Folha de São Paulo 27/01/2011
MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO
O artigo sobre geleiras da Groenlândia na atual edição da "Nature" de hoje constitui um bom exemplo das complexidades envolvidas nas previsões climáticas.
O trabalho científico é um exemplo, também, da dificuldade de apresentar ao público resultados incrementais da pesquisa.
À primeira vista, o estudo tira força da ideia de que o aquecimento global esteja acelerando a contribuição do gelo groenlandês para a elevação do nível dos mares.
O raciocínio era plausível. Com a atmosfera mais quente, ocorre mais derretimento na superfície. O líquido adicional fica disponível para penetrar por fendas até a base da geleira e lubrificar seu escorregamento.
Agora se sabe, graças ao grupo britânico e belga, que o fenômeno comporta um efeito de limiar.
Até um certo ponto de aquecimento, o derretimento superficial provoca aceleração. A partir desse ponto, a água passa a escoar melhor, sem lubrificar a base da geleira. Menos blocos gigantes de desprendem.
Isso não significa que seja nulo o efeito sobre a geleira groenlandesa. Algum aumento de temperatura de fato acelera sua ruptura.
O que foi posto em dúvida pelo estudo -até que novas pesquisas o confirmem ou refutem- é a hipótese de que o aumento contínuo de temperatura vá produzir uma perda linear de massa de gelo, sempre crescente.
Com esse conhecimento, os modelos de computador para predizer o comportamento do clima serão aperfeiçoados. Mas é importante registrar que o estudo não abala a constatação de que a Groenlândia está, de qualquer forma, perdendo mais gelo do que acumula.
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