13 de jan. de 2012

Cientistas fazem mapa fotográfico da matéria escura

Folha de São Paulo

Componente misterioso do Universo foi capturado pelas lentes por meio da distorção que ela causa na luz.
Formação da matéria escura ainda é misteriosa, mas ela representa 98% do total no Cosmos.

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Ninguém sabe direito o que é a matéria escura, mas os cientistas acabam de apresentar um gigantesco mapa que mostra a sua distribuição pelo Cosmos.

Acredita-se que ela represente 98% de toda a matéria no Universo. Ou seja, a matéria "convencional" e visível é como um grão de areia nessa imensidão
.
Mesmo assim, a composição dessa misteriosa substância ainda é desconhecida e não existem modos de "enxergá-la" diretamente. Mas sem ela as contas sobre o "peso" do Universo simplesmente não fecham.

Apesar de invisível, a matéria escura pode ser detectada pela interferência gravitacional que exerce na matéria.

Em escala pequena, como nos nossos corpos, essas alterações não são perceptíveis. Ninguém leva mais tombos na Terra, por exemplo, por causa da interação com um punhado de matéria escura.

Para que a influência seja notada, é preciso ir a dimensões muito maiores, analisando, no mínimo, o comportamento de galáxias inteiras.

FOTO DA LUZ

Para chegar ao mapa atual, um time internacional de cientistas avaliou um efeito chamado lente gravitacional, que acontece quando a luz de uma fonte distante passa próxima a uma grande concentração de matéria, como um aglomerado de galáxias.

Nesse caso, a trajetória da luz se curva, fazendo a fonte luminosa parecer estar numa outra direção quando vista da Terra. Esse efeito pode ser usado para detectar e "pesar" a matéria escura.

No trabalho, apresentado nesta semana em uma conferência da Sociedade Americana de Astronomia no Texas (EUA), os cientistas mediram a luz de 10 milhões de galáxias, fornecendo um mapa que cobre uma área de 1 bilhão de anos-luz.

"Nós esperamos que, ao mapear mais matéria escura do que o que havia sido estudado antes, nós estamos um passo mais perto de entender esse material e a sua relação com as galáxias e com o Universo", afirmou Catherine Heymans, da Universidade de Edimburgo, uma das autoras do estudo.

MAPA

No mapa feito pela pesquisadora e seus colegas, a distribuição da matéria escura no Universo foi bastante parecida com o que os modelos computacionais previam.

Viu-se, por exemplo, que regiões mais massivas concentravam também mais aglomerados de galáxias.

Renato Dupke, pesquisador do Observatório Nacional que acompanha a conferência nos EUA, afirma que o mapa ajuda a deixar os estudos sobre matéria escura mais robustos.

"Na ciência, por mais que você possa inferir a existência de alguma coisa, é sempre preciso provar. A técnica usada foi muito bem estabelecida, e o mapa corrobora a presença da matéria escura."

Segundo ele, o estudo sobre a composição da misteriosa substância também pode avançar, ajudando a eliminar hipóteses que não se confirmem na escala gigantesca que é proposta.

"Um próximo passo importante para a pesquisa na área é a criação de um mapa 3D da distribuição da matéria escura no Universo. Isso vai facilitar ainda mais os estudos. O Brasil, inclusive, já está envolvido", afirmou.

SAIBA MAIS

Substância "fecha" as contas do Universo
DE SÃO PAULO

Ainda na década de 1930, o astrônomo Fritz Zwicky começou a perceber que tinha alguma coisa errada com os cálculos sobre a massa do Universo. Galáxias se moviam muito mais rápido do que deveriam, o que não podia ser explicado só pela interação gravitacional entre elas.

Na década de 70, observações tiveram resultados que contrariavam as leis da física. Ou seja: ou a disciplina estava errada ou precisava haver mais alguma coisa ali.

O conceito de matéria escura foi então proposto. Ela daria essa "massa" extra e teria influência gravitacional suficiente para alterar o comportamento fisicamente esperado.



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