Mas vamos ter de continuar essa conversa na semana que vem.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: http://goo.gl/93dHI




18 de nov. de 2011

Por que Urano gira de lado?


Um dos grandes problemas em aberto da astronomia do Sistema Solar pode ter sido resolvido, finalmente, por uma equipe internacional de cinco pesquisadores, incluindo um brasileiro. Por meio de simulações computacionais, o time liderado pelo italiano Alessandro Morbidelli, do Observatório de la Côte d'Azur, em Nice, na França, obteve indícios de que a inclinação anômala do eixo de rotação de Urano não se deve a apenas uma grande colisão com um corpo do tamanho da Terra, como se pensava, mas sim a dois choques com objetos de porte significativo. O planeta gira sob um eixo cuja inclinação é de 97,7 graus em relação ao plano de sua órbita em torno do Sol.

As duas trombadas teriam ocorrido em momentos distintos do processo de nascimento de Urano, um gigante de gás e gelo, vinte vezes mais distante do Sol do que da Terra. "Elas explicariam por que Urano gira deitado em relação a seu plano orbital", diz o astrônomo Rodney Gomes, do Observatório Nacional (ON/MCTI), no Rio de Janeiro, que participou do estudo. A nova hipótese foi apresentada em outubro no Congresso Europeu de Ciência Planetária, em Nantes, na França, e pode mudar a visão que se tinha da primeira fase da formação do Sistema Solar.


Urano, seus anéis e luas em imagem capturada pelo telescópio espacial Hubble. O eixo de rotação do planeta aponta para a esquerda e seu plano orbital situa-se na direção horizontal.

Os planetas começaram a se formar há 4,5 bilhões de anos, a partir de um disco de gás e poeira girando em torno do Sol. Durante seus primeiros milhões de anos, o material do disco foi se aglutinando, formando corpos cada vez maiores de proporções semelhantes a dos asteroides e cometas, os chamados planetesimais. Por meio de colisões entre si, os planetesimais continuaram a crescer, até formarem embriões planetários — corpos com dimensões semelhantes aos planetas atuais. Alguns desses embriões capturaram rapidamente o gás do disco, que se dissipou nos primeiros milhões de anos, formando os planetas gigantes gasosos (Júpiter, Saturno) e de gelo (Urano e Netuno), que contêm uma quantidade de gás bem menor que aqueles. Os embriões, no Sistema Solar interno, continuaram a colidir entre si até formarem os atuais planetas rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte).

Esse cenário implica que todos os planetas nasceram orbitando no plano desse disco primordial, com o eixo de rotação em torno de si perpendicular a esse plano. Encontros posteriores entre planetas, planetesimais e embriões planetários restantes, porém, teriam desviado seus eixos dessa norma. O eixo de rotação da Terra, por exemplo, é inclinado cerca de 23 graus em relação ao seu plano orbital. Já Urano é um caso extremo, com uma inclinação de quase 98 graus. Isso faz com que seus polos norte e sul se situem nos lados da esfera planetária em vez de em cima e embaixo.

Desde os anos 1960, os cientistas acreditam que essa obliquidade acentuada seria fruto de um choque violento entre Urano e um grande embrião planetário. Mas sempre houve um problema com essa explicação: as dezenas de luas e anéis de Urano também giram de lado, em torno do eixo de rotação extremamente inclinado do planeta. Durante uma colisão abrupta, dizem os críticos dessa hipótese, não haveria tempo para que esses anéis e satélites tivessem acompanhado Urano em sua inclinação. Eles deveriam ter permanecido num plano orbital menos angulado.

Para explicar essa discrepância, os astrofísicos Gwenaël Boué e Jacques Laskar, do Observatório de Paris, propuseram em 2009, uma teoria alternativa, diferente da que agora foi apresentada por Gomes e seus colegas. Segundo a dupla francesa, Urano teria tido no passado uma lua enorme, do tamanho da Terra. A presença do satélite massivo teria feito com que o movimento de precessão do eixo de rotação do planeta, semelhante à oscilação produzida por um pião girando, se ampliasse ao poucos de tal forma que esta velocidade de rotação coincidisse com a velocidade de precessão do plano orbital de Urano em torno de um plano de referência, acarretando um efeito ressonante que faria com que o eixo de rotação de Urano fosse lentamente "deitando" o planeta. Essa inclinação seria um processo tão gradual que os anéis e demais satélites acompanhariam o equador do planeta.

