Geofísica Brasil
Sismologia
Vigilância de terremotos
À primeira vista, monitorar a atividade sísmica no Brasil pode parecer um esforço desnecessário. Afinal, o país tem a sorte de estar localizado em uma região que não tem grandes problemas com tremores de terra. Por que, então, centros de pesquisa nacionais estão se lançando em um esforço para fazer uma rede nacional justamente com esse fim?
A resposta mais simples é que a observação de terremotos não é a única função de uma estação sismológica. A mais complexa é que avaliar as ondas mecânicas que se propagam nas rochas durante esses eventos pode permitir aos cientistas desvendar a composição e a estrutura das camadas da Terra.
“Na realidade, a sismologia é quem fornece as maiores evidências que temos sobre o interior do planeta”, diz o geólogo João Carlos Dourado, pesquisador do Instituto de Geociências e Ciência Exatas (IGCE) da Unesp em Rio Claro, onde desde 2002 opera uma estação de monitoramento sismográfico.
O laboratório foi um dos primeiros a integrar, em 2010, o novíssimo Projeto Brasis, iniciativa que pretende unificar estações existentes no país e construir novas. Segundo o coordenador, Marcelo Assumpção, professor do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP), a expectativa é que até 2014 estejam integradas mais de 95 estações, dentre as quais apenas cinco já existiam.
Com o projeto, quatro grandes instituições de pesquisa geológica do país ficarão encarregadas da coordenação. A UnB (Universidade de Brasília) cuidará de 30 estações, a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) de 25, o ON (Observatório Nacional), de 20 estações, e o IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, da USP) coordenará 20 delas, incluindo a de Rio Claro.
“É um projeto de muita valia para o país”, afirma Tereza Higashi, professora aposentada da Unesp de Presidente Prudente e atualmente colaboradora do IAG. Segundo ela, além de permitir uma melhora nos sistemas de alerta de tremores e tsunamis, uma rede de monitoramento em tempo real, como a que está sendo implementada, também tem a grande utilidade econômica de fornecer informações sobre as riquezas subterrâneas do país.
A sismologia trabalha com a propagação de ondas geradas por abalos naturais, que ocorrem devido à movimentação das placas tectônicas que compõem a litosfera do planeta. Essas placas, segundo Dourado, deslocam-se, ainda que muito lentamente, devido a correntes de convecção – uma forma de propagação do calor em meios não sólidos – na astenosfera, camada localizada logo abaixo da crosta terrestre que contém materiais semissólidos. Isso acaba gerando tensões nas rochas da superfície terrestre, que eventualmente se rompem e causam os tremores de terra.
Os maiores terremotos registrados são causados por movimentos convergentes, ou seja, aqueles em que duas placas se deslocam uma em direção à outra. “Localmente, um terremoto é um prejuízo e provoca danos, mas ao menos ele acaba servindo como uma ferramenta não invasiva que a sismologia pode usar para determinar características das profundezas do planeta”, explica Tereza.
E apesar de o Brasil ficar bem no centro da placa Sul-Americana, o que o deixa bem menos sujeito (mas não imune) a tremores, as estações no país podem captar fenômenos que ocorram em todo o planeta. O potencial é tanto, que interessou à Petrobras. O projeto conta com um financiamento de R$ 20 milhões da empresa – número que, de acordo com o coordenador do projeto, está sendo revisto para viabilizar a ampliação de 67 estações previstas para as 95 aprovadas.
“Como as ondas caminham por todas as camadas da Terra, elas radiografam os locais por onde passam, devido às características específicas que adquirem em cada tipo de meio de propagação. Isso interessa muito para a ciência dos terremotos e também para a Petrobras, que não necessariamente precisa realizar uma perfuração para entender o que há em determinadas regiões”, complementa a pesquisadora.
Em sua livre-docência, Dourado usou dados fornecidos pela estação de Rio Claro para determinar a espessura média (cerca de 42,3 km) e descrever a composição da crosta terrestre do planeta na região. O resultado foi publicado na Revista Brasileira de Geofísica, em 2007.
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