O Estado de S.Paulo - 16/01/2011
Alexandre Gonçalves
Cientistas brasileiros ingressaram na corrida para tornar economicamente viável a produção de combustível extraído de algas microscópicas. Na opinião dos pesquisadores, recursos escassos e equipes que atuam de forma solitária ainda constituem obstáculos para avanços na área.
O desafio é imenso. Só não supera as promessas. De todas as fontes de biocombustíveis, nenhuma oferece produtividade tão grande. Das plantas superiores - com raiz, tronco e folhas -, a melhor opção para produção de óleo - e, depois, biodiesel - é o dendê: cada hectare produz 4,4 mil litros por ano. Algumas microalgas produzem até 90 mil litros em idêntica área e no mesmo período: 20 vezes mais.
E as vantagens não terminam aí. Há microalgas que apreciam águas salobras ou águas com resíduos. O uso de tais microrganismos aliviaria a demanda por água doce e limpa, que costuma ser alta em culturas convencionais para produção de biocombustíveis, como soja e cana.
Além disso, regiões como o semiárido brasileiro poderiam encontrar sua vocação econômica com fazendas de microalgas. Não haveria desperdício de solo - pouco produtivo na região - e haveria luz de sobra para a fotossíntese das algas. O lençol freático de água salobra forneceria o meio de cultivo. Por fim, as microalgas são ótimos fixadores de carbono, contribuindo para atenuar o aquecimento global.
Contudo, os problemas começam cedo. Pouca gente aposta que a alternativa se tornará viável em menos de uma década. Há inúmeros desafios técnicos: otimização de fotobiorreatores - onde as algas são cultivadas -, desenvolvimento de processos baratos para separar microrganismos da água, identificação de espécies promissoras para cultivo... E com o barril do petróleo custando menos que R$ 150, é difícil tornar viáveis economicamente fontes alternativas de energia, o que retarda de forma significativa a pesquisa.
O biólogo Sergio de Oliveira Lourenço, da Universidade Federal Fluminense (UFF), é um dos cientistas brasileiros que há mais tempo estuda o tema. Ele acredita que será muito difícil competirmos de igual para igual com outros países, que aplicam montantes significativamente maiores em pesquisa. "Mesmo assim, é muito importante continuar investindo", afirma Lourenço. "Para, no futuro, contarmos com o conhecimento necessário para, no mínimo, assimilarmos a tecnologia e não nos tornarmos um mero fornecedor passivo de áreas boas para o cultivo."
Um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ofereceu R$ 4,5 milhões para ser gasto em dois anos por dez grupos.
A engenheira química Ofélia Araújo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considera os investimentos no setor tímidos. Ela acredita que fundos setoriais de empresas químicas e de energia deveriam ser usados. "Elas são as maiores beneficiadas por avanços nessa área", pondera. Termelétricas, por exemplo, poderiam utilizar o gás carbônico produzido na queima do combustível para o cultivo de microalgas. Dessa forma, transformariam resíduo em produto.
João Carlos Monteiro de Carvalho, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, já criou um protótipo para testar uma ideia semelhante. Ele coordenou uma pesquisa para reaproveitar o dióxido de carbono produzido pela fermentação alcoólica em usinas sucroalcooleiras. O gás é canalizado para ser consumido por organismos como microalgas e cianobactérias. O projeto, financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), poderia fixar 20,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono produzidas todos os anos pela fermentação da cana em São Paulo.
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