Bombear água do solo em excesso cancela efeito de represas
©Ramon grosso dolarea / Shutterstock
Quando bombeamos água do subsolo para irrigação, consumo e usos industriais, ela não volta totalmente para o solo: evapora para a atmosfera ou corre para rios e canais que desaguam nos oceanos. De acordo com um novo estudo, de 2050 em diante o bombeamento da água do subsolo provocará um aumento global no nível do mar de aproximadamente 0,8 mm por ano.
“Além do gelo terrestre, a extração excessiva de água do subsolo está rapidamente se tornando a contribuição mais importante para o aumento do nível do mar”, observa o principal autor do estudo, Yoshihide Wada, da Utrecht University, na Holanda. Nas décadas seguintes, espera-se que as contribuições da água do subsolo para o aumento se tornem tão significativas quanto as provenientes do derretimento de geleiras e calotas polares da Groenlândia e Antártica.
“Entre 1970 e 1990, o aumento do nível do mar provocado pelo bombeamento de água do subsolo foi anulado pela construção de represas, que acumulam água em reservatórios para que ela não vá para o mar”, explica Wada. Sua pesquisa mostra que desde 1990, quando os países bombeiam mais água do subsolo que constroem represas, esse cenário mudou.
Os pesquisadores não olharam apenas para a contribuição do bombeamento de água do solo, que já haviam investigado, mas também para outros fatores que influenciam a quantidade de água terrestre entrando nos oceanos, incluindo drenagem de pântanos, desmatamento e novos reservatórios. Wada e seus colegas calculam que na metade desse século o efeito de fatores adicionais somará mais 0,05mm por ano ao nível do mar atual – além da contribuição da água do subsolo.
Segundo Wada, o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, em 2007, abordou o efeito do derretimento do gelo terrestre sobre o aumento do nível do mar, incluindo geleiras e calotas polares, mas não quantificou a contribuição futura de outras fontes de água terrestres como do subsolo, de reservatórios e áreas úmidas, porque os autores do relatório consideraram as estimativas para essas fontes como incertas.
“Eles supuseram que as contribuições positivas e negativas da água do subsolo e dos reservatórios se cancelariam”, esclarece Wada. “Descobrimos que esse não é o caso. A contribuição da água do subsolo vai aumentar e superar a contribuição negativa dos reservatórios”.
No estudo atual, os pesquisadores estimaram o impacto de depleção da água do subsolo desde 1900 usando dados de países individuais sobre bombeamento, modelos de simulação de recarga e reconstruções de como a demanda por água mudou ao longo dos anos. Eles também compararam e corrigiram essas estimativas com observações de fontes como o satélite Grace, que usa medições gravitacionais para determinar variações no armazenamento de água do subsolo.
Com essas taxas de depleção, Wada e seus colegas estimam que no ano 2000 cerca de 204 km³ de água do subsolo foram bombeados – e a maior parte foi usada para irrigação. Essa maneira de utilizar água, por sua vez, evapora de plantas, entra na atmosfera e retorna em forma de chuva. Levando em consideração a infiltração da água do solo de volta para os aquíferos, bem como a evaporação e o escoamento, os pesquisadores estimaram que o bombeamento resultou em um aumento marítimo de aproximadamente 0,57mm em 2000 – muito maior que o de 1900, de 0,035mm.
Os pesquisadores projetaram também depleção da água do subsolo, armazenagem em reservatórios e outros impactos para o resto do século usando modelos climáticos e crescimento estimado de população, além de mudanças no uso de terras. Eles descobriram que o aumento na depleção da água do subsolo entre 1900 e 2000 é devido, em sua maior parte, à demanda por água. Já o aumento projetado entre 2000 e 2050 estará relacionado, de forma geral, a fatores climáticos como diminuição da disponibilidade de água na superfície e campos agrícolas irrigados, que secam mais rápido em climas quentes.
Se tudo continuar como projetado, Wada estima que em 2050 o efeito cumulativo dessas fontes e reservatórios de água terrestre independentes de gelo – incluindo o bombeamento da água do subsolo, a drenagem de pântanos e represas – terá adicionado 31mm ao nível do mar (desde 1900).
De acordo com Wada, o novo estudo supõe que as pessoas encontrarão uma forma de extrair água do subsolo, onde quer que ela esteja. Mas alguns de seus colegas estão pesquisando os limites de extração. Uma forma de reduzir a contribuição da água do subsolo ao aumento do nível do mar, aponta ele, é melhorar a eficiência da água na agricultura: plantar mais, com menos.
O artigo da equipe de pesquisa foi publicado na Geophysical Research Letters, periódico da American Geophysical Union.
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