29 de ago. de 2014

Descoberta de Nuvens de Metano no Fundo do Mar: Perigo Planetário em Curso?

Em Bonito, a localidade de Mato Grosso do Sul, há, entre outros programas ecológicos, um passeio em que, munidos de snorkel, descemos por um riacho de águas cristalinas e contemplamos o mundo sub-aquático do rio. Assim, podemos ver umas bolhinhas subindo em direção à tona que o pessoal local ensina tratar-se resultado da fotossíntese da vegetação presente no leito, que libera, assim, oxigênio molecular em estado gasoso.

Essa é a visão que a foto abaixo faz recordar. Mas não trata-se de rio e nem é raso a ponto de receber a luz do sol. Aqui, a iluminação é artificial, e as bolhinhas não são de oxigênio. O local: plataforma marítima da costa leste dos Estados Unidos, mais precisamente, litoral do Estado da Carolina do Norte.


Sabemos, da observação em planetas semelhantes à Terra, tal como Vênus e Marte, que a atmosfera original é irrespirável, mais ainda, imprópria para a vida de forma geral. Por original entende-se: atmosfera constituída pelos elementos compatíveis com o processo de formação dos planetas do ponto de vista astronômico e geológico. Os gases presentes nessas atmosferas são essencialmente metano e gás carbônico, além de outros componentes menos importantes. Em suma: impossível se viver nessas atmosferas. Na Terra, um processo lento e gradual propiciou a “filtragem” de sua atmosfera, por conta da atividade dos recifes de coral, bactérias ciagênicas e, finalmente, deposição de parcelas importantes no subsolo dos oceanos durante, e sobretudo, as glaciações. O resultado é essa atmosfera que conhecemos, e que se renova por meio da própria atividade vital presente em nosso planeta.

Com o aquecimento global, os cientistas temem que algo de terrível esteja em curso. É o que já havia alertado Benjamin J. Phrampus & Matthew J. Hornbach, ambos da Universidade Metodista do Sul, no Texas, EUA, em carta ao editor da Nature em 2012, quando observaram que a corrente do Golfo do México, que leva água para o Atlântico Norte, está esquentando. O artigo atual de Skarke e seus colaboradores parece ser o capítulo seguinte de uma tragédia global que está se desenhando.

O gás metano reage com o oxigênio molecular presente na atmosfera e inibe sua estabilização. Sem oxigênio, morremos todos. Além disso, inicia-se um processo de acidulação dos oceanos e das precipitações pluviais. Os próprios Phrampus & Hornbach (P&H) chamam a atenção para simulações promovidas por diferentes grupos e que concluem que uma elevação de cinco graus centígrados no Atlântico Norte levam à liberação de gás metano do fundo do mar em quantidades que representam 0,2% do que foi responsável em promover a chamada Máxima Térmica do Paleoceno-Eoceno (PETM, em inglês), evento associado a uma massiva extinção de vida no planeta há cerca de uns 55,8 milhões de anos. P&H mediram um aquecimento de cerca de oito graus, com liberação esperada estimada em 2,2 giga-toneladas de gás metano. Mesmo que isso represente apenas uma fração do observado no PETM, as consequências para o clima global, segundo os próprios autores, são incertas.

Tais temores são confirmados pelo que se observa, por exemplo, no final do período Permiano. Em um artigo na revista National Geographic, Hillel J. Hoffman relata sua visita ao Triângulo Negro, na República Tcheca, perto da fronteira com a Alemanha e Polônia. Ali há indícios do que um período ininterrupto, por anos a fio, de chuva ácida pode fazer. Toda e qualquer forma de vida, seja animal ou vegetal é simplesmente aniquilada. No Triângulo Negro vê-se fósseis enegrecidos, marca do que os vivos sofreram. Foi o que ocorreu nessa época, há uns 250 milhões de anos. Não se sabe o que ocasionou a chuva ácida nesse período. Teria sido um desses aquecimentos que o planeta experimentou em sua existência? O que se sabe é o que se vê como resultado da chuva ácida no Triângulo Negro. E chuva ácida é uma das consequências do aquecimento global, via liberação de gases como o metano do fundo do mar. 

Sua ocorrência persistente poderá fazer de Bonito, em Mato Grosso do Sul, um sítio para, no futuro, arqueólogos compararem com o Triângulo Negro, República Tcheca.

Talvez o cenário catastrófico preconizado pelos atuais ecologistas e defensores do meio ambiente seja ainda mais terrível. E mais próximo do que se pensa.

João Luiz Kohl Moreira
27/08/2014

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