Sabe aquela mosquinha, bem pequena, que
fica voando em torno das frutas que você tem em casa e que nos deixa bastante
irritados quando decide nos utilizar como "aeroporto"? Pois bem, elas
vêm sendo usadas por biólogos da NASA para saber mais sobre a genética dos
seres humanos.
Uma mosquinha chamada Drosophila
Certamente todos já passamos pela situação de
esquecermos uma porção de bananas ou maçãs ao ar livre na cozinha de nossa
casa. Logo verificamos que um número considerável de pequeninas moscas decidiu
dividir as frutas conosco. Essas pequeninas moscas que vemos se aglomerarem em
torno dessas frutas são conhecidas pelos cientistas como Drosophilas
melanogaster, um nome pomposo para um animal tão pequeno.
As Drosophilas são facilmente reconhecidas pelo seu
pequeno tamanho, cerca de 0,32 centímetros de comprimento, seus grandes olhos
vermelhos esbugalhados e por terem um corpo longo e fino.
As Drosophilas têm um potencial reprodutor enorme. Uma
fêmea pode ela irá colocar cerca de 500 ovos sobre a parte apodrecida de uma
fruta ou vegetal. O mais surpreendente é que o ciclo de vida de uma Drosophila
é extremamente rápido. Em apenas uma semana o ovo colocado pela Drosophila
fêmea se desenvolve e se transforma em uma mosca adulta.
O que as Drosophinas têm a ver
com os seres humanos?
A Drosophilas é semelhante
aos seres humanos e outros mamíferos, geneticamente falando. Após um estudo detalhado, os
geneticistas concluíram que 61% dos genes capazes de provocar doenças nos seres
humanos possuem um parceiro correspondente no código genético das moscas. Além
disso também foi notado pelos cientistas que 50% das sequências de proteínas
das Drosophilas possuem análogos nos mamíferos.
É claro que os cientistas não estão nos
dizendo que as moscas Drosophilas e os seres humanos são completamente
equivalentes, mas as analogias genéticas encontradas entre eles permite que os
pesquisadores realizem estudos genéticos nas pequenas moscas e extrapolem,
cuidadosamente, para os seres humanos as conclusões obtidas. É por esse motivo
que as moscas Drosophilas Melanogaster são elementos comuns nos laboratórios de
pesquisa genética. Já que moralmente não podemos realizar experiências genéticas
com seres humanos, as pobres moscas são excelentes substitutos.
Uma das vantagens de trabalhar com as
Drosophilas é o fato de que essas moscas se reproduzem com muita facilidade.
Isso significa que várias gerações de insetos podem ser estudadas em um
intervalo de tempo muito curto.
As analogias genéticas entre as
Drosophilas e os seres humanos têm permitido usar os conhecimentos adquiridos
nos estudos realizados com essas pequenas moscas para tentar elaborar processos
de combate a diversas doenças comuns entre nós. Por exemplo, as Drosophilas
estão sendo usadas como modelo genético para o estudo da doença de Parkinson e
da doença de Huntington.
As
moscas "astronautas" da NASA
Para a pesquisa
espacial muitos problemas se agravam quando temos que incluir seres humanos.
Por exemplo, em uma viagem tripulada para Marte, os astronautas serão
submetidos a mudanças bastante drásticas no valor do campo gravitacional que
atua sobre eles. No momento da decolagem de um foguete para uma missão espacial
os corpos dos astronautas são submetidos a uma aceleração gravitacional várias
vezes superior àquela que sentimos na superfície do nosso planeta. A força
gravitacional na superfície da Terra produz uma aceleração de aproximadamente
9,8 metros/segundo2, conhecida por g. É por esse motivo que dizemos que, no
momento da decolagem de um foguete, os astronautas estão submetidos a uma
aceleração de vários g's.
No entanto, após ter iniciado o seu longo voo interplanetário, a força
gravitacional que passa a atuar sobre os astronautas é muito pequena,
praticamente nula. Quando estiverem realizando as manobras necessárias para
pousar na superfície de Marte os astronautas de novo serão submetidos a uma
força intensa de vários g
enquanto que, durante a sua estadia na superfície do planeta vermelho, a ação
gravitacional será de apenas 0,38 g.
Devido a tantas variações na intensidade
da força gravitacional que atua sobre o nosso corpo, os cientistas precisam
investigar como os genes dos astronautas irão reagir a isso. Esse fato é muito
importante, pois mudanças genéticas provocam doenças. A pergunta que os
cientistas fazem é se mudanças genéticas provocadas por essas variações no
campo gravitacional que atua sobre os corpos dos astronautas seriam capazes de
provocar novas, inesperadas, e perigosas doenças, algumas delas até mesmo
inteiramente desconhecidas na Terra.
Como isso funciona? Os genes se revelam no
nosso corpo dando instruções para que as células façam as proteínas. Existem
cerca de 50000 diferentes proteínas no nosso corpo e elas são as responsáveis
por praticamente tudo que ocorre nele. São as proteínas que nos ajudam a digerir
os alimentos, coagulam o sangue e cicatrizam os nossos ferimentos. As proteínas
são os verdadeiros blocos construtores das células e dos tecidos do corpo
humano. A grande preocupação dos cientistas é que, em um ambiente de micro
gravidade ou de gravidade muito intensa, os genes poderiam comandar um conjunto
diferente de proteínas. Deste modo o corpo humano poderia ser levado a reagir de modo
completamente diferente em relação ao que acontece na Terra.
Já
existe evidências de que o ambiente de micro gravidade altera a representação
genética. Por exemplo, em 1999 os cientistas estudaram o crescimento de células
de rins humano a bordo de uma missão Space Shuttle. Para surpresa, mais de 1000
genes das células se comportaram de modo completamente diferente. Os cientistas
notaram que houve uma produção intensa de receptores de vitamina D, o que é
muito bom pois esses receptores podem reduzir o risco de câncer na próstata.
A
reação do nosso corpo a um ambiente de micro gravidade, semelhante ao que
acabamos de descrever, é, sem sombra de dúvida, muito benéfica, mas nem sempre
é isso que ocorre. Vários testes feitos com astronautas revelaram que as nossas
células especializadas em lutar contra as doenças atuam de modo muito mais
fraco quando estamos no espaço.
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