3 de jul. de 2014

Coitada da mosca espacial

Sabe aquela mosquinha, bem pequena, que fica voando em torno das frutas que você tem em casa e que nos deixa bastante irritados quando decide nos utilizar como "aeroporto"? Pois bem, elas vêm sendo usadas por biólogos da NASA para saber mais sobre a genética dos seres humanos. 

Uma mosquinha chamada Drosophila

Certamente todos já passamos pela situação de esquecermos uma porção de bananas ou maçãs ao ar livre na cozinha de nossa casa. Logo verificamos que um número considerável de pequeninas moscas decidiu dividir as frutas conosco. Essas pequeninas moscas que vemos se aglomerarem em torno dessas frutas são conhecidas pelos cientistas como Drosophilas melanogaster, um nome pomposo para um animal tão pequeno.

As Drosophilas são facilmente reconhecidas pelo seu pequeno tamanho, cerca de 0,32 centímetros de comprimento, seus grandes olhos vermelhos esbugalhados e por terem um corpo longo e fino.

As Drosophilas têm um potencial reprodutor enorme. Uma fêmea pode ela irá colocar cerca de 500 ovos sobre a parte apodrecida de uma fruta ou vegetal. O mais surpreendente é que o ciclo de vida de uma Drosophila é extremamente rápido. Em apenas uma semana o ovo colocado pela Drosophila fêmea se desenvolve e se transforma em uma mosca adulta.

O que as Drosophinas têm a ver com os seres humanos?

A Drosophilas é semelhante aos seres humanos e outros mamíferos, geneticamente falando. Após um estudo detalhado, os geneticistas concluíram que 61% dos genes capazes de provocar doenças nos seres humanos possuem um parceiro correspondente no código genético das moscas. Além disso também foi notado pelos cientistas que 50% das sequências de proteínas das Drosophilas possuem análogos nos mamíferos.
É claro que os cientistas não estão nos dizendo que as moscas Drosophilas e os seres humanos são completamente equivalentes, mas as analogias genéticas encontradas entre eles permite que os pesquisadores realizem estudos genéticos nas pequenas moscas e extrapolem, cuidadosamente, para os seres humanos as conclusões obtidas. É por esse motivo que as moscas Drosophilas Melanogaster são elementos comuns nos laboratórios de pesquisa genética. Já que moralmente não podemos realizar experiências genéticas com seres humanos, as pobres moscas são excelentes substitutos. 

Uma das vantagens de trabalhar com as Drosophilas é o fato de que essas moscas se reproduzem com muita facilidade. Isso significa que várias gerações de insetos podem ser estudadas em um intervalo de tempo muito curto.

As analogias genéticas entre as Drosophilas e os seres humanos têm permitido usar os conhecimentos adquiridos nos estudos realizados com essas pequenas moscas para tentar elaborar processos de combate a diversas doenças comuns entre nós. Por exemplo, as Drosophilas estão sendo usadas como modelo genético para o estudo da doença de Parkinson e da doença de Huntington. 

As moscas "astronautas" da NASA 

Para a pesquisa espacial muitos problemas se agravam quando temos que incluir seres humanos. Por exemplo, em uma viagem tripulada para Marte, os astronautas serão submetidos a mudanças bastante drásticas no valor do campo gravitacional que atua sobre eles. No momento da decolagem de um foguete para uma missão espacial os corpos dos astronautas são submetidos a uma aceleração gravitacional várias vezes superior àquela que sentimos na superfície do nosso planeta. A força gravitacional na superfície da Terra produz uma aceleração de aproximadamente 9,8 metros/segundo2, conhecida por g. É por esse motivo que dizemos que, no momento da decolagem de um foguete, os astronautas estão submetidos a uma aceleração de vários g's. No entanto, após ter iniciado o seu longo voo interplanetário, a força gravitacional que passa a atuar sobre os astronautas é muito pequena, praticamente nula. Quando estiverem realizando as manobras necessárias para pousar na superfície de Marte os astronautas de novo serão submetidos a uma força intensa de vários g enquanto que, durante a sua estadia na superfície do planeta vermelho, a ação gravitacional será de apenas 0,38 g. 
Devido a tantas variações na intensidade da força gravitacional que atua sobre o nosso corpo, os cientistas precisam investigar como os genes dos astronautas irão reagir a isso. Esse fato é muito importante, pois mudanças genéticas provocam doenças. A pergunta que os cientistas fazem é se mudanças genéticas provocadas por essas variações no campo gravitacional que atua sobre os corpos dos astronautas seriam capazes de provocar novas, inesperadas, e perigosas doenças, algumas delas até mesmo inteiramente desconhecidas na Terra. 

Como isso funciona? Os genes se revelam no nosso corpo dando instruções para que as células façam as proteínas. Existem cerca de 50000 diferentes proteínas no nosso corpo e elas são as responsáveis por praticamente tudo que ocorre nele. São as proteínas que nos ajudam a digerir os alimentos, coagulam o sangue e cicatrizam os nossos ferimentos. As proteínas são os verdadeiros blocos construtores das células e dos tecidos do corpo humano. A grande preocupação dos cientistas é que, em um ambiente de micro gravidade ou de gravidade muito intensa, os genes poderiam comandar um conjunto diferente de proteínas. Deste modo o corpo humano poderia ser levado a reagir de modo completamente diferente em relação ao que acontece na Terra. 

Já existe evidências de que o ambiente de micro gravidade altera a representação genética. Por exemplo, em 1999 os cientistas estudaram o crescimento de células de rins humano a bordo de uma missão Space Shuttle. Para surpresa, mais de 1000 genes das células se comportaram de modo completamente diferente. Os cientistas notaram que houve uma produção intensa de receptores de vitamina D, o que é muito bom pois esses receptores podem reduzir o risco de câncer na próstata. 

A reação do nosso corpo a um ambiente de micro gravidade, semelhante ao que acabamos de descrever, é, sem sombra de dúvida, muito benéfica, mas nem sempre é isso que ocorre. Vários testes feitos com astronautas revelaram que as nossas células especializadas em lutar contra as doenças atuam de modo muito mais fraco quando estamos no espaço.

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