Redação do Site Inovação Tecnológica
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Por mais entusiasmante que possa parecer, é fácil concluir que dificilmente uma
empresa se viabilizará economicamente neste século fazendo mineração espacial.
[Imagem: Bryan Versteg/Spacehabs.com] |
Mineração de asteroides
Um time de bilionários norte-americanos apresentou planos para iniciar a era
da mineração espacial, explorando água e metais de asteroides.
A proposta é ousada porque, apesar dos primeiros esforços da iniciativa
privada rumo à exploração espacial, o único negócio espacial propriamente dito
hoje são os
satélites
artificiais.
Tudo o mais é ciência espacial, bancada por governos e por algumas entidades
sem fins lucrativos.
Isto faz com que os planos da recém-lançada Planetary Resources sejam
vistos com enorme interesse, mas sem dar muita atenção à agenda proposta.
A empresa fala em prospecção mineral no espaço em um prazo de cinco a 10 anos
- a prospecção é a etapa que antecede a mineração, consistindo na identificação
dos depósitos minerais e na verificação de sua viabilidade econômica.
Prospecção mineral espacial
A prospecção mineral espacial começará pelos asteroides.
O plano consiste em lançar um telescópio espacial, pequeno, mas muito
versátil, capaz de observar com precisão os chamados NEOs (
Near Earth
Objects, objetos próximos à Terra), os mesmos
asteroides que vez por outra passam raspando pela Terra, e
mais raramente se chocam com nosso planeta.
O "mineral" de interesse mais imediato é a água, que poderia ser eletrolisada
usando
energia solar para criar
oxigênio e
hidrogênio - combustíveis para
as etapas seguintes da mineração e da exploração espacial em geral.
Finalmente, uma vez encontrados, seriam explorados outros minerais, embora a
empresa não tenha ainda planos precisos de como extrair ouro e platina, ou
qualquer outro metal de um asteroide, e trazer tudo para a Terra.
Falar em ouro e platina atrai a atenção, devido ao elevado valor desses
metais. Mas a Planetary Resources terá que se preocupar com recursos aqui
na Terra mesmo, se quiser viabilizar um projeto de longo prazo em busca de
recursos minerais espaciais.
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Os entraves econômicos do projeto darão tempo para que uma
negociação internacional estabeleça um tratado determinando a quem pertencem os
asteroides. [Imagem: Planetary Resources]
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"Inovações" em custo
A empresa afirma estar ciente disso, mas que está contando com "inovações em
custo".
"Nós estamos incorporando inovações recentes na microeletrônica, dispositivos
médicos e tecnologia da informação de uma forma que não é usada tradicionalmente
por espaçonaves robóticas," diz a empresa.
"A Planetary Resources está trabalhando ativamente nestas áreas por
conta própria, assim como para a NASA e para o benefício de toda a comunidade
científica espacial."
Isto parece dar uma pista muito clara, não apenas do primeiro grande cliente
da empresa, como também da "carteira de tecnologias" à sua disposição,
dispensando os custos de desenvolvimento - eventualmente uma das "inovações"
para diminuição dos custos.
A Planetary Resources afirma que usará os estudos da NASA para seleção
dos alvos mais promissores. Em troca, os levantamentos de suas sondas robóticas
poderão ajudar a agência espacial a selecionar alvos para futuras missões
tripuladas.
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O telescópio espacial Leo será a primeira e fundamental etapa no
projeto da empresa, permitindo a observação precisa dos asteroides nas
proximidades da Terra a partir de uma órbita baixa. [Imagem: Planetary
Resources]
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Mineração espacial
O primeiro mineral de interesse será a água, que pode fornecer suprimentos
para voos espaciais mais ousados, incluindo, além de água potável e ar, proteção
contra radiação espacial e combustível.
A empresa afirma ter mapeado pelo menos 1.500 asteroides que seriam "tão
fáceis de alcançar quanto a Lua". Considerando a viagem de volta, esse número
sobe para mais de 4.000.
Na verdade, é mais fácil aproximar, pousar e decolar de um asteroide do que
da Lua porque a gravidade desses corpos é muitíssimo menor - praticamente toda a
operação pode ser feita com os micropropulsores usados para manobras de
satélites artificiais.
O próximo passo serão os metais, sobretudo os do grupo da platina, usados em
catalisadores e em outras aplicações
de alta tecnologia.
"Além de trazê-los de volta para a Terra, os metais dos asteroides também
poderão ser usados diretamente no espaço. Metais como ferro e alumínio podem ser
levados para pontos de coleta no espaço para serem usados como material de
construção, fabricação de escudos para espaçonaves e como matéria-prima para
processos industriais, por exemplo, em uma futura estação espacial da NASA em
L2," disse a empresa, referindo ao
ponto de Lagrange, onde a gravidade da Terra e da Lua se
anulam.
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O Interceptor é um telescópio Leo com propulsão e
instrumentação científica adicional. Ele ficará baseado em uma órbita
geoestacionária e disparado assim que um asteroide for flagrado aproximando-se
da Terra, indo até ele para coletar mais informações. [Imagem: Planetary
Resources]
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Custos dos minerais espaciais
Encontrar depósitos minerais na Terra já não é fácil, e minerá-los também não
é algo tão simples quanto possa parecer porque os elementos químicos geralmente
vêm em compostos que precisam ser quebrados - cada mina precisa adaptar o
processo à composição química do seu próprio minério.
Junte-se a isso o fato de que missões espaciais podem ser tudo, menos
baratas, e é fácil concluir que dificilmente uma empresa se viabilizará
economicamente neste século fazendo mineração espacial.
Mesmo assim, a "poeira" espacial, com valor científico inestimável, teria um
"valor de mercado" de US$800 milhões o quilograma.
A próxima opção é a
Osiris-Rex, da NASA, que pretende trazer 60 gramas do
asteroide RQ36, a um custo de US$800 milhões, sem contar o foguete, que ainda
não foi definido - o que vai inflacionar o preço da poeira espacial para US$13,3
bilhões o quilograma, no mínimo.
A ainda incerta
ExoMars vai custar US$1,6 bilhão, mas ainda não está definido
quantos gramas ela poderá trazer da poeira de Marte.
Por outro lado, em um esquema "industrial", em que diversas naves gêmeas
sejam lançadas, o custo pode cair rapidamente: é o que acontecerá com a sonda
japonesa
Hayabusa, que teve
sucesso limitado na primeira tentativa, mas que será seguida por uma irmã-gêmea
nos próximos anos, sem que a JAXA precise arcar com novos custos de
desenvolvimento.
O lado positivo é que esses entraves econômicos darão tempo para que uma
negociação internacional estabeleça um tratado determinando a quem pertencem os
asteroides, como eles deverão ser explorados e a quem caberá os benefícios dessa
exploração - eventualmente fundando a era do ambientalismo espacial.
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O Rendezvous Prospector será um Interceptor com
comunicação a laser e maior autonomia, permitindo alcançar asteroides mais
distantes. [Imagem: Planetary Resources]
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Espaço privado
A Planetary Resources tem a seu favor o fato de que os custos elevados
da exploração espacial derivam de empreendimentos estatais.
"O objetivo de curto prazo da Planetary Resources é reduzir
dramaticamente o custo da exploração de um asteroide," afirma a empresa.
"Nós vamos combinar as melhores práticas de inovação aeroespacial comercial,
adaptabilidade operacional e manufatura rápida para criar exploradores
robotizados que custarão uma ordem de magnitude menos do que os sistemas
atuais." - isto significa 10 vezes menos.
É fato que, se o homem planeja explorar o espaço, é necessário começar de
alguma forma.
Mas também é fato que, sem previsão de lucrar com a empreitada, tudo indica
que o projeto é mais um que gravitará em torno da cada vez mais privatizada
NASA.
As naves provavelmente sairão mais baratas do que se fossem fabricadas pelo
governo. Contudo, levando em conta o lucro privado que passa a entrar na
equação, o contribuinte não pagará menos pela mesma exploração.
A Planetary Resources foi fundada em 2009 pelos pioneiros do turismo
espacial Eric Anderson e Peter Diamandis. Para este projeto, eles receberam o
apoio e os recursos financeiros, entre outros, do cineasta James Cameron, Larry
Page, um dos fundadores do Google, e do presidente atual da empresa, Eric
Schmidt.