30 de set. de 2010

40 bilhões de planetas habitáveis. Quantas civilizações?

Blog do Carlos Orsi
30/09/2010

A esta altura, você provavelmente já soube do anúncio feito ontem, a respeito da descoberta do mais habitável — ainda que apenas potencialmente — dos planetas extrassolares, Gliese 581g.

(Se quiser a história completa, com a descrição do planeta, pode ler aqui. Acrescento apenas que o fato de ser um planeta de alta gravidade, em órbita de uma anã vermelha e com a rotação travada por efeito de maré me faz pensar na versão de Krypton que aparecia nos gibis dos anos 70 — só espero que ele não venha a explodir!)

Mas o que mais me chamou a atenção foi a declaração de um dos descobridores do planeta, Steven Vogt, de que o achado abre a possibilidade de haver “de 10% a 20%” de estrelas com planetas habitáveis na Via Láctea.

O que remete diretamente à Fórmula de Drake.

Encurtando uma história longa: em 1961, Frank Drake, pioneiro no uso de radiotelescópios para a busca de sinais de vida inteligente fora da Terra, propôs uma fórmula para ajudar a estimar o número de civilizações com que poderíamos esperar estabelecer contato.

Existem diferentes versões da equação, mas vou usar uma mais simplificada. Ei-la:

N = N* fp ne fl fi fc fL

Todos os fatores do lado direito são multiplicados entre si.

A fórmula já foi muito criticada, pelo motivo de que boa parte dos fatores que entram nela são efetivamente desconhecidos pela ciência. Isto é, qualquer resultado que ela gere será fruto de uma série de chutes. Já foi dito, não sem razão, que a Fórmula de Drake é mais um espelho da psicologia de quem a utiliza do que uma fonte de informação sobre o Universo.

Mas, afinal, o que são esses fatores? Pela ordem:

• “N” é o número de civilizações com que podemos esperar entrar em contato;

• “N*” é o número de estrelas da Via Láctea;

• “fp” é a fração desse total de estrelas que tem planetas;

• “ne” é o número de planetas por estrela capaz de sustentar vida;

• “fl” é a fração de “ne” onde a vida realmente evolui;

• “fi” é a fração de “fl” onde surge vida inteligente;

• “fc” é a fração de “fi” que desenvolve tecnologia para se comunicar com outros planetas;

• “fL” é a fração da vida do planeta em que a civilização se mantém capaz de estabelecer comunicação com outros planetas.

Em outras versões, como esta, o termo N* é substituído por R*, a taxa de formação de estrelas na galáxia — isto é, quantas estrelas nascem a cada ano — e fL é trocado por L, que é o tempo, em anos, durante o qual uma civilização se comunica com o espaço.

A estimativa de Vogt, de que de 10% a 20% das estrelas da Via Láctea têm pelo menos um planeta capaz de sustentar vida — somada à estimativa atual de que a galáxia tem de 200 bilhões a 400 bilhões de estrelas — nos joga diretamente entre os termos “fp” e “ne”.

Supondo que haja 40 bilhões de estrelas com pelo menos um planeta habitável, só o que falta fazer é multiplicar 40.000.000.000 por nossas estimativas de em quantos desses planetas a vida realmente evolui; em quantos desses surge inteligência; que porcentagem das espécies inteligentes desenvolvem tecnologia de comunicação; e quanto tempo dura a fase, digamos, sociável de uma civilização avançada.

Dá para fazer isso automaticamente aqui. Eu joguei meus chutes favoritos lá — incluindo a suposição, que muitos considerarão pessimista, de que apenas 1% dos planetas com vida têm vida inteligente — e cheguei a 48 civilizações capazes de nos dar um alô.

Se você preferir supor que se um planeta pode ter vida ele necessariamente terá vida, e que se a vida surge, ela necessariamente desenvolverá inteligência, o total chega a espantosas 24.000 civilizações!

O que nos traz a um novo problema, o Paradoxo de Fermi. Mas isso é assunto para outro dia.

A partir de comentário do post acima: “Inflação eterna prevê que o tempo irá acabar” (em inglês:
 http://arxiv.org/PS_cache/arxiv/pdf/1009/1009.4698v1.pdf)

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