10 de jan. de 2011

Pesquisadores criticam bactéria "ET" da Nasa


Folha de São Paulo - 20/12/2010

Agência espacial diz que não se manifestará sobre críticas à metodologia

Comunidade científica levanta possibilidade de contaminação do material e pede mais testes nas amostras

Lago Mono, na Califórnia, onde a bactéria foi descoberta
[Henry Bortman/Divulgação] 



SABINE RIGHETTI
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO


Boa parte da comunidade científica internacional tem reagido com ceticismo e até raiva ao anúncio da bactéria "ET" feito pela Nasa no dia 2 de dezembro.

Na ocasião, a agência espacial anunciou a descoberta de uma bactéria que substitui o fósforo -um dos seis elementos considerados essenciais à vida- pelo arsênio. A mudança chegaria até ao DNA do mirco-organismo.

Foram tantas cartas com comentários técnicos, algumas assinadas por grandes nomes da ciência, recebidas pela "Science", responsável pela publicação do trabalho, que a revista decidiu editar um novo artigo com uma espécie de revisão da pesquisa.

Até que ele fique pronto, a revista tem publicado alguns flashes com comentários na sua edição online "com o objetivo de facilitar a compreensão da pesquisa".

Encontrada no lago Mono, na Califórnia, a bactéria foi submetida em laboratório à privação de fósforo, em condições similares às extraterrestres. Nesse ambiente, o estranho micro-organismo sobreviveu e se multiplicou.

O debate gira em torno de duas principais questões: possibilidade de contaminação do meio de cultura e necessidade de mais testes.

Conforme as críticas, o ambiente do laboratório poderia estar contaminado por fósforo- o que faria com que a bactéria sobrevivesse.

Outra possibilidade é que algumas bactérias estivessem incorporando fósforo de outras que morreram no meio de cultura.

"Críticos dizem que não foram feitos experimentos simples que poderiam mostrar além de qualquer dúvida que o fósforo do DNA realmente foi substituído por arsênio", disse Leandro Tessler, físico da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).



AUÊ DEMAIS

Acostumado a lidar com controvérsias científicas, Tessler diz que o fato do arsênio substituir o fósforo seria uma novidade importante. "Mas daí a sugerir que essa forma de vida tem origem extraterrestre é um longo caminho", analisa.

Outro ponto nevrálgico da discussão é à forma como a Nasa anunciou a novidade, com coletiva de imprensa e menção à vida extraterrestre.

"A Nasa vem buscando justificativas para sua existência", analisa Tessler.

De fato, a agência espacial sofreu cortes de orçamento, anunciados em fevereiro, e parece que continuaria mal das pernas na "Era Obama".

Para Tessler, o trabalho de Felisa Wolfe-Simon, autora do estudo, teria pouca repercussão se não fosse o barulho feito pela Nasa. "Mas ela é vítima ou cúmplice?", questiona. É a dúvida que fica no ar.



POLÊMICAS SOBRE A BACTÉRIA DA NASA



O que os cientistas da agência espacial americana encontraram?

Em um lado gelado da Califórnia, nos EUA, pesquisadores acharam uma bactéria capaz de incorporar no seu DNA um elemento tóxico que não deveria fazer parte da química da vida: o arsênio. Segundo a Nasa, ele substituiria o fósforo -que é considerado um dos seis elementos essenciais à vida, junto com carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e enxofre



Como foi feito o anúncio da descoberta?

Sem dar muitas explicações, a Nasa divulgou uma nota oficial avisando que anunciaria em breve uma "descoberta que teria impacto na busca de provas sobre a vida extraterrestre". Durante dois dias, houve muitas especulações. Um dos boatos dizia que a agência espacial teria encontrado sinais de existência de vida em Titã, o maior satélite de Saturno



Por que a comunidade científica está reclamando dos resultados?

Os pesquisadores afirmam que o ambiente onde foi feita a pesquisa não era livre de fósforo (havia risco de contaminação). Também existiria a possibilidade de algumas bactérias estarem se alimentando do fósforo de outras que morreram no meio de cultura. Fora isso, os cientistas da Nasa não teriam feito testes suficientes para acompanhar a incorporação do arsênio, além de um suposto "marketing exagerado" da agência espacial quando foi anunciar a descoberta



Como a Nasa responde às críticas à pesquisa?

A agência espacial americana se recusa a discutir com os cientistas e afirmou que só debaterá via artigos científicos

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