24 de jul. de 2014

Tô sentindo uma "cosquinha" dentro do meu traje espacial!

Imagine um filme de ficção científica onde astronautas, durante uma viagem espacial, contraem uma doença simples provocada por algum micróbio. De repente, aquela doença tão comum na Terra e de tão fácil cura se torna algo extremamente poderoso, capaz até mesmo de matar toda a tripulação da espaçonave. O que fazer? Isolados no espaço, em um ambiente confinado, sem ter ao seu lado os modernos recursos médicos que encontramos na Terra e sem poder retornar imediatamente ao nosso planeta, a única ajuda dada aos astronautas vem de milhões de quilômetros de distância, pelos meios de comunicação. A tripulação da nave espacial é dizimada e o projeto que custou anos de elaboração, e uma pequena fortuna, é completamente perdido. Exagero? Não! Histórias como essa estão sendo levadas em conta pelos pesquisadores da NASA ao analisarem projetos de missões que pretendem levar astronautas em longínquas viagens ao espaço. Mas, porque esta preocupação? Não estaria havendo um excesso de cuidados por parte da NASA? Infelizmente não. Todo esse temor é plenamente justificado e, surpreendentemente, um dos principais geradores de preocupações é a atuação de uma velha conhecida nossa, a força gravitacional da Terra, ou melhor, o seu contínuo enfraquecimento à medida que nos afastamos no espaço.

As dificuldades de viver no espaço... Com micróbios!


Vários centros científicos de biologia, associados a projetos da NASA, começaram a investigar quais os efeitos que um ambiente de "microgravidade" teria sobre os seres vivos. Viver no espaço só é fácil em filmes de ficção científica, nosso corpo reage de modo muito intenso a mudanças no valor da força gravitacional que age sobre nós e muitos problemas de saúde são provocados por longas estadias no espaço. O que os pesquisadores não esperavam descobrir é que fatores agravantes à saúde dos seres humanos, de difícil controle e capazes de criar sérios problemas durante um vôo de longa duração, pudessem ser intensificados em microorganismos em ambientes de baixa gravidade. Para surpresa dos biólogos, verificou-se que alguns micróbios se tornam muito mais virulentos quando submetidos a um ambiente de microgravidade. E isso é muito preocupante quando um dos micróbios que aumenta a sua agressividade em relação ao ser humano é a terrível salmonela.


Um intruso no espaço 

Certamente, para aqueles que estão no espaço nada pior do que ficar doente. Isto é agravado pelo fato de que o nosso sistema imunológico funciona muito pior quando estamos em um ambiente de micro gravidade. Isto faz com que as infecções sejam mais prováveis e bem mais poderosas. Se adicionarmos a isso o fato de que certos micróbios se tornam mais poderosos no espaço, concluímos que o quadro pode ficar realmente assustador. Não há companhia mais indesejável do que um micróbio, ainda mais poderoso, em um ambiente isolado onde o seu corpo está mais susceptível a doenças.

O que fazer para expulsar essa companhia indesejada? 


Os biólogos têm se debruçado sobre este problema, procurando entender por que razão um micróbio muda o seu comportamento quando é colocado em um ambiente de micro gravidade. Os cientistas não têm certeza do que ocorre mas suspeitam que as células sentem deformações em sua estrutura externa, provocadas pela mudança da força gravitacional, e respondem a esse estímulo. Em geral as células que formam culturas nos laboratórios aqui na Terra estão submetidas à força gravitacional de 1g. Em razão disso, elas se depositam no fundo dos recipientes e ficam com uma forma achatada. No entanto, quando essas células estão "flutuando" em um ambiente de micro gravidade (µg) elas tendem a permanecer mais arredondadas.




A explicação dada acima não é considerada suficiente pelos cientistas e, para eles, a resposta definitiva ao problema de comportamento celular em micro gravidade pode surgir com o auxílio da genética.

No entanto, os biólogos sabem que existe uma boa chance de aprendermos melhor de que modo um determinado micróbio é capaz de provocar doenças se conseguirmos mostrar que a sua virulência está, de alguma forma, associada ao meio ambiente onde ele vive. O estudo de mudanças no seu comportamento poderia indicar aos cientistas novos caminhos no combate a estes micróbios, com a descoberta de novas drogas e vacinas.

Uma das melhores maneiras de estudar as possíveis mudanças no comportamento de micróbios em ambientes de micro gravidade é realizando experiências no espaço, seja durante missões espaciais dos Space Shuttle ou nos laboratórios da International Space Station. E isso já está sendo feito.


As primeiras experiências: cerveja no espaço, mas não é para beber não!

É claro que você já reconheceu essa coisa feia mostrada ai ao lado. Ela é a Saccharomyces cerevisiae e, ao contrário do que Vinícius de Moraes afirmou ("que me desculpem as feias mas beleza é essencial"), este fungo, embora feio, é adorado por milhões de pessoas em todo o mundo que o consideram parte essencial de suas vidas. A saccharomyces cerevisiae é o fungo comumente conhecido como levedura de cerveja ou de padeiro. Ele é o responsável por fazer a massa do pão crescer e também provoca a fermentação dos grãos e das uvas. A importância deste fungo vai além de pães, cervejas e vinhos pois a saccharomyces cerevisiae, após ser tratada pela engenharia genética, permitiu a obtenção de novos remédios tais como a vacina da hepatite B.

A levedura da cerveja não é patogênica (se fosse grande parte da população mundial já teria morrido, feliz é claro!) mas ela foi escolhida pelos cientistas para uma série de testes em ambientes de micro gravidade. Esta escolha é justificada pelo fato de que as células da levedura podem ser facilmente manuseadas.

Este estudo é fundamental para que os biólogos possam entender as bases genéticas das infecções. Mais uma vez a pesquisa espacial irá produzir resultados que auxiliarão a toda a humanidade. Os micróbios que se cuidem!

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