Blog do Observatório
Nossa galáxia, a Via Láctea, é uma galáxia do tipo espiral. Este fato já era conhecido faz tempo e mais recentemente, lá pela década de 1980, foi encontrada a evidência de uma barra no seu centro. Essa evidência se confirmou e hoje classificamos a Via Láctea como uma espiral barrada. Mas por incrível que pareça não sabemos ao certo qual o tipo morfológico da nossa própria galáxia!
Pense no seguinte: como fazer um mapa da sua cidade sem poder sair do seu quarto? A única visão que você tem da cidade é pela janela e só, nada de Google Earth, sobrevoos, fotos de satélite ou passeios de balão. O problema em mapear a nossa própria galáxia é essencialmente esse: a gente só a enxerga a partir de seu plano.
Uma das minhas linhas de pesquisa é justamente tentar obter um mapa de nossa galáxia que possa ao menos dizer se ela é uma espiral com 2 ou 4 braços. Sim, nem isso temos certeza; sempre se admitiu que a Via Láctea tivesse 4 braços, mas resultados recentes (inclusive os nossos) apontam para apenas 2.
Saiu na quarta-feira (14) na Nature, uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo, um artigo muito interessante sobre a formação dos braços espirais da Via Láctea. Apesar de não falar nada a respeito do número deles, a explicação sobre sua origem pode dar pistas adicionais sobre a quantidade de braços dela.
De acordo com simulações em computadores feitas por pesquisadores da Universidade de Irvine, nos Estados Unidos, o padrão espiral da Via Látea foi criado por duas colisões da galáxia anã de Sagitário. No último post, eu disse que a nossa galáxia possui um séquito de galáxias que a acompanham – no total são 12.
Apesar de ser uma galáxia anã, a galáxia de Sagitário possuía muita matéria escura. Logo no primeiro impacto, entre 80 e 90 % desse material foi tragado pela Via Láctea. A grande força gravitacional da nossa galáxia fez com que a galáxia anã fosse se desintegrando aos poucos, deixando rastros de estrelas pelo caminho.
O primeiro impacto foi tão violento que teria causado instabilidades gravitacionais que foram amplificadas e formaram os braços e estruturas em forma de anéis nas partes mais externas da nossa galáxia. Hoje, a galáxia de Sagitário se parece muito mais com um aglomerado globular de estrelas sem gás ao seu redor do que uma galáxia propriamente dita. Ainda de acordo com essas simulações, uma nova colisão deve ocorrer nos próximos 10 milhões de anos, quando a galáxia de Sagitário deve atingir a face sul da Via Láctea.
Um filminho mostrando os resultados dessa simulação pode ser visto aqui.
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