O Globo - 12/01/2011
Seriam necessárias 500 mil TVs HD para imagem ser vista em resolução máxima
O projeto internacional Sloan Digital Sky Survey (SDSS) divulgou ontem a maior e mais detalhada imagem colorida do Universo já feita. Montada na última década a partir de milhões de imagens de 2,8 megapixels cada, ela é tão grande que seriam necessários 500 mil aparelhos de TV de alta definição para ser vista em resolução máxima. A imagem faz parte da liberação do terceiro bloco de dados do SDSS, com informações sobre cerca de meio bilhão de objetos celestes, dos quais aproximadamente 250 milhões são galáxias e outros 250 milhões são estrelas e outros astros distribuídos em cerca de um terço do céu.
O levantamento do SDSS visa, entre outros objetivos, a substituir o mais completo mapa do céu anterior, montado nos anos 50 a partir de observações do telescópio do Monte Palomar, na Califórnia, e ainda hoje usado pelos astrônomos. O mapa do SDSS está sendo construído com imagens captadas desde 1998 por uma câmera de 138 megapixels instalada em um telescópio com um espelho de 2,5 metros de diâmetro no Observatório de Apache Point, no estado americano do Novo México. Os cientistas esperam que este mapa sirva de guia para os astrônomos por um período de tempo equivalente ao do telescópio de Palomar.
- Não se pode estudar o que não se conhece - explica o físico Luiz Nicolaci da Costa, do Observatório Nacional e diretor do Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LineA), parceria da instituição com o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) que coordena a participação brasileira no SDSS. - Este levantamento vai proporcionar um mapa do Universo a partir do qual se poderá estudar diferentes classes de objetos. Quanto maior o volume de dados que se tem, maior a chance de se achar objetos raros.
O grupo do LineA é apenas um dos 20 que colaboram com o SDSS e contam com mais de 500 cientistas espalhados por diversos países. Além deles, o SDSS conta com a participação de 250 mil internautas para ajudar a identificar os objetos observados por meio dos projetos Galaxy Zoo e Google Sky.
Dedicado exclusivamente ao projeto, o telescópio de Apache Point não só determina a posição dos objetos no céu como também recolhe dados do espectro deles, em um processo no qual sua luz é separada em diferentes comprimentos de onda. Essa informações ajudam a calcular sua distância da Terra, assim como propriedades como a temperatura e composição química das estrelas e galáxias.
- É um projeto muito ambicioso e um dos que mais mudou paradigmas na astronomia internacional nas últimas décadas - conta Nicolaci, que destaca entre as descobertas já proporcionadas pelo SDSS a de alguns dos quasares (núcleos ativos de galáxias que acredita-se abrigarem buracos negros supermaciços) mais distan$do Universo e de milhares de estrelas muito frias, que são conhecidas como anãs marrons.
Telescópio detecta aglomerados de galáxias
Enquanto isso, a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) divulgou ontem novos dados obtidos pelo seu observatório espacial Planck, que tem como objetivo capturar a luz emitida apenas algumas centenas de milhares de anos após o Big Bang, a explosão que teria dado origem ao Universo a 13,7 bilhões de anos atrás, conhecida como Radiação Cósmica de Fundo (CMB, na sigla em inglês). Ao fazer este levantamento, o Planck detectou algumas das maiores estruturas conhecidas no Universo, aglomerados de galáxias com dezenas de milhões de anos-luz de extensão. Segundo a ESA, o observatório captou pelo menos 20 dessas estruturas que antes eram desconhecidas, assim como confirmou a existência de outros 169 destes aglomerados.
- Esses aglomerados têm até cem galáxias, e cada um destas galáxias, bilhões de estrelas - diz Nabila Aghanim, astrônomo do Instituto de Astrofísica Espacial de Orsay, na França.
Os aglomerados foram detectados no processo de "filtragem" da luz captada pelo Planck, em que os cientistas descartam informações que não sejam relativas à CMB.
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