Medidas para proteger o mundo de mudanças climáticas independem do resultado de cidade peruana
Imagine os seguintes cenários:
Os dois maiores poluidores do mundo decidem unilateralmente cortar as emissões de dióxido de carbono (CO2), o gás onipresente responsável pela maior parte do aquecimento global.
Ao mesmo tempo, um grande país em desenvolvimento admite que o crescimento futuro terá de ser equilibrado com os limites de poluição de CO2.
E uma nação industrializada assume a responsabilidade pela camada de gases de efeito estufa que já adicionou à atmosfera.
Ou, melhor ainda:
As alternativas para a queima de combustíveis fósseis para gerar eletricidade ou impulsionar veículos ficam baratas e começam a ser implantadas em larga escala.
O desmatamento das florestas do mundo desacelera e elas não são mais transformadas em pastos e lavouras.
E até fazendeiros que não acreditam particularmente em mudanças climáticas começam a tomar medidas para restaurar carbono em solos depauperados para aumentar a fertilidade.
Todas essas medidas espelhariam ações significativas para combater a mudança climática. E é exatamente isso o que está acontecendo nesse momento no mundo.
Independentemente do resultado produzido pelo circo itinerante conhecido como Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Lima, no Peru, muitos países estão tomando medidas por conta própria para frear o aquecimento global.
Quando a reunião em Lima terminar, o mundo deverá estar bem encaminhado para assumir compromissos nacionais para combater as mudanças climáticas.
Mas nem tudo são boas notícias.
A poluição do Japão aumentou novamente devido ao fechamento de reatores nucleares na esteira dos chamados derretimentos na usina de Fukushima.
O Canadá repudiou os compromissos que assumiu no âmbito do Protocolo de Kyoto e parece satisfeito em deixar que a poluição suba o máximo possível e tão rápido quanto possível, talvez porque um Ártico mais quente poderia permitir que encontrasse ainda mais areias betuminosas e outros recursos naturais (não muito diferente da Rússia, aparentemente favorável ao aquecimento global).
E a Austrália viu a poluição se avolumar com a revogação do seu imposto sobre o carbono.
Décadas de atraso significam que as esperanças de limitar o aquecimento global a menos de 2ºC, ou restringir as concentrações atmosféricas de CO2 a menos de 450 partes por milhão (ppm) parecem um tanto irrealistas.
De fato, se o mundo só pode adicionar cerca de 1 trilhão de toneladas de carbono na atmosfera, como foi sugerido por cientistas, então metade disso já foi queimado e o resto poderia literalmente se desfazer em fumaça nas próximas décadas.
O mundo ainda obtém 80% de toda a sua energia da queima de combustíveis fósseis.
Não é de admirar que a geoengenharia – a manipulação deliberada do clima do planeta por sequestro de CO2 do ar ou bloqueio da luz solar – começou a ser sugerida como plano alternativo, ou “backup”.
No entanto, ainda há esperanças.
A China, o maior poluidor do planeta, quer tentar atingir um pico em sua extraordinariamente volumosa produção de gases de efeito estufa até 2030 sob os termos de um novo acordo selado com os Estados Unidos — e não se trata de um pico tão elevado quanto os da Cordilheira do Himalaia em suas fronteiras.
Segundo esse mesmo acordo, os Estados Unidos procurarão reduzir sua poluição de CO2 em até 28% até 2025.
Mas a União Europeia supera os maiores poluidores industriais do planeta ao se comprometer com uma ambiciosa meta de corte de 40% até 2030.
A produção de energia eólica e solar disparou nos últimos anos, assim como a energia hidrelétrica produzida por imensas barragens.
A China está construindo mais usinas nucleares que movidas a carvão, e prometeu aumentar essa energia de baixo carbono para 20% de suas necessidades até 2030.
Uma paulatina guinada para gás natural, menos intensiva em CO2, está levando à substituição de petróleo e carvão, muito mais sujos, enquanto aumentar a eficiência energética significa mais aquecimento, arrefecimento, locomoção e luz sem tanta intensificação da queima de combustíveis fósseis.
Além disso, devagar e sempre, a captura e o armazenamento de CO2 estão começando a ser testados em usinas de energia e outras grandes fontes poluentes.
Estão em andamento esforços para reduzir o CO2 em todos os níveis imagináveis — de indivíduos, a famílias, cidades, estados, províncias, e até corporações multinacionais.
Essas iniciativas vão desde o plantio de árvores em zonas urbanas até uma tentativa de substituir o óleo de palma [nome dado ao óleo de dendê no contexto internacional] de áreas desmatadas na Indonésia.
Foi justamente esse desmatamento que, de tempos em tempos, ajudou a empurrar o Brasil para sua infeliz posição como terceiro maior poluidor de gases de efeito estufa do mundo. Paralelamente, o país diminuiu o ritmo de sua derrubada da Floresta Amazônica.
Esses ainda são pequenos passos, e até agora inadequados para a escala do desafio que se encontra à frente, que envolve atingir o marco de poluição zero antes do final do século 21. Mas eles também são apenas os primeiros passos e estão ocorrendo a um ritmo cada vez mais acelerado, o que sugere um possível futuro livre de mudanças climáticas catastróficas.
O novo slogan em prol de ações para combater o aquecimento global deveria ser: Mais e Mais Rápido.
Quanto mais e quanto mais rápido deveriam ser as duas únicas questões em discussão.
Ao avaliar as notícias de Lima, é preciso ter em mente que o processo internacional não abrange todo o progresso já feito para combater mudanças climáticas até agora.
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