Folha de São Paulo
ArXiv, plataforma que surgiu para debater física, ganha cada vez mais espaço e já tem mil novos artigos por mês.
Site é usado hoje como um espaço para debate científico mais ágil e com livre acesso; textos são apenas de exatas.
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
MARCO ANTONIO VARELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O físico Nikodem Poplawski, da Universidade de Indiana, EUA, defende que um enorme buraco negro teria dado origem ao Universo.
Boa parte dos trabalhos em que ele descreve sua teoria não está em revistas científicas, mas no ArXiv (http://arxiv.org/), um tipo de rede social para debates científicos que está fazendo 20 anos.
O "Facebook da ciência" surgiu como um espaço de interação para físicos que trabalhavam com alta energia.
"A ideia era simplificar o intercâmbio dos manuscritos inéditos entre pesquisadores", explicou o físico Paul Ginsparg, criador do ArXiv, em uma "Nature" de agosto.
Hoje, o ArXiv tem mais de 700 mil artigos publicados em áreas como física, matemática e estatística.
São cerca de mil artigos depositados por mês -o dobro da média mensal de 2005. E aproximadamente 400 mil usuários fazem download dos textos por semana.
Os artigos do ArXiv são prévias de textos aprovados por revistas científicas (os "pre-prints") ou estudos que aguardam aprovação. Mas a repercussão é bem maior.
De acordo com Poplawski, seus trabalhos publicados no ArXiv (são 38 até agora) tiveram muito mais "barulho".
"Recebo muitos e-mails de cientistas interessados no meu trabalho, inclusive com críticas e comentários", diz.
MAIS ÁGIL
Os textos do ArXiv são gratuitos, publicados assim que o autor os posta e podem ser debatidos sem restrições.
"Em áreas experimentais, como a física, a publicação no ArXiv funciona bem e é mais ágil", diz Poplawski.
Nas revistas científicas, a aprovação de um artigo pode levar até dois anos, desde o recebimento do texto.
Além da agilidade, o acesso livre aos trabalhos é um dos grandes atrativos. Para o físico Piotr Trzesniak, da Universidade Federal de Itajubá, defensor do acesso livre, o ArXiv ganhou força também por causa dos preços exorbitantes das revistas científicas.
Quando o sistema surgiu, uma assinatura anual de uma revista custava, em média, o preço de um carro popular.
"As editoras comerciais foram se apossando dos meios de transmitir e difundir a informação científica", diz.
O movimento ArXiv, no entanto, ainda não chegou a outras áreas, como as ciências humanas e biológicas.
"Não sei se chegará. Os cientistas preferem ler um artigo que tenha passado por peer-review [revisão de pares], a terem que eles próprios de fazer uma seleção numa base livre", explica Rogério Meneghini, coordenador científico do projeto SciELO.
No Brasil, o SciELO (www.scielo.br/), plataforma que tem cerca de 230 revistas científicas nacionais e estrangeiras com acesso aberto, é o mais próximo do ArXiv.
Mas o modelo de submissão de artigos é o "tradicional", com revisão por pares.
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