9 de jul. de 2010

FENÔMENO SOLAR

O Globo - 07/07/2010

Primeiro eclipse total do Sol este ano só será observado da Ilha de Páscoa

Renato Grandelle

RIO - Enquanto o planeta estiver se preparando para assistir à final da Copa da África do Sul, no próximo domingo, 4 mil pessoas só terão olhos para o céu na Ilha de Páscoa, no meio do Oceano Pacífico. A ilha, situado a 3.700 quilômetros da costa chilena, é o único reduto em terra firme onde será possível acompanhar o primeiro eclipse total do Sol este ano. A expectativa é de que o fenômeno, que terá duração de 4 minutos e 45 segundos, possibilite medições mais exatas do diâmetro solar.

Quatro pesquisadores do Observatório Nacional já chegaram à ilha, e agora dedicam-se à escolha dos melhores lugares para acompanhar o eclipse - a equipe não quer ser prejudicada por problemas climáticos que atrapalhem os trabalhos, como a ocorrência de nuvens. Na bagagem do grupo está um heliômetro, equipamento em operação há sete meses que fornece imagens de alta precisão do diâmetro solar.

- Usamos o equipamento para monitorar diariamente o diâmetro do Sol. É possível conhecê-lo definindo dois pontos extremos e, depois, analisando a velocidade de rotação da Terra. Esta é a velocidade que o Sol vai demorar para passar de um ponto para o outro - explica Jucira Penna, astrônoma do Grupo de Instrumentação e Referência em Astronomia Solar, vinculado ao Observatório. - O eclipse nos possibilita uma medida mais precisa do diâmetro.

Diversas perguntas relacionadas ao Sol não encontram mais do que pontos de interrogação entre os astrônomos. Não há consenso sobre o diâmetro do corpo celeste, embora todos saibam que este tamanho é variável. E por que é assim? Ninguém sabe.

Um grupo científico internacional dedica-se a pesquisar o clima espacial, os eventos que se encaixam na interface entre Sol e Terra. Eventuais transformações na radiação solar, por exemplo, provocam reflexos em áreas totalmente distintas, como a transmissão de energia, as telecomunicações, a vazão de rios e até as mudanças climáticas. Além de medir o diâmetro solar, a equipe brasileira também espera comprovar experimentalmente certos princípios da Teoria da Relatividade de Einstein, que ganhou notoriedade após um eclipse em Sobral, no interior cearense, em 1919.

- Apesar de a teoria já ter sido confirmada naquela ocasião, queremos observar o desvio da luz de uma estrela ao passar perto de uma grande massa: no caso, o Sol - diz Jucira. - Escolhemos uma estrela já muito estudada, integrante da constelação de Escorpião, para fazer esta experiência.

Medições chegarão à Ilha de Trindade

Antes do heliômetro, o Observatório Nacional contava apenas com um astrolábio, que faz medições diárias do Sol desde 1997. O velho equipamento será mantido em operação por mais dois anos.

O Observatório também prepara o desenvolvimento de um segundo heliômetro, cuja base será a Ilha de Trindade, a cerca de 1.200 quilômetros de distância do litoral brasileiro.

- Na ilha trabalharemos com condições climáticas completamente distintas. Por estar totalmente fora de centros urbanos, teremos menos turbulência e maior nitidez do céu - compara Jucira.

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