3 de ago. de 2010

Porção de gelo das regiões polares que está derretendo corresponde a 1% do total no planeta

Ministério da Ciência e Tecnologia

A cobertura de gelo da Terra está encolhendo a um ritmo muito maior do que se imaginava, atestam pesquisas publicadas recentemente. Porém, são partes e tipos específicos do gelo das regiões polares, que representam 1% do volume de gelo do planeta, que estão derretendo e que podem contribuir – ou não – para o aumento do nível do mar. A afirmação é do especialista no assunto, o coordenador geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, Jefferson Cardia Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

“Nossa maior preocupação hoje é com o degelo das geleiras de regiões montanhosas, como os Andes, que estão dando a maior contribuição para o aumento do nível do mar”, diz o glaciólogo, que é um dos líderes do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). “A Antártida e a Groenlândia também contribuem com esse fenômeno, mas é só uma porção muito pequena do gelo dessas regiões que está derretendo. Já o gelo do oceano Ártico também está derretendo, mas não afeta o nível do mar”, afirma.

O especialista abordou esse tema em uma conferência na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que se realizou semana passada em Natal (RN).

De acordo com Simões, é o gelo mais “quente”, que está mais próximo do ponto de fusão e situado ao norte da Antártida e ao sul da ilha da Groenlândia, que está derretendo com maior velocidade nas duas regiões polares e que ao se desfazer pode contribuir para o aumento do nível do mar. Entretanto, ele representa menos de 1% do volume total do gelo do Continente Antártico, que concentra 90% de todo o gelo do planeta, e uma pequena fração do gelo da Groenlândia.

Já no mar congelado do Ártico, segundo Simões, o tipo de gelo que está sumindo mais rapidamente é o marinho flutuante, que ao derreter não contribui para a elevação do nível do mar, pois toda a sua massa já está na água. Porém, do ponto de vista climático, é esse tipo de gelo que ajuda a manter o equilíbrio térmico do Ártico ao refletir a luz do Sol. Dessa forma, quanto menos gelo marinho, mais radiação solar será absorvida pelo oceano, que deve esquentar e mudará todo o balanço climático da região. “Esse é um problema muito sério e ainda não temos nenhuma evidência de como a Ártico responderá a essas mudanças nos próximos anos”, afirma.

Por sua vez, o derretimento das montanhas de regiões tropicais e temperadas, como os Andes, tem impactos diretos nos recursos hídricos da América do Sul. Ao derreter, as águas das geleiras seguem para os rios e tomam o caminho do mar, podendo causar o aumento do volume de água tanto da bacia Platina quanto da bacia Amazônica.

Influências

O glaciólogo explica que quem rege o nível do mar é a variação da massa da criosfera – a massa de gelo do planeta. Assim, ao perder massa, o manto de gelo antártico, que tem 13,6 milhões de km² de extensão, e da Groenlândia, que mede 1,7 milhões de km², provoca a elevação do nível do mar. E ao despejar suas águas frias no mar, muda as correntes oceânicas e começa a afetar o clima. “Hoje sabemos que as regiões polares são tão importantes quanto a Amazônia para o sistema climático mundial”, diz. “Quando se mexe na massa de gelo da Terra, há alterações no clima”, esclarece.

Segundo Simões, de fato, o nível do mar está aumentando e o rápido derretimento das montanhas de regiões temperadas e tropicais e da Groenlândia está contribuindo para isso. Porém, não se sabe qual a parcela de participação das variabilidades climáticas naturais e do fenômeno do aquecimento global, acelerado pela intervenção humana, nesse processo.

Para investigar os impactos das mudanças climáticas e glaciais na Antártica e a relação do clima da região com a América do Sul, uma equipe de pesquisadores brasileiros, americanos e chilenos, liderada por Simões, inicia um projeto de colaboração científica internacional denominado Casa (Climate of the Antarctic and Southern America na sigla, em inglês).

Os pesquisadores preparam a primeira perfuração latino-americana, de mais de 300 metros, do manto de gelo antártico para coletar amostras de gelo com dados sobre o clima da península nos últimos cinco mil anos. Chamados “testemunhos de gelo”, os pedaços de gelo que serão coletados na expedição reúnem os dados mais fidedignos sobre as variações climáticas que ocorreram no planeta nos últimos milhares de anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário