8 de jul. de 2011

Uma única terra

Revista Pesquisa Fapesp
Edição Impressa 184 - Junho 2011
Neldson Marcolin

Há 85 anos, o alemão Reinhard Maack achava, no Brasil, evidências sobre a origem dos continentes


© ACERVO DE ALESSANDRO CASAGRANDE/FOTOS DE REINHARD MAACK
Maack lê mapa durante expedição no rio Ivaí, em 1934, enquanto material seca

A teoria de que todos os continentes estiveram unidos formando uma única extensão de terra há cerca de 250 milhões de anos foi proposta, de modo cientificamente fundamentado, pelo geólogo e meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener em 1912. No livro A origem dos continentes e oceanos, publicado em 1915, reuniu evidências morfológicas (o “encaixe” da América do Sul com a África), paleoclimáticas (vestígios de glaciares em terras tropicais) e paleontológicas (fósseis de plantas tropicais no Ártico) para compor sua hipótese. A teoria foi debatida nas décadas seguintes e rejeitada pela maioria dos cientistas porque faltava uma boa explicação para a movimentação dos continentes. Alguns anos depois, no Brasil, um outro alemão, Reinhard Maack (1892-1969), achou evidências geológicas no oeste de Minas Gerais que iam 
na mesma direção dos trabalhos feitos por Wegener.

Maack havia passado 11 anos na colônia alemã África do Sudoeste (atual Namíbia) trabalhando como técnico em geodésia. Nos seus primeiros anos no Brasil realizou pesquisas no cerrado mineiro e deparou-se com formações geológicas iguais às da Namíbia.
No mesmo ano dessa descoberta, em 1926, ele 
a descreveu no artigo “Uma viagem de pesquisa do planalto de Minas Gerais até o Paranaíba”, publicado na Revista da Sociedade de Geografia em Berlim. “Foi o primeiro trabalho de pesquisa de Maack no Brasil e tinha várias falhas, mas suas observações foram comprovadas anos mais tarde”, conta o agrônomo Alessandro Casagrande, 
da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador da Rede Brasileira de História Ambiental-RBHA, autor 
de um capítulo sobre o alemão no livro Histórias 
de uma ciência regional, organizado por Fabiano Ardigó (Contexto, 2011).

Maack foi para a Namíbia em 1911. 
Lá realizou serviços de topografia para o governo e fazendeiros da colônia ao mesmo tempo que efetuava expedições memoráveis como a de 1917, que determinou 
a altura da Brandberg, a montanha mais alta do país, com 2.585 metros. Na mesma região, descobriu uma gruta com pinturas rupestres que foram reproduzidas em desenho por ele e posteriormente se tornaram importantes ao serem estudadas por historiadores da Pré-história. O afresco rupestre conhecido 
como Dama branca, por exemplo, ganhou grande notoriedade.

Em 1923, ele veio ao Brasil contratado pela Companhia de Mineração e Colonização Paranaense. Radicou-se em Curitiba, mas continuou fazendo expedições pelo mundo em razão de seu interesse pela história geológica 
da Terra. Voltou à Alemanha algumas vezes para estudar – em 1949, aos 57 anos, recebeu o título Rer. Nat. (doutor Rerum naturalium) com o trabalho sobre a glaciação gondwânica do Carbonífero Superior apresentado na Universidade de Bonn.

No Paraná Maack teve atuação marcante. Explorou rios como o Tibagi e o Ivaí, determinou a altura do 
pico do Paraná – batizado e escalado por ele –, publicou o mapa geológico e fitogeográfico do estado e foi crítico de primeira hora da destruição das florestas.Também sofreu reveses: por ser alemão, foi encarcerado no presídio da Ilha Grande, no Rio, durante a Segunda Grande Guerra. Em 1946 tornou-se professor na Universidade do Paraná, atual UFPR. Sua obra mais conhecida é A geografia física do estado do Paraná.

“Maack defendia a teoria de Wegener e viajou muito para comprová-la”, diz João José Bigarella, professor catedrático da UFPR, que trabalhou com o alemão. “Os norte-americanos sempre duvidaram dela, mas mudaram de posição no final da década de 1950 com as novas descobertas que surgiram.” A ideia central de Wegener – de que todos os continentes estiveram unidos num tempo remoto – só seria amplamente aceita a partir dos anos 1960.


Nenhum comentário:

Postar um comentário