Folha de São paulo
Médicos diziam que ele não passaria dos 25 anos quando recebeu o diagnóstico de uma doença degenerativa em 1963.
Pesquisador e divulgador científico, britânico mostrou que os buracos negros evaporam com o tempo.
Sarah Lee/Divulgação Science Museum/Associated Press
O físico Stephen Hawking, autor de "Uma Breve História do Tempo", em seu escritório na Universidade de Cambridge
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Stephen Hawking completa hoje 70 anos. E ninguém discute que se trata de uma marca e tanto. Talvez não para um indivíduo sadio, mas certamente para quem recebeu a notícia de que não viveria para completar 25.
A doença que o acomete, a esclerose lateral amiotrófica, costuma matar entre 20 e 48 meses após o aparecimento dos primeiros sintomas.
Quando Hawking recebeu o diagnóstico, em 1963, aos 21, seu médico disse que ele não chegaria a terminar seu doutorado. Não só ele contrariou essa previsão como passou 30 anos como professor e pesquisador da Universidade de Cambridge. Sua aposentadoria veio em 2009.
IMAGEM DO GÊNIO
Especializado em física teórica e cosmologia, Hawking dedicou sua carreira a desvendar alguns dos mais misteriosos segredos do Universo. O fascínio induzido por sua área de estudo, somado ao talento para escrever livros de popularização da ciência, tornou sua figura irresistível para a mídia. Não tardou para que ele fosse catapultado ao status de "gênio preso a uma cadeira de rodas".
Seu maior feito como pesquisador, publicado em 1974, foi combinar os dois alicerces da física -a relatividade geral e a mecânica quântica- para descobrir que buracos negros somem com o tempo.
Esses estranhos objetos nascem quando uma estrela com muita massa esgota seu combustível e implode em razão de seu próprio peso. Contraído até seu limite extremo, o astro gera um campo gravitacional do qual nada pode escapar -nem a luz.
Quando esses objetos foram teorizados, imaginava-se que seu destino fosse crescer sempre, conforme outros objetos caíssem neles e aumentassem sua massa.
Contudo, ao combinar efeitos da física de partículas, Hawking concluiu que, bem na fronteira matemática que divide o mundo exterior do ponto sem volta, há a emissão de uma suave radiação, alimentada pelo conteúdo do próprio buraco.
A batizada radiação Hawking era um "vazamento" de energia do buraco negro, que seria dissipada até a evaporação do objeto.
"Hawking só não ganhou um Nobel porque ninguém conseguiu confirmar por observações a existência dessa radiação", diz George Matsas, físico relativista da Unesp.
Apesar do sucesso, muitos físicos acreditam que a reputação de Hawking foi turbinada muito mais pela fama do que por suas realizações no campo da ciência.
"Ele é um físico excelente numa situação incomum", diz Nathan Berkovits, pesquisador americano que trabalha na Unesp. "Mas eu não o colocaria numa lista dos dez melhores físicos vivos."
O excesso de confiança em Hawking chegou a contagiar até ele próprio, levando a um dos maiores "micos" recentes da física. Em 2004, ele anunciou ter solucionado um dos maiores problemas teóricos ligados aos buracos negros, conhecido como "paradoxo da informação".
Entretanto, o físico foi incapaz de demonstrar sua afirmação e hoje vê o episódio como um embaraço.
A despeito das dificuldades crescentes impostas pela esclerose lateral amiotrófica -que vai tirando os movimentos do corpo e leva à morte impedindo a flexão torácica que permite a respiração-, Hawking casou-se e separou-se duas vezes. Tudo após o diagnóstico.
Teve três filhos em seu primeiro casamento e, quando ficou impedido de falar em razão de uma traqueostomia de emergência, passou a se comunicar por meio de um sintetizador de voz.
Hoje, para falar, ele move a bochecha a fim de escolher palavras numa tela. O computador detecta o movimento e forma frases. Ouvir uma resposta dele, das curtas, a uma pergunta pode levar vários minutos. Mas ele ainda está lá, e a mente continua aguda como de costume.
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