O problema parecia resolvido até Morbidelli e Gomes decidirem examinar a teoria com mais detalhe. Durante uma visita do italiano ao ON no ano passado, eles se depararam com uma contradição. De acordo com seus cálculos, a mesma influência gravitacional do satélite hipotético, que aos poucos teria tombado Urano, atrairia os demais satélites e anéis de tal forma que impediria que esses acompanhassem o planeta em sua inclinação. A teoria alternativa dos franceses, portanto, não funcionava.

Os pesquisadores, então, decidiram retomar a antiga ideia de uma colisão primordial, mas com algumas modificações. Realizaram simulações detalhadas das interações gravitacionais que teriam ocorrido se um corpo do tamanho da Terra tivesse se chocado contra Urano em sua

infância, quando suas luas e anéis ainda não tinham se formado a partir de um disco de gás e poeira ao seu redor. O impacto teria deitado Urano e os detritos da colisão teriam formado um segundo disco ao redor de seu equador. A influência gravitacional desse disco mais interno teria feito com que o material do primeiro disco se espalhasse na forma de uma "rosquinha", tecnicamente denominada toro, ao redor do equador de Urano. Com o tempo, o disco interno teria sido absorvido pelo planeta e o toro se achatado na forma de outro disco, a partir do qual se originaram as luas e anéis em torno do eixo inclinado.

O cenário descrito consegue explicar o eixo tombado de Urano às mil maravilhas, exceto por um pequeno detalhe: as luas formadas nas simulações giravam no sentido horário enquanto a rotação real de Urano é no anti-horário. Para que o resultado final do modelo computacional fizesse sentido com a realidade do Sistema Solar, os pesquisadores descobriram que Urano deveria ter sofrido outra colisão com mais um embrião planetário. Esse choque deveria ter ocorrido antes daquele, que teria entortado tanto o eixo do planeta como o disco, que deu origem a suas luas e anéis. "Se realmente aconteceram duas colisões dessa ordem, deveria haver muitos embriões planetários do tamanho da Terra perto de Urano naquela época", diz Gomes.

"É uma ideia interessante e inteiramente provável", comenta o astrofísico brasileiro Wladimir Lyra, do Museu Americano de História Natural, em Nova York, especialista no processo de formação de planetas. “Os avanços nessa área de pesquisa mostram, mais e mais, que o Sistema Solar era um lugar bem caótico em seus primórdios. Houve muita interação entre os protoplanetas, de modo que os oito planetas que vemos hoje são apenas os "vencedores" de uma luta que ganharam à custa de algumas cicatrizes."


Extraído de artigo de Igor Zolnerkevic para a Revista FAPESP.
Rodney Gomes é Pesquisador Titular do Grupo de Pesquisas em Astronomia do
Observatório Nacional.







 

Observatório Nacional encanta estudantes na "Mostra Cientistas do Alemão"


O Observatório Nacional participou da Mostra Cientistas do Alemão, realizada na quarta-feira, dia 16 de novembro, na Escola Municipal José Aparecido Prado Sarti, em Inhaúma, bairro localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Como funcionam telescópios do tipo refrator e refletor

O pesquisador Carlos Veiga explicou aos alunos das 10 escolas presentes ao evento os princípios e o funcionamento de telescópios do tipo refrator e refletor. Encantados com a apresentação, os estudantes fizeram diversas perguntas e participaram das demonstrações. Além disso, o pesquisador também ensinou como é possível construir esses telescópios utilizando materiais simples e de baixo custo.


As crianças se encantaram com O Galileoscope - telescópio de 50mm de diâmetro

Uma das gestoras do Projeto Bairro Educador, da Prefeitura do Rio de Janeiro, Mary Lança, ressaltou a importância da participação de instituições de pesquisa para motivar os alunos a seguirem os caminhos da ciência.

As crianças se divertiram com as experiências oferecidas

O Projeto Bairro Educador faz parte do Programa Escolas do Amanhã, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, cujo objetivo é fortalecer a comunidade escolar por meio de parcerias que possam contribuir para a aprendizagem dos alunos da rede municipal.

O Observatório Nacional, por meio da sua Divisão de Atividades Educacionais, utiliza o projeto "Ciência Móvel" para levar conhecimento científico às escolas.

Os convites à participação do Observatório Nacional em eventos escolares podem ser enviados para o e-mail cave@on.br.

Por
Alba Lívia
Assessoria de Comunicação/ON 



Ciclo de Cursos Especiais do Observatório Nacional reúne pesquisadores de diversos países

O XVI Ciclo de Cursos Especiais (CCE), realizado pelo Observatório Nacional, de 7 a 11 de novembro, reuniu 60 participantes, entre alunos e pesquisadores das áreas de Astronomia, Astrofísica e Física oriundos de diversas instituições da América Latina.


