Folha de São Paulo
Kepler-22b orbita estrela do tipo G, o mesmo do Sol, e fica em região onde pode existir água em estado líquido.
A composição química e a massa do novo planeta, que fica a 600 anos-luz de distância, ainda não foram estabelecidas.
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
A Nasa acaba de confirmar a existência do que provavelmente é o planeta mais parecido com a Terra já descoberto. Batizado de Kepler-22b, ele fica na chamada zona habitável -onde pode haver água líquida- de uma estrela do mesmo tipo do Sol.
A descoberta é do Telescópio Espacial Kepler, projetado justamente para "caçar planetas" parecidos com a Terra e, quem sabe, com potencial de abrigar vida.
O Kepler-22b, por enquanto, preenche o primeiro requisito: a possibilidade de ter água. Ele orbita uma região "aconchegante" de uma estrela do tipo G, como o Sol, embora um pouco mais fria.
Essa posição -mais ou menos no meio da zona habitável da estrela- é bastante parecida com a que a Terra ocupa no Sistema Solar (veja infográfico acima).
"As características desse novo planeta fazem dele uma grande descoberta. Uma das maiores do Kepler até agora", disse Carolina Chavero, pesquisadora de astronomia e astrofísica no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro.
PARECE, MAS NÃO É
O novo planeta fica a 600 anos-luz de distância da Terra e tem um raio 2,4 vezes maior que o terrestre.
O tempo que ele leva para completar uma volta em torno de sua estrela, porém, não é tão diferente: 290 dias, contra os 365 da Terra.
"O tempo da órbita é uma informação bem importante, porque ajuda a estimar as condições do planeta. Se um a órbita é muito curta, isso significa que ele está muito próximo à estrela, o que o torna muito mais quente", explica Carolina Chavero.
Para localizar o planeta, o Kepler usa o chamado método de trânsito. Ele observa a estrela a partir de um ponto. Se houver um planeta orbitando esse astro, quando ele passar em frente ao ponto de "visão" do telescópio, haverá um mudança (muito sutil) no brilho da estrela.
A partir da duração dessa "piscada" da estrela, e também pela intensidade do brilho, é possível estimar dados como o tamanho e a órbita do novo planeta.
Para saber com mais precisão detalhes como a massa do planeta -o que ajudaria a decifrar se ele é rochoso como a Terra ou gasoso-, os pesquisadores usam também outros métodos. No caso do Kepler-22b, essas outras informações ainda são desconhecidas dos cientistas.
Lançado em 2009, o Kepler inaugurou uma nova era na busca por planetas.
O telescópio de US$ 600 milhões encontrou 2.326 candidatos a planeta após analisar 16 meses de observação. Os últimos foram 1.094 anunciados ontem, no segundo grande "lote" de descobertas.
Até agora, o telescópio já encontrou 207 candidatos a planeta com tamanho mais ou menos como o da Terra.
Para serem confirmados, porém, eles precisam de observações suplementares.
Muitos especialistas estimam que cerca de 80% dos candidatos localizados pelo Kepler serão confirmados. Até agora, porém, foram somente pouco mais de 20.
"Estamos em uma era em que a astronomia produz um volume de dados enorme. Boa parte do que telescópios como o Kepler produzem ainda não pode ser analisada como deveria. Quem sabe o planeta gêmeo da Terra já foi observado e nós nem nos demos conta?", disse Chavero.
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