19 de nov. de 2010

Buraco negro de 30 anos

Blog do Carlos Orsi

17/11/2010

Minha primeira reação à notícia de que astrônomos acreditavam ter encontrado umburaco negro de 30 anos foi pensar: “Caraca, um fenômeno astrofísico que é mais novo do que eu”.

Está certo que já me acostumei a ter colegas de trabalho que eram recém-nascidos quando eu estava entrando na faculdade — gente que me olha com um misto de espanto e comiseração quando faço reminiscências de uma infância sem computadores ou videogames, movida a gibis da Ebal e vivida durante o governo Geisel. No entanto, a ideia de que um fenômeno astrofísico pode ser mais novo que eu abriu toda uma nova dimensão de sentimentos jurássicos.

Mas aí me bateu o paradoxo da coisa: como assim, 30 anos? A que distância esse cara fica?


Galáxia M100, que abriga o novo buraco negro
Mergulhando no website do Telescópio de Raios X Chandra, descobri que o tal buraco negro está (ou parece estar; os sinais de sua presença comportam explicações alternativas) na galáxia M100, a 50 milhões de anos-luz. O que quer dizer que a luz e a radiação que avisaram os astrônomos de que ele existe passou 50 milhões de anos a caminho a Terra. E, portanto, ele não tem 30 anos, e sim 50 milhões e 30!

O que, confesso, trouxe um certo alívio.

Os cientistas, no entanto, estão certos ao afirmar que o que observam é um fenômeno de 30 anos. A luz que partiu de lá, da galáxia M100, há 50 milhões de anos, registra as características de um evento cósmico com três décadas de existência. É como receber uma foto do seu bisavô, ainda bebê, pelo correio: a imagem pode ter anos e anos, mas retrata uma criança.

É o mesmo efeito que permite que o Hubble faça imagens das primeiras galáxias surgidas após o Big Bang. A luz emitida por elas passou 13 bilhões de anos em trânsito até chegar aqui.

O fato de a velocidade da luz no vácuo ser um limite absoluto para a transferência de informação no Universo — salvo buracos de minhoca, atalhos pelo hiperespaço ou outras ocorrências altamente hipotéticas — faz com que o tempo seja relativo. Diferentes observadores, movendo-se a diferentes velocidades, vão discordar quanto ao horário exato de um determinado fenômeno.

Mas esse mesmo limite para a velocidade da luz que relativiza o tempo faz com que o passado se torne algo muito concreto: qualquer evento que venhamos a conhecer tem de ter acontecido há algum tempo, que é o tempo necessário para que sua luz chegue até nós.

O fato de a luz ser tão rápida torna essa distinção irrelevante na escala do dia-a-dia, mas não deixa de ser um experimento filosófico interessante tentar encarar as coisas assim por algum tempo: tudo o que você acha que está acontecendo agora — o passarinho que passa voando pela janela, a criança brincando no chão, você lendo este blog — na verdade já aconteceu algumas frações de segundo atrás.

Tudo o que você está vendo não está mais lá.

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