À primeira vista, a imagem impressiona: ao que parece, temos uma galáxia passando pela outra. Colisões entre galáxias são eventos relativamente comuns no universo, o post recente “Colisão entre gigantes” mesmo relata um estudo sobre uma colisão envolvendo a nossa própria Via Láctea. Mas a colisão retratada no atual post tem algo de estranho.
Mesmo que uma galáxia bata de frente com outra, o que se observa é que ambas sofrem deformações muito antes da colisão em si. Uma galáxia pode até atravessar a outra, mas não sem perder sua forma original. Tudo culpa da imensa força de gravidade de ambas – uma puxa daqui, outra puxa de lá e as duas vão se deformando como massa de modelar.
Mas então, por que nenhuma das duas parece estar se deformando? Ou pior, como uma das galáxias parece estar deformada no lugar errado? É como se uma estivesse passando dentro da outra, mas apenas a borda se deforma. Como pode?
Muito simples, um truque de perspectiva! E que belo truque!
As galáxias da foto são chamadas de NGC 3314 A e B, sendo A a galáxia vista na frente (com a deformação na parte abaixo e à direita) e B, a galáxia de trás. Mas, voltando ao problema principal, como alguém pode afirmar que as duas galáxias não estão realmente interagindo uma com a outra?
A falta de deformações intensas nas áreas centrais é a primeira pista de que as duas não estão assim tão próximas. Um estudo do movimento de ambas confirma isso e mostra que as duas têm movimentos independentes. Com base nessas medidas (obtidas pelo telescópio espacial Hubble), o time de astrônomos liderado pelo professor William Keel, da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, chegou à conclusão de que as duas galáxias não estão e nunca estiveram em rota de colisão. Mais ainda, as duas estão separadas por dezenas de milhões de anos-luz!
Mas se as duas não estão interagindo uma com a outra, como NGC 3314 A tem essa deformidade tão evidente? Dá para perceber uma “mancha” de estrelas azuis que não seguem os braços espirais da galáxia. A resposta pode ser uma interação com uma terceira galáxia, NGC 3312, vista de perfil, abaixo e à direita, que deve ter passado por perto milhões de anos atrás.
Um alinhamento como esse não só representa um fato curioso, mas também é útil para estudar aspectos da galáxia de trás com detalhes. A motivação desse estudo foi justamente um estudo de NGC 3314 B através da técnica de micro lente gravitacional. Essas lentes gravitacionais são desvios da luz das estrelas da galáxia de trás nas proximidades das estrelas da galáxia da frente, promovendo um efeito idêntico ao de uma lente.
Por Cássio Barbosa
Observatório G1
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