Pesquisadores participantes


Diretor do ON, Sérgio Fontes, pesquisadores participantes e membros da comissão organizadora


Participantes CCE 2011

Os ciclos acontecem desde 1996 e são promovidos pela Divisão de Pós-Graduação do ON. A edição de 2011 contou com cursos sobre galáxias, asteroides e nebulosas, ministrados por pesquisadores reconhecidos internacionalmente: Michael Merrifield, da University of Nottingham (Reino Unido), Letizia Stanghellini, do National Optical Astronomy Observatory – NOAO (EUA), Mark E. Dickinson, também do NOAO, e Mikko Kaasalainen, da Tampere University of Technology (Finlândia).

Por
Alba Lívia
Assessoria de Comunicação/ON

16 de nov. de 2011

RD Congo tem erupção 'mais espetacular do século'

BBC Brasil


Especialistas dizem que a erupção do vulcão Nvamulgira, na República Democrática do Congo, pode ser a mais espetacular deste século.
A fonte de lava que sai do vulcão pode atingir até 400 metros de altitude.

Em 2002, outro vulcão no parque nacional de Virunga destruiu grandes partes da cidade de Goma, e provocou a evacuação de 350 mil moradores.

Desta vez, os cientistas dizem que não há ameaças e que os visitantes do parque podem chegar bem perto da erupção.

Como seria morrer no vácuo do espaço?

The New York Times | 15/11/2011 08:00

No quase vácuo do espaço, a morte ocorreria dentro de poucos minutos


Foto: Nasa

Bruce McCandless flutua no espaço em 1983 durante um vôo da Challenger. Sem equipamentos adequados, um homem morreria em minutos no espaço
Filmes de ficção científica muitas vezes retratam pessoas sendo mortas ao cair no vácuo do espaço. Mas o que os filmes não mostram é que no quase vácuo do espaço, a morte muito provavelmente ocorreria dentro de poucos minutos.

A pessoa perderia a consciência em cerca de 15 segundos, já que o oxigênio não seria capaz de chegar ao cérebro, como afirmam cientistas da NASA após pesquisas com animais nas décadas de 1950 e 1960.

A morte por vácuo não é espetacular ou instantânea, a não ser que a pessoa tente prender a respiração. Nesse caso, os delicados pulmões provavelmente se romperiam enquanto os gases de dentro se expandiriam. No entanto, a pele é forte o suficiente para evitar que o corpo exploda.



As nuvens frias de Carina

ESO
16 de Nov. de 2011

O telescópio APEX oferece uma nova visão da formação estelar na Nebulosa Carina

eso1145pt-br — Foto de Imprensa
ESO/Digitized Sky Survey 2. Acknowledgment: Davide De Martin.

Observações obtidas com o telescópio APEX em ondas submilímetricas revelaram as nuvens frias de poeira onde se formam estrelas na Nebulosa Carina. Este local de intensa formação estelar, que abriga algumas das estrelas de maior massa da nossa galáxia, é o local ideal para se estudar a interação entre as estrelas jovens e as suas nuvens progenitoras.

Utilizando a câmera LABOCA montada no telescópio APEX (sigla do inglês Atacama Pathfinder Experiment) instalado no planalto do Chajnantor nos Andes chilenos, uma equipe de astrônomos liderada por Thomas Preibisch (Universitäts–Sternwarte München, Ludwig-Maximilians-Universität, Alemanha), em estreita colaboração com Karl Menten e Frederic Schuller (Max-Planck-Institut für Radioastronomie, Bonn, Alemanha), obteve imagens na região espectral do submilímetro. Nestes comprimentos de onda a maior parte da radiação observada corresponde ao brilho tênue do calor irradiado pelos grãos de poeira cósmica. A imagem revela-nos assim as nuvens de poeira e gás molecular - essencialmente hidrogênio - a partir das quais se formam as estrelas. A -250º C os grãos de poeira estão muito frios e o tênue brilho que deles emana apenas pode ser visto nos comprimentos de onda submilimétricos, que são muito maiores que os da radiação visível. A radiação submilimétrica é por isso a chave para estudarmos como é que as estrelas se formam e como é que interagem com as nuvens que lhes dão origem.

As observações APEX LABOCA são visíveis a tons de laranja, combinadas com a imagem no visível do telescópio Curtis Schmidt, instalado no Observatório Interamericano de Cerro Tololo. O resultado é esta espetacular imagem de grande campo, que nos mostra as zonas de formação estelar em Carina. A nebulosa contém estrelas com uma massa total equivalente a mais de 25 000 sóis, enquanto a massa do gás e das nuvens de poeira corresponde a cerca de 140 000 sóis.

No entanto, apenas uma pequena fração do gás da Nebulosa Carina está em nuvens suficientemente densas para que se dê o seu colapso e consequentemente se formem novas estrelas num futuro imediato (em termos astronômicos isto corresponde ao próximo milhão de anos). A longo prazo, os efeitos dramáticos das estrelas de grande massa que já se encontram na região rodeadas pelas suas nuvens, podem fazer acelerar a taxa de formação estelar.

As estrelas de grande massa vivem no máximo apenas alguns milhões de anos (um tempo muito curto quando comparado com os dez bilhões de anos de vida do Sol), mas ao longo das suas vidas influenciam fortemente o meio onde estão inseridas. Quando jovens, estas estrelas emitem ventos estelares fortes e radiação que dão forma às nuvens que as rodeiam, e provavelmente comprimem-nas o suficiente para que se formem novas estrelas. No final das suas vidas, tornam-se muito instáveis, estando sujeitas a perdas consideráveis de material estelar, até às suas mortes que se dão sob a forma de violentas explosões de supernova.

Um bom exemplo deste tipo de estrelas violentas é a Eta Carinae, uma estrela brilhante amarelada situada no centro da imagem um pouco para cima e à esquerda. Esta estrela possui cerca de 100 vezes mais massa que o nosso Sol e encontra-se entre as estrelas mais brilhantes conhecidas. No próximo milhão de anos, mais ou menos, a Eta Carinae explodirá como supernova, seguida de mais supernovas com origem noutras estrelas de grande massa que se encontram na região.

Estas explosões violentas “rasgam” as nuvens de gás molecular que estão nas suas vizinhanças, mas assim que a onda de choque percorra mais de cerca de dez anos-luz, tornam-se mais fracas e podem, em vez de destruir, comprimir as nuvens que se encontram um pouco mais afastadas, dando origem à formação de uma nova geração de estrelas. As supernovas podem ainda produzir átomos radioativos de curta duração, que são incorporados nas nuvens que estão a colapsar. Existem evidências fortes de que semelhantes átomos radioativos foram incorporados na nuvem que colapsou para formar o nosso Sol e os planetas. Assim, a Nebulosa Carina pode ajudar-nos a melhor compreender a formação do nosso próprio Sistema Solar.

A Nebulosa Carina encontra-se a cerca de 7500 anos-luz de distância na constelação do mesmo nome (Carina ou Quilha). É uma das nebulosas mais brilhantes do céu devido à sua grande população de estrelas de grande massa. Com uma dimensão de aproximadamente 150 anos-luz, é cerca de várias vezes maior que a bem conhecida Nebulosa de Orion. Embora se encontre várias vezes mais afastada de nós que a Nebulosa de Orion, o seu tamanho aparente no céu é aproximadamente o mesmo, fazendo com que seja uma das maiores nebulosas no céu.

O telescópio APEX de 12 metros de diâmetro é o percursor do ALMA, o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, um novo telescópio revolucionário que o ESO está a construir e a operar no planalto do Chajnantor, em colaboração com os seus parceiros internacionais. O APEX baseia-se numa única antena protótipo construída para o projeto ALMA, enquanto o ALMA será constituído por uma rede de 54 antenas de 12 metros de diâmetro e 12 antenas de 7 metros de diâmetro. Embora o ALMA vá ter uma resolução angular muito melhor que o APEX, o seu campo de visão é muito menor. Os dois telescópios são por isso complementares: por exemplo, o APEX descobrirá muitos objetos interessantes em vastas áreas do céu, enquanto que o ALMA poderá posteriormente estudá-los com todo o pormenor.

O APEX é um projeto de colaboração entre o Instituto Max-Planck para a Radioastronomia (MPIfR), o Observatório Espacial de Onsala (OSO) e o ESO. O telescópio é operado pelo ESO.

O projeto ALMA, uma infraestrutura astronômica internacional, é uma parceria entre a Europa, o Japão e a América do Norte, em cooperação com a República do Chile. A construção e operação do ALMA é coordenada pelo ESO, em prol da Europa, pelo Observatório Nacional de Radioastronomia (NRAO), em prol da América do Norte e pelo Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ), em prol do Leste Asiático. O Joint ALMA Observatory (JAO) fornece uma liderança e direção unificadas na construção e operação do ALMA.