Folha de São Paulo - 02/12/2010
O trabalho inédito sugere que ela é dominada por vapor d'água.
Concepção artística da super-Terra GJ 1214b e sua estrela, a cerca de 42 anos-luz da Terra. France Presse |
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pela primeira vez, astrônomos conseguiram colher informações sobre a atmosfera de um planeta fora do Sistema Solar que entra na categoria das chamadas super-Terras. É o mais perto que conseguimos chegar até agora de analisar o ar de um análogo de nosso mundo.
Astros dessa classe não têm correspondente nas redondezas do Sol. Por aqui, há basicamente dois tipos de planeta: os rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) e os gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Os primeiros são pequeninos, e os segundos, enormes.
Já as super-Terras parecem estar no meio do caminho entre uma categoria e outra, com massa duas a dez vezes a terrestre. Mas, como nunca vimos nada parecido na vizinhança, é difícil dizer como são esses mundos -e se podem ser habitados.
Um passo-chave para determinar isso é analisar a atmosfera. Isso se torna possível quando tais planetas estão alinhados de tal modo que periodicamente passam à frente de suas estrelas.
Nessas ocasiões, parte da luz emanada dela passa de raspão pela camada de ar que recobre aquele mundo e chega até nós carregando uma "assinatura" do que encontrou pelo caminho.
As observações de Jacob Bean, do Centro Harvard-Smithsoniano para Astrofísica (EUA), referem-se ao planeta GJ 1214b. Ele orbita uma anã vermelha (estrela menor que o Sol) a cerca de 42 anos-luz, e completa uma volta a cada dia e meio terrestre.
Os cientistas fizeram observações no Chile, e concluíram... bem, não concluíram o que esse mundo deve ser, mas sim o que ele não é.
Dada a proximidade com sua estrela, é quase certo que seja quente demais para ser habitável. É certo que a atmosfera de GJ 1214b não pode possuir grandes quantidades de hidrogênio e ao mesmo tempo ser livre de nuvens. Os dados sugerem a hipótese de que a atmosfera do planeta é dominada por vapor d'água.
O estudo está na última edição da "Nature".
O Telescópio Espacial James Webb, o sucessor do Hubble, será capaz de determinar com muito mais precisão a composição do ar desse mundo. O duro é esperar: a Nasa estima que seu lançamento ocorra em 2015.
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