O Globo - 03/12/2010
Crescimento das pesquisas nacionais é tema de reportagem da revista
Renato Grandelle
O bom momento brasileiro, tema de muitas reportagens na imprensa estrangeira, chegou à "Science". A revista dedica sete páginas de sua edição de hoje às transformações da pesquisa científica no país na última década. Mas, além da multiplicação de recursos e de artigos acadêmicos publicados, o repórter Antonio Regalado também destaca pontos fracos, como a carência de mão-de-obra qualificada.
Entre 1997 e 2007, de acordo com a revista, o número de estudos publicados por pesquisadores brasileiros mais do que dobrou. Agora, são cerca de 19 mil, o que põe o país na 13ª posição entre os que mais produzem descobertas, à frente de Holanda, Israel e Suíça.
Este ano, o país concedeu duas vezes mais títulos de dourado do que em 2001. Cerca de 130 instituições federais de pesquisa foram criadas desde então. A conquista de tantos novos postos de trabalho não surpreende quem acompanha o orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia. Dez anos atrás, a pasta contava com US$600 milhões em caixa. Hoje, são US$4 bilhões. Isso permitiu ao governo, por exemplo, restabelecer, em 2008, o seu programa nuclear, após duas décadas de marasmo.
"É a mudança na sorte de uma noção que, durante a década de 90, foi acossada por problemas econômicos", lembra a reportagem. "À época, os pesquisadores careciam de fundos; o Brasil chegou a ver sua bandeira ser removida do logotipo da Estação Espacial Internacional depois de não conseguir financiamento para a construção de seis componentes."
O reconhecimento internacional foi comemorado por Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
- Há uma correlação entre investimentos em ciência, tecnologia e inovação e o avanço no padrão de vida da sociedade - destaca. - O país está ciente disso, e, nos últimos 40 anos, formou uma equipe de cientistas muito forte. E o pré-sal será uma dádiva, porque multiplicará os recursos destinados às pesquisas, sobretudo aquelas ligadas ao meio ambiente.
Área biológica é mais carente de recursos
Para o presidente da ABC, a produção brasileira em matemática, física e engenharia já é semelhante à de países desenvolvidos. A área biológica, no entanto, ainda necessita de investimentos maciços em laboratórios, equipamentos e recursos humanos para tornar-se competitiva internacionalmente.
- Também temos um grande gargalo nas pesquisas promovidas por empresas - ressalta. - Embora haja projetos para estimular a produção científica nesse âmbito, muitas ainda preferem importar as novidades do exterior.
Outro calcanhar-de-aquiles, identificado pela "Science" e por Palis, é o baixo contingente de pesquisadores alocados na Amazônia - hoje, são apenas 300. Um estudo recente da ABC propõe ao governo oferecer salários maiores aos cientistas que moram na região.
Autoridades federais entrevistadas pela "Science" anunciaram sua pretensão de dobrar o volume atual de pesquisas até 2020, tornando o Brasil uma potência na área. Palis concorda com a meta, mas a condiciona à maior reserva de recursos ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
- A pasta tem 1,1% do PIB à disposição. Precisamos de 2,2% - recomenda o pesquisador que reforçou a cobrança em uma nota divulgada ontem, em conjunto com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e destinada à equipe de transição do governo Dilma Rousseff.
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