Folha de São Paulo - 07/04/2011
Acelerador nos EUA detectou padrões de energia que não batem com nenhuma partícula descoberta até hoje.
Dados, contudo, ainda são preliminares, alerta comunidade científica; novos experimentos deverão testar ideia.
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA
Se um grupo de físicos americanos estiver certo, a humanidade acaba de topar com uma nova partícula fundamental -uma peça essencial do quebra-cabeças da matéria que, até agora, tinha passado despercebida.
A possibilidade vem de dados obtidos pelo Tevatron, acelerador de partículas que fica em Batavia, Illinois (Meio-Oeste dos EUA). Os físicos que avaliaram os dados trabalham no Fermilab, instituição onde o superacelerador está instalado.
O trabalho desse tipo de máquina é promover trombadas de partículas em níveis de energia altíssimos. No caso do Tevatron, as trombadas envolvem prótons (componentes do núcleo dos átomos com carga elétrica positiva) e antiprótons ("gêmeos" dos prótons com carga invertida, negativa).
Quando a pancada de partículas acontece, os prótons e antiprótons originais são aniquilados, e o que sobra são jatos altamente energéticos dos componentes menores dessas partículas.
É mais ou menos como jogar um computador no chão com força suficiente para que as peças se soltem. Depois, examinando as peças, tenta-se entender como ele estava montado e como funcionava.
Só que, no experimento coordenado pelo físico Giovanni Punzi, havia uma peça completamente inesperada. Os cientistas já conhecem um zoológico de partículas fundamentais, mas nenhuma bate com a energia dos jatos observados nos testes.
Então, que diabos seria aquilo? Um candidato é o misterioso bóson de Higgs, partícula prevista teoricamente mas nunca achada, que daria massa (o que chamamos popularmente de "peso") a outras partículas.
Punzi e companhia não apostam nessa hipótese. "Mas a massa do que eles viram até poderia ser compatível com o Higgs", avalia Ronald Shellard, do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), no Rio de Janeiro.
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Com "New York Times"
Se partícula existir, LHC deverá detectá-la
DO EDITOR DE CIÊNCIA
Ironicamente, o responsável pela aposentadoria do acelerador americano Tevatron também deverá confirmar -ou refutar- sua possível grande descoberta.
Trata-se do LHC, superacelerador europeu que agora é o maior do mundo. Em parte por ter se tornado obsoleto diante do concorrente, o Tevatron deve ser desativado em setembro deste ano.
"Se os dados estiverem certos, em poucas semanas o LHC deverá ser capaz de confirmá-los", disse à Folha Ronald Cintra Shellard, físico de partículas do CBPF.
SIGMA
A grande dúvida, por enquanto, vem da proporção de ocorrências da aparente nova partícula nos dados.
Do ponto de vista estatístico, ela fica numa categoria conhecida como "três sigma" -frequente o suficiente para chamar a atenção, mas não para descartar a possibilidade de que se trate de uma flutuação casual.
"Com três sigma você tem uma evidência, mas ainda não tem uma descoberta", diz Shellard. A coisa ficaria mais quente, e mais difícil de descartar, no nível conhecido como cinco sigma.
O físico brasileiro ressalta que, por enquanto, a reação predominante da comunidade científica será a cautela.
"Se for um sinal de verdade, mesmo que não seja o [bóson de] Higgs [partícula que confere massa às demais], é algo muito interessante", diz ele. "Se for confirmado, dará trabalho a centenas de físicos teóricos." (RJL)